Quando é para acontecer, o destino dá conta do recado. É nesse ritmo que a dupla Augusto & Rafael, de Dois Irmãos, no Vale do Sinos, vem vivendo os últimos meses. Na estrada desde 2016, os amigos Augusto Knob, 27 anos, e Nicolas Rafael Schaab, 24, sempre tiveram o sertanejo como principal foco, sonhando em serem reconhecidos nacionalmente um dia. Esse momento chegou! Uma união de esforços fez com que a música Dona Chica entrasse para a lista das mais ouvidas do Brasil. Agora, colhendo os frutos da conquista, eles mantêm os pés no chão e seguem na batalha para chegar ainda mais longe. 

— Agora é trabalhar, fazer música boa. Dinheiro não está na nossa escala de prioridades. Queremos é ver as pessoas contentes, mostrar nossa gratidão — ressaltam.

Em entrevista exclusiva ao Diário Gaúcho, Augusto & Rafael falaram sobre a carreira, os momentos difíceis e o sucesso nas redes sociais e plataformas digitais.

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Música na infância 

A paixão por música é algo que os dois cantores carregam há muitos anos.

— Lá em casa, meu pai sempre foi apaixonado por música, tanto tradicionalista quanto sertaneja. A gente cultuava isso. Aprendi a tocar violão com ele. Meu pai e minha mãe também cantavam muito em bares antes de terem filhos. Fui criado assim. Como o som estava muito presente no nosso meio, acabou despertando o meu interesse — lembra Augusto.

— Eu participava de CTGs (Centros de Tradições Gaúchas). Meus pais levavam colchonete junto para eu dormir lá enquanto rolavam os bailes. A música esteve nos meus ouvidos desde criança. Dali, eu comecei a fazer aula de acordeon e a participar de rodeios cantando e dançando. Depois de um tempo, entrei para uma banda de baile gaúcha, na qual toquei por dois anos, ainda moleque — recorda Rafael.

Início da parceria

Foi em 2016 que o destino colocou Augusto e Rafael frente a frente. Até então, ambos já haviam se visto por Dois Irmãos, mas nunca parado para conversar, como afirma Rafael:

— Temos uma diferença de idade. Era da outra galera (risos). Por isso, a gente não se cruzava muito. 

O primeiro contato veio durante uma festa na cidade.

— Era uma festa típica, o Kerb (tradicional da cultura alemã). O público é bem variado, mas a maior parte é jovem. Toca funk, sertanejo, de tudo. Um amigo nos apresentou e comentou sobre nosso interesse por música. Combinamos de marcar um churrasco, tirar um som e postar no Facebook. Aí, a ideia despertou — conta Augusto.

A empatia logo de cara levou os artistas a gravarem, poucos dias depois, seus primeiros covers para postar na rede social. Na época, eles contavam com a parceria de outro integrante (que tocava cajón, um instrumento de percussão), formando o grupo Santo Som Sertanejo. E rendeu: um pub da cidade convocou o trio para se apresentar no local, de maneira despretensiosa. Convite aceito, partiram para a divulgação, boca a boca.

— Chegou no dia, não tinha espaço para a quantidade de pessoas que apareceram. Geral falava: “Meu Deus, que loucura”. Assim foi o nosso começo. A partir daí, passamos a tocar em outros pubs, festas de aniversário, formaturas — comenta Rafael.

Pensando em um futuro na indústria do entretenimento, um ano depois o trio se transformou em dupla.

Passo a passo

A apresentação de estreia da dupla ocorreu em uma edição da Fest Feira Dois Irmãos. Ainda como artistas independentes, os amigos precisaram enfrentar diversos obstáculos.

— A gente não tinha empresário. O investidor era a gente mesmo. Não pegávamos o cachê na noite para tirar férias, comprar um celular... Sempre tivemos como objetivo guardar esse dinheiro. Guardava por um período e comprava uma composição. Guardava por mais um período e fazia a produção (da música). Guardava outro período e filmava o clipe — diz Augusto.

— A gente gravou a primeira canção dois anos depois do começo como dupla, foi a Ministério da Sofrência. Depois veio Pipoca e Cobertor e, na sequencia, Embriagada de Saudade. Por muito tempo, nos dividíamos entre o dia (trabalhando em horário comercial) e a noite (fazendo shows). A gente dormia tarde e acordava cedo. Sempre mantendo muito vivo o sonho de ser artista reconhecido — completa Rafael. 

Momento delicado

Em 2019, um baque! Augusto foi diagnosticado com um tumor no cérebro:

— Não tinha nada. Um dia fui para casa dormir e acordei no posto de saúde. Tive uma convulsão na madrugada. Fui para os médicos averiguar, fiz ressonância e estava lá, uma “bolinha de ping pong” na cabeça. Era uma situação complicada, pois eu poderia ficar sem falar, poderia dar uma enrolada na língua. Encarei de cabeça erguida. Fiz cirurgia e precisei ficar meio ano parado, mas aquilo tudo passou. Agora faço acompanhamento de três em três meses. Está tudo em ordem.

Primeiro DVD

Ainda sem muito apoio financeiro, veio um dos momentos mais importantes para Augusto & Rafael: a gravação do primeiro DVD, no ano passado. 

— A gente teve ajuda de patrocinadores. Eles contribuíram com parte do custo que tivemos. O restante foi tudo de forma independente, pedindo dinheiro emprestado, pegando dos cachês guardados. Investimos dinheiro durante um ano para esse projeto — explica Rafael.

O sonho se concretizou no dia 26 de outubro, na casa de shows Blumenhaus, em Ivoti. Batizado de À Vontade, o trabalho reúne quatro música autorais e seis releituras de artistas como Henrique & Juliano e Jorge & Mateus (inspirações para a dupla do RS). 

— A gente fez o DVD só com convidados na plateia, pessoas que a gente queria por perto, para passar uma vibe positiva. Cobramos R$ 10 de cada e um quilo de alimento (doado, depois, para uma instituição de caridade). Com o dinheiro das entradas, conseguimos pagar parte da filmagem, os seguranças, a limpeza do salão... — detalha Augusto.

Divulgação do grande hit

Mal sabiam eles que o esforço seria, brevemente, recompensado. Dona Chica foi uma das músicas gravadas no DVD. A canção, escrita pelo compositor Kauê Segundêro, de Goiás, foi adquirida pelos sertanejos há cerca de três anos. Rafael recorda:

— A gente gravou antes da pandemia, fizemos um arranjo com um produtor, mas não gostamos muito do resultado. Decidimos colocar na gaveta. Quando fomos produzir o DVD, recuperamos Dona Chica. 

Tiro certeiro! Refrão, mais ainda: “Cê não merece palmas, merece o Tocantins inteiro / Cê não vale nada, eu gastei todo meu dinheiro / E pra continuar bebendo, pendura o meu sofrimento.”

— A gente recebeu uma guia (quando compraram a música), em voz e violão. E a energia dela era muito alta. Os caras estavam felizes cantando. O Rafael recebeu, e me disse: “Olha, eles estão muito empolgados.” Claro que a gente acredita em todas as nossas músicas, mas, às vezes, não esperamos uma repercussão tão grande — salienta Augusto.

“Noiva do TikTok”

A letra grudou como chiclete, impulsionando Augusto & Rafael mundo afora. Dona Chica chegou ao Top 100 no Spotify (posição 65) e no Top Viral Mundo (posição 20). No YouTube, já soma 2,8 milhões de visualizações. O sucesso nas plataformas e redes sociais, no entanto, veio depois de muita insistência. Ou melhor, paciência. A grande responsável foi Luana Eidt, 26 anos, noiva de Augusto. Veio dela a ideia de alavancar a música por meio do TikTok —inspirada pela influenciadora Virginia Fonseca, que costuma viralizar as músicas do marido, o cantor Zé Felipe, com seus conteúdos na rede social. Luana criou uma dancinha e postou o primeiro vídeo com a legenda: “Tentando fazer a música do meu noivo bombar”. Não deu muito certo. 

— Ela postava uns três vídeos por dia — comenta Augusto. 

Sem perder a esperança depois de muito tentar, a jovem produziu mais vídeos, mas ao lado do amado, que trazia na legenda: “Mais um dia tentando viralizar a música do meu noivo (hoje com a participação dele)”. E veio a virada de chave! Internautas começaram a postar vídeos ao som de Dona Chica com comentários do tipo: “Ajudando a viralizar a música do noivo daquela moça” e “Dançando para viralizar a nova Virginia”. 

— Começamos a ter números crescentes. Chegamos a ir atrás de preços para que influenciadores repostassem a música, mas não coube no nosso bolso. Pensamos: “Vamos deixar assim e ver no que vai dar.” O maior choque veio do dia 22 de fevereiro — ressalta Rafael.

A data ficou (e ficará) marcada na história da dupla, porque ninguém menos do que a influenciadora Rafa Kalimann — que tem mais de 13 milhões de seguidores no TikTok — entrou para a corrente promovida por Luana. A ex-BBB publicou um vídeo dublando Dona Chica e escreveu: “Trabalhando e lembrei que Luana precisa da nossa ajuda pra estourar essa música boaaaa. Luana fofa”.

— Eu e a Luana temos um bar aqui (em Dois Irmãos). Estávamos trabalhando, era noite de caipirinha em dobro. Eu estava no balcão, fazendo um drink, quando a Luana me para e diz: “Augusto, mandaram aqui que a Rafa postou”. Perguntei: “Mas que Rafa?” E ela: “A Kalimann.” Começou a bambear a perna, fiquei todo nervoso. Fui para o estoque e comecei a chorar, a Luana também – revela Augusto.

O parceiro resume:

– É gratificante demais, isso não tem preço. 

Dos frutos colhidos desde então pela dupla — que agora está empresariada —, teve show fora do Estado, entrevistas para grandes veículos, além do convite pelo próprio prefeito para serem embaixadores de Dois Irmãos (já que estão levando o nome da cidade a todo o Brasil).

Vem aí!

Um novo lançamento está previsto para a próxima sexta-feira (24), como consequência da forte repercussão nas redes sociais. Vem aí o remix de Dona Chica, em parceria com o DJ Lucas Beat, que fala sobre a parceria: 

— Escutei a música pela primeira vez no TikTok. Quando eu cliquei no áudio, ela já estava bastante conhecida. Achei muito boa, o refrão top. Em seguida, fui atrás para ver a possibilidade de fazer um remix. Estou bastante ansioso, a galera certamente vai gostar, assim como gostaram da versão original. 

— O Lucas é uma referência enorme aqui no Sul e no Brasil inteiro. O feat está pronto e, coincidentemente, vai sair um mês depois dessa loucura toda começar. Sinal de sucesso — alegram-se os guris.