Seu problema é nosso
Quem tem fome tem pressa: Associação Cozinha das Pretas fornece comida nutritiva para comunidade no Rubem Berta
Projeto é realizado dentro de um contêiner e precisa de doações para aprimorar sua estrutura.
É a partir de um contêiner, localizado no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, que mulheres negras ajudam uma comunidade inteira. Criado há um ano e meio como uma ação social que realizava eventos esporádicos para as crianças — na Páscoa, Festa Junina e Natal —, o grupo Negritude se transformou em Associação Cozinha das Pretas durante a enchente.
A presidente da iniciativa, Ana Paula da Silva, 40 anos, conta que essa mudança começou quando um amigo lhe deu a ideia de atuar no momento de calamidade. A estrutura, porém, era precária, com a cozinha improvisada no meio da rua.
Após o período de cheia, Ana Paula resolveu continuar o projeto, agora com uma parceria com o sistema de saúde municipal.
— O Grupo Hospitalar Conceição abraçou o projeto, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) também. Me convidaram, inclusive, para ir na reunião do G20, no Rio de Janeiro e, assim, fui criando contatos e outros vínculos — relata a presidente.
Em outubro, a CUT, em parceria com o movimento A Fome Tem Pressa e com o apoio da comunidade, doou um contêiner para o projeto, o que resultou em uma nova estrutura para a cozinha. Atualmente, a iniciativa produz mais de mil marmitas por semana, que são distribuídas no bairro, e precisa de doações e serviços para organizar o espaço:
— A gente recebeu a doação do contêiner, cada um da comunidade deu um pouquinho. Então, fizemos o piso, ganhamos da CUT o poste de luz e estamos na luta pra ver se conseguimos uma parceria para construção do banheiro, da porta, do teto solar.
Mais saudável
A parceria com o posto de saúde da região trouxe uma visão estrutural sobre a importância da alimentação saudável na vida das mulheres e, por consequência, da atuação da Cozinha das Pretas. Isso porque uma das formas de reduzir o risco de endometriose (doença em que os tecidos uterinos crescem fora do órgão, causando dor e sangramentos) é comer bem. Assim, contribuir com o desenvolvimento de uma rotina alimentar com nutrientes virou um dos principais objetivos do projeto.
No que diz respeito à saúde feminina, a gestante Andressa Cardoso Ribeiro entende bem a importância do projeto. Quando procurou o posto de saúde, foi orientada a conhecer o Cozinha das Pretas para ter uma alimentação mais equilibrada, já que sua gravidez é de risco. Lá, além de ser ajudada, começou a fazer voluntariado, auxiliando nos preparos.
— Sou obesa e para quem não tem condições financeiras é complicado ter a dieta balanceada. Por isso, só tenho a agradecer — relata Andressa.
O lema do projeto é “quem tem fome tem pressa”, o que reflete a importância de fornecer comidas com afeto e qualidade três vezes por semana.
— É gratificante ser ajudado e ajudar. É um auxílio interno que o povo precisa diariamente — finaliza Andressa.
*Produção: Elisa Heinski