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"É necessário muito diálogo", diz César Oliveira, adido cultural do RS, sobre avanços na cultura gaúcha 

 Cantor, compositor e ativista cultural faz um balanço dos primeiros meses no cargo e defende que a tradição deve andar de mãos dadas com o turismo. 

16/03/2020 - 17h43min

Atualizada em: 16/03/2020 - 17h49min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Desde janeiro, quando recebeu o título de adido cultural do Rio Grande do Sul do governador Eduardo Leite, César Oliveira, que faz dupla com Rogério Melo, vem percorrendo o Estado com um objetivo: defender a cultura e as tradições do Rio Grande do Sul, mas, ao mesmo tempo, tentando buscar avanços para o setor. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Nativista também é vice-presidente do MTG

Nesta entrevista, César, um dos mais intensos ativistas culturais do Estado, faz um balanço dos primeiros meses após ter recebido a honraria, que lhe permite representar o governador nos mais diversos eventos, e que lhe dá papel de protagonismo em discussões que podem alavancar a cultura. Entre as principais ideias, ele defende que a tradição deve andar de mãos dadas com o turismo. 

Que balanço tu fazes dos primeiros meses como adido cultural?

Desde o começo, eu comentava que, para cumprir essa missão, precisava ter trânsito em vários setores. E isso está acontecendo. Mas eu falaria em três pontos: liberdade, turismo e cultura. Nesses primeiros meses, estou articulando, tentando trazer verbas para a cultura gaúcha, venho tentando ligar muitas pontas, fazendo leituras e diagnósticos. 

Aqui, a gente não consegue nem colocar o Laçador num lugar digno

E esses diagnósticos também envolvem o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), do qual sou vice-presidente Administrativo e de Finanças. O MTG é um patrimônio cultural. E acredito que o gauchismo que é representado, em parte, pelo MTG, deixou de ser atrativo. Temos que voltar a ser populares. Estávamos sem manutenção. Devemos evoluir sem perder a nossa identidade.


Como fazer isso?

Fomentando a cadeia produtiva que temos na cultura, usando a identidade do gaúcho. Fazer com que o gaúcho projete condições de gerar receita por meio da indústria da cultura e do turismo, que é pouco desenvolvido no Rio Grande do Sul quando se fala em identidade do gaúcho. No Nordeste, por exemplo, eles geram receita com a cultura. Lá, as principais atividades não têm relação com a soja ou com o gado, como aqui, por exemplo. Então, eles tiveram que desenvolver a cultura para que ela gerasse receita. Aqui, a gente possui uma cultura tão rica que não é explorada. No Nordeste, eles têm as famosas quadrilhas em festas juninas, não é? E os dançarinos dessas quadrilhas sustentam famílias. Aqui, quem dança em CTG tem que pagar para isso. Lá, transformaram o Lampião, que era um bandoleiro, em um mito, e vendem o Lampião para o mundo inteiro. 

Aqui, a gente não consegue nem colocar o Laçador num lugar digno, para que ele seja visitado, projetado e explorado. Isso tudo gera turismo, é uma receita limpa, um dinheiro que flui. Temos vinhos, boa gastronomia. Mas não temos quem venda. E quem vende é o gaúcho, assim como a baiana vende os produtos da Bahia, por exemplo, enquanto representante cultural. 


Tu defendes a cultura como um todo e és um cara originário da música. Como ela ajuda nesse processo?

Dentro dessa cadeia, a música é fundamental, ela rege as danças, embala as festas, está em todos os lugares. A música é um cartão de visita que não tem fronteiras. E, dentro da cadeia musical, especificamente, temos que fazer com que a classe musical se beneficie mais das leis de incentivo, por exemplo. Tu tens que ligar política, economia e cultura. A cultura, em momentos de crise, sempre salvou muitos países. E acredito que vivemos um momento de crise, e acho que a cultura pode nos salvar. 


Os CTGs têm um papel importante na nossa cultura. Onde eles entram nos teus planos?

Devemos criar condições para que os CTGs tenham sustentabilidade, que mudem, comecem a dialogar, se comunicar, para que o mundo tradicionalista não seja de propriedade de poucas pessoas. Que ele volte sua mentalidade para a sociedade, e atraia a sociedade. É necessário muito dialogo.


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