Declaração polêmica
"De maneira alguma foi para tripudiar em cima da tristeza", diz prefeito de Cachoeirinha
No sábado, Vicente Pires publicou frase no Facebook que causou indignação
A semana que passou foi de tensão em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Quatro casos de meningite meningocócica tipo C foram confirmados - uma menina de 12 anos e um menino de oito morreram. O Bairro Jardim Betânia é foco de um surto comunitário.
Junto a isso, uma postagem do prefeito Vicente Pires (PSB) no Facebook gerou polêmica. Em sua linha do tempo, no sábado, ele questionou: "quantos urubus morreram hoje?"
- Estava entristecido e revoltado com as pessoas que torcem contra, sem medir o que estão fazendo. Torcer para que o governo não alcance as medidas, não se preocupando com o outro lado, que é o cidadão de Cachoeirinha precisando de um atendimento que o município estava fazendo - disse o prefeito neste domingo ao Diário Gaúcho.
Confira trechos da entrevista.
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O que o senhor quis dizer com "quantos urubus morreram hoje"?
Mais abaixo, eu falava das pessoas que criaram um clima de terror dentro do município. Passamos toda a semana trabalhando, primeiro com antibiótico, para evitar que se multiplicasse a transmissão da meningite, depois entrando em contato com o Ministério da Saúde e conquistando as vacinas para imunizar aquela comunidade (Jardim Betânia). Quando me refiro a urubus, estou me referindo a uma ave de rapina agourenta, que quer o erro, quer que as coisas não aconteçam corretas, quer a tristeza. O urubu espera a morte, e as pessoas a quem eu me referia eram as pessoas que criaram essas falsas informações, dizendo que Cachoeirinha tinha outra morte em tal bairro, que tinha outra pessoa contaminada em outro lugar e foi gerando pânico. Estavam agourando alguma coisa. E, com essas pessoas, eu estava muito triste. De maneira alguma foi para tripudiar em cima da tristeza das pessoas.
Teve um aproveitamento político do surto comunitário?
O que houve foi uma vontade para que as coisas dessem errado nas ações que o governo estava tomando, que o surto se espalhasse para o restante do município, que o governo falhasse em suas ações de saúde pública. E aí há um aproveitamento, da mesma forma que agora: está havendo um aproveitamento político em cima de uma frase.
O senhor deletou o post. Foi arrependimento ou uma forma de encerrar o assunto?
Foi uma forma de encerrar o assunto justamente pelo que aconteceu. Acordo cedo e, às 6h (de domingo), olhei o restante dos posicionamentos. O que tinha que acontecer já aconteceu, vou tirar do ar para que não continue causando esse mal entendimento.
Quais os próximos passos para o enfrentamento da meningite?
Os deputados Stédile (PSB) e Osmar Terra (PMDB) estão tentando agendar uma reunião na quarta-feira no Ministério da Saúde para que possamos buscar mais vacinas para a região. Entrei em contato com o presidente da Granpal (Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre), que é o prefeito Marco Alba (PMDB), relatei isso a ele e perguntei o que ele achava de ir junto a Brasília, porque é incoerente trabalhar o município de Cachoeirinha e não trabalhar a região. Não seria um protocolo correto de saúde pública. Ele chamou para hoje, às 17h, uma reunião com os prefeitos da Granpal para que nós pudéssemos discutir o assunto e tirar um posicionamento de associação.
A liminar obrigando estender a vacinação a todo o grupo de risco (menores de 20 anos) na cidade lhe preocupa?
Ela preocupa porque a questão da saúde pública, principalmente em um surto ou epidemia, deve ser tratada no momento macro. E isso é feito pelo Ministério da Saúde, e não pelo município. Como é uma juíza de primeira instância quem deu a liminar, ela não tem alcance jurídico para envolver o Ministério da Saúde. Ela poderia envolver o município e o Estado. Esse é um dos motivos da minha ida na quarta-feira ao Ministério da Saúde para ver se consigo apoio para resolver a questão da liminar, atender à decisão judicial se assim o ministério entender. Mas ele teria que fornecer o restante das vacinas para que possamos aplicar em toda a cidade. Provavelmente, não tendo respaldo do Ministério da Saúde, nós vamos fazer um agravo ao Tribunal de Justiça, que teria possiblidade e alcance jurídico para chamar o ministério para a discussão.
*Diário Gaúcho