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Só se fala noutra coisa

Guri de Uruguaiana comenta sobre a sua infância: "No passado, a gente se estrebuchava brincando!"

23/02/2019 - 10h00min


Fabrício Eckhard / Divulgação
Jogo de taco? Deixa comigo, vivente!

Buenas, chê! Nesta semana, chegou ao fim o período de férias escolares para boa parte dos colégios, e eu estava refletindo como isso era diferente na minha infância. Antigamente, a mãe gritava: “Guri, passa já pro teu quarto. De castigo!”. Hoje em dia, é assim: “Guri, sai desse quarto! Pelo amor de Deus, vai brincar na rua.”. Que barbaridade! 

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As crianças, hoje, não têm nem anticorpos. No passado, a gente se estrebuchava brincando! Arrancava até o tampão do dedo jogando bola descalço e pegava bicho de pé! 

Agora, com oito anos de idade, a criança já coleciona seguidores no Instagram. No meu tempo, nessa idade, colecionava hematomas. 

Mas o que mais mudou foram as brincadeiras. Hoje, as crianças só querem saber de joguinhos no celular, na internet e no videogame. Antigamente, a gente passava as férias jogando taco, brincando de esconde-esconde, batendo bola e louqueando ao ar livre. 

Fabrício Eckhard / Divulgação
Soltar pipa dá um trabalho do cão. Mas vale a pena, chê!

Bons tempos

Outra coisa: as crianças modernas não têm paciência para nada, querem tudo pronto. Quando eu era pitoco, a gente passava o dia inteiro fazendo uma pipa e, depois, tomava um suador para vê-la levantar voo. Aí, cinco minutos depois, arrebentava a linha… e lá se ia o trabalho de horas e horas. A minha infância, sim, que era bagual! 

Fabrício Eckhard / Divulgação
Chê, tem certeza desse pedido?

Causos da Fronteira

O gaudério entra no Bolicho do seu Alaúde e se escora no balcão: 

– Tchê! Me vê três doses de cachaça!

O seu Alaúde estranha o pedido, mas serve o vivente, que vira as três doses na sequência.

No outro dia, no mesmo horário, o gaudério repete a cena. E, assim, todos os dias da semana, religiosamente. 

Em um dia, curioso, o seu Alaúde pergunta: 

– Sem querer ser intrometido, mas, todo dia, tu vens aqui, no mesmo horário, e bebes três doses de pinga. É um ritual, ou coisa assim?

– É que eu tenho dois irmãos. Eles se mudaram para São Paulo. Aí, eu bebo a minha cachaça e mais duas, uma para cada irmão. 

Passaram-se os dias, e sempre a mesma cena ocorria. Até o gaudério surpreendeu: 

– Tchê! Me vê duas cachaças! 

– Ué, duas? Bah! Meus pêsames! Tu perdeste um dos teus irmãos?

– Capaz! Não é isso! 

É que eu parei de beber!

Reprodução / Reprodução



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