Falta de estrutura
Loteamento inacabado faz moradores voltarem a bairro alagado de Cachoeirinha
Defesa Civil garante que famílias não correm risco e que as que corriam maior risco já foram levadas para um ginásio
Cada prenúncio de chuva continua sendo um desalento para as 112 famílias que, por anos, foram as mais atingidas pelas enchentes no bairro Olaria, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana.
Parte delas, cerca de 67 famílias, já se mudou para as novas casas garantidas pela prefeitura em um espaço longe dos alagamentos, o Loteamento Chico Mendes, num canto da cidade próximo à BR-118. Só que, lá, as moradias ainda estão sem água nas torneiras internas, a luz vem de gato dos postes das redondezas, os vidros estão quebrados e as portas ainda estão por vir.
Essa situação faz com que 11 famílias sigam - já há duas semanas - acampadas em um ginásio no bairro Fátima, e outras 30 preferiram continuar em suas casas no Olaria - que agora foi mais uma vez tomado pela chuvarada.
- Não vou para lá ficar brigando contra a água e o frio, com lonas em vez de portas e janelas. A gente achava que esse abrigo seria provisório, mas não para de vir chuva. E nada de portas - reclama Rosamaria de Souza, que deixou o loteamento e está acampada com o marido e duas filhas no ginásio oferecido pela prefeitura.
Veja galeria de imagens da situação em Cachoeirinha:
De acordo com o secretário municipal de Habitação, Alcides Gatini, grande parte do material foi reaproveitado das antigas casas dos moradores, que fizeram mutirão para a construção das novas. Outra parte foi fornecida pela prefeitura. As portas vêm do Paraná, de onde é a empresa vencedora da licitação, e deveriam estar em Cachoeirinha desde quarta, só que ainda não há previsão de chegarem.
- Infelizmente, o serviço público não é como o particular, que você pode ir até uma ferragem e voltar com uma porta. Mas nós estamos pressionando a empresa, e as peças devem chegar no início da semana que vem - afirma o secretário.
Para se mudar logo para a nova casa, a dona de casa Claudete Soares reforçou uma porta velha com ripas de madeira. Puxou um gato de luz do poste e toma banho de bacia, com água que tem de ir buscar na torneira que fica na rua.
- Minha casa está revirada, sempre essa bagunça. Tenho problema no coração e não é fácil viver nessa situação. Morei 45 anos na Olaria, não posso dizer que lá era melhor, mas aqui ainda não está bom - diz a moradora.
O secretário de Habitação admite que cerca de metade das casas ainda não tem fornecimento de energia elétrica e de água, mas que as concessionárias estão "providenciando aos poucos" e "na medida do possível" os serviços.
- Não temos água e luz em todas as casas, por isso que nem todo mundo está lá. Temos que dar o mínimo de condições para que possam habitar o loteamento. Por isso, conforme RGE e Corsan vão dando condições, vamos colocando as pessoas lá. Enquanto não dá, estamos disponibilizando o ginásio - afirma Gatini.
De acordo com a assessoria da Corsan, a companhia está trabalhando em conjunto com a prefeitura no diagnóstico e na recomposição da estrutura de distribuição de água, já que o encanamento teria sido bastante danificado por uma invasão há três anos. Há uma equipe permanente da Corsan no loteamento. A previsão de conclusão do trabalho é "de 30 a 45 dias de tempo bom". A RGE não havia respondido até a publicação da reportagem.
Defesa Civil diz que moradores do Olaria não correm perigo
Conforme a Defesa Civil, as 30 famílias que permanecem no bairro Olaria não correm perigo - ao menos por enquanto.
- Retiramos as pessoas que estavam em maior situação de vulnerabilidade, que estavam mais perto do rio - explica o coordenador do órgão no município, Fernando Kern.
O Rio Gravataí, ainda conforme ele, subiu 50 centímetros de quarta para quinta e atingiu a marca de 4m60cm na tarde desta quinta - sendo que ele sai do leito já com 1m60cm.