Porto Alegre
Motociclistas planejaram irregularidades antes da procissão de Nossa Senhora Aparecida
Participantes postaram fotos no Facebook mostrando modificações irregulares em motos
Uma página no Facebook identificada como Procissão 2015 - Rolezão da Gurizada reforça a constatação de que a desordem entre motociclistas foi planejada antes da 41ª Procissão de Motociclistas em Homenagem à Nossa Senhora Aparecida, em Porto Alegre, ocorrida na manhã de domingo.
Na página, posts com horas de antecedência mostram motoqueiros se preparando para tirar retrovisores, placas e escapamento dos veículos e outros cobrindo as placas para evitarem multas. Durante a procissão, os "devotos" postaram, inclusive, rotas para fugir das barreiras policiais.
No domingo, logo após a conclusão do trajeto entre a Rota das Cuias, no Centro, e o Porto Seco, na Zona Norte, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Capellari, chegou a dizer que repensaria a continuidade do evento no próximo ano. Na terça-feira, ele reforçou que a procissão saiu do controle por conta da algazarra antes, durante e depois do evento.
- Vamos rever a autorização para 2016. Antes, nos reuniremos com a Curia, com a Brigada Militar e com as entidades que representam os motociclistas para adotarmos medidas mais fortes relacionadas à segurança. Sem novas medidas para conter os vândalos, não autorizaremos a continuidade da procissão - explicou Vanderlei.
Ao longo do trajeto, motociclistas desafiaram pedestres, andaram na contramão, sem capacete e usando máscaras, e atravessaram canteiros e calçadas.
Dois homens foram presos pelos policiais militares. Um deles portava um revólver calibre 38 com numeração raspada e o outro era foragido da Justiça. Já os agentes da EPTC abordaram 325 motocicletas, aplicaram 269 multas e apreenderam 14 veículos em situação irregular ou ilícita, alguns foram abandonados pelos condutores. Dois atropelamentos por moto ocorreram na cidade motivados por grupos que seguiam para a procissão.
Ameaça
O próprio presidente do Sindimoto, Valter Ferreira, que desde 2006 ajuda na organização do evento, reconheceu o problema do vandalismo e ameaçou abandonar a procissão no próximo ano. Ele acusou a EPTC de não participar ativamente da organização e culpou o órgão por modificar o trajeto dos motociclistas para acessar o ponto de encontro.
- É preciso um trabalho de conscientização dos motociclistas com meses de antecedência. Se não houver isso em 2016, não faremos mais parte do evento.
Fé ou vandalismo
Padre responsável pela Procissão, Vanderlei Mengue Bock, emitiu nota oficial desabafando que vândalos acabaram denegrindo o ato de fé e de devoção. Ele pediu que a tradição nas ruas de Porto Alegre seja mantida.
- Infelizmente, o que presenciamos nesta última edição da Moto Romaria não foi somente atos de fé e de devoção. Alguns vândalos, infiltrados, acabaram denegrindo e difamando o grupo todo. São uns poucos que destroem a boa imagem construída por essa procissão ao longo de 40 anos. Podemos permitir que participantes escondam a placa da moto, utilizem máscara em vez de capacete, retirem o escapamento para fazer um barulho maior? Contudo, devemos nos questionar se é correto acabarmos com uma manifestação de fé por causa de um pequeno grupo de arruaceiros. Será que não devemos coibir esses infratores, penalizá-los e educá-los?
* Diário Gaúcho