Apesar de estar sendo exaltada nas redes sociais, Odete Roitman (Debora Bloch) é, sim, a grande vilã de Vale Tudo. Manipuladora e ardilosa, ela usa as pessoas a seu bel-prazer, como se estivesse jogando uma partida de xadrez. As peças que não se encaixam no seu jogo, logo são descartadas. Outras, que lhe parecem mais adequadas, encontram espaço nessa partida.

Se na primeira versão da novela, a personagem vivida por Beatriz Segall (1926-2018) escancarava seu preconceito, com falas como "Isso aqui é uma mistura de raças que não deu certo", no remake a autora Manuela Dias optou pela sutileza. Tanto que, na nova versão da história, a vilã se alia a Maria de Fátima (Bella Campos), uma jovem negra, algo que seria impensável em 1988.

No entanto, uma cena exibida no capítulo de segunda-feira deixou bem claro o que Odete pensa sobre a futura nora. Ao perceber o plano da irmã de aproximar Fátima de Afonso (Humberto Carrão), Celina (Malu Galli) estranha, já que a garota é negra. Ao que a ricaça responde:

 — Você acha que não vi? Eu não sou cega. Mas fazer o quê? A mocinha Duprat é branca, mas insolente... Todo mundo têm sua função, Celina. O importante é que façam o que eu quero. E ela nem é tão preta assim. 

A sequência demonstra o que é realidade no nosso país, infelizmente. Pessoas negras de pele mais clara são mais aceitas em uma sociedade racista, como se o tom da pele fosse relevante para o valor de alguém. Ainda na coletiva de imprensa que apresentou a novela, Debora Bloch e Bella Campos disseram que há na relação de suas personagens uma boa dose de preconceito. Fátima, "apesar de ser negra", serve aos propósitos de Odete, e há uma questão de hierarquia, de submissão implícita entre as duas.