Papo Reto
Manoel Soares: "Bolsa de sentimentos"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados


Se existisse uma bolsa de valores dos sentimentos, a expectativa é como se fosse uma grana que colocamos antes de ter certeza se um negócio vai vingar. Ninguém tem a mínima obrigação de ser aquilo que nós gostaríamos que fosse. Às vezes, achamos que a gratidão, por exemplo, é uma obrigação, mas não é: ser grato é uma decisão de cada um. Alguns optam por não serem gratos, por mais que isso diga muito sobre o caráter dessa pessoa e mostre que ela talvez não fosse merecedora de nossos esforços. Cabe pensar também que se a falta de gratidão dessa pessoa nos afeta tanto, é porque nosso ato estava baseado também em nossa necessidade de ser aceito que querido por outros.
A frustração de nossas expectativas é o argumento perfeito para que nossa raiva, rancor, mágoa, ou até mesmo violência ganhe espaço em nossos atos. Muitas pessoas que hoje acreditam ter direito de fazer maldade aos outros se baseiam em suas decepções pessoais, suas frustrações e traumas vividos por não receberem aquilo que acreditavam merecer. As injustiças existem, as pessoas sem gratidão também, porém, a questão é como vamos reagir a tudo isso. Vale a pena envenenar nossa alma com o rebote das atitudes de quem não nos valoriza ou não nos respeita?
Frustração
Depois de alguns anos, entendi que quando minhas expectativas foram frustradas é porque acreditei em um milagre que não tinha chance de acontecer, achei que eu era importante para pessoas que não estavam nem aí para mim, e este erro de avaliação não era da pessoa, era meu. A raiva que sentimos quando algo não está acontecendo como planejamos ou gostaríamos, não é somente do fato ou da pessoa, mas também de nós mesmos, que agimos como crianças que acreditam em mágica e não como adultos que avaliam a realidade e fazem cálculos de probabilidade real.
Na bolsa de valores dos sentimentos, quando investimos em algo que não dá retorno, pagamos com tristeza e a frustração é o juros.