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ONG do Morro da Cruz produz rodos de madeira para doar a vítimas da enchente 

Mais de 200 já foram distribuídos para moradores de Porto Alegre e Região Metropolitana; o material resistente ajuda na remoção do lodo que fica depois que a água baixa 

29/05/2024 - 12h56min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
arquivo pessoal / arquivo pessoal
Mais de 20 voluntários trabalham na confecção, a maioria vive no Morro da Cruz

Para facilitar a limpeza de casas e bairros atingidos pela enchente, o curso de marcenaria da ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz, localizada no bairro São José, na zona leste da Capital, desenvolveu um rodo de madeira. O material é resistente e ajuda a remover a camada úmida de lodo que costuma ficar depois que a água baixa. 

São mais de 20 voluntários trabalhando todos os dias na confecção, a maior parte deles moradores do Morro da Cruz. A produção, que iniciou no dia 13 de maio, contabiliza cerca de 200 rodos doados e já há 230 encomendados. 

Cidades como Eldorado do Sul, Canoas, além de bairros fortemente atingidos em Porto Alegre, como o Sarandi e o Arquipélago, já receberam algumas remessas.

Ações

Produzidos de forma totalmente artesanal, com sarrafos de madeira e tábuas de pinus, o rodo tem 1,5m de altura. Somando os valores dos materiais, cada um tem o custo aproximado de R$ 15. 

O arquiteto Igor Nicolini, 26 anos, é um dos professores do curso de marcenaria que passou a ser oferecido em março pela ONG. 

Ele conta que os alunos ainda estavam aprendendo conceitos básicos, mas a necessidade de se ter equipamentos próprios para fazer a limpeza após as inundações exigiu que partissem rapidamente para a prática: 

– Mobilizamos os alunos e outros moradores também se juntaram nessa ação. Esse trabalho é bem importante, porque existem lugares que têm muito lodo e o rodo de plástico quebra com facilidade, não funciona. Já o rodo de madeira faz a limpeza mais rapidamente – explica. 

A presidente da ONG Coletivo, Lucia Scalco, 62 anos, explica que essa é apenas uma das ações da instituição, que nas últimas semanas também tem se dedicado a doações de roupas, alimentos e água para as vítimas que buscam refúgio em abrigos do bairro. 

– Temos uma fila de pedidos para produção dos rodos e o pessoal aqui não para nem com a chuva. Sempre que entregamos o material, a gente orienta: “Acabou de usar? Não te apega, doa”. A gente quer que circule. Um rodo pode ser usado por várias famílias – ressalta Lucia. 

Voluntariado 

arquivo pessoal / arquivo pessoal
O rodo tem 1,5m de altura e são feitos de sarrafos de madeira e tábuas de pinus

Quando um voluntário da ONG Coletivo foi ao abrigo da Estância Pasqualetto, no Morro da Cruz, contar sobre a confecção dos rodos, muitos resolveram ajudar. O auxiliar de serviços gerais Claudemir Everaldo Borges, 55 anos, foi um deles. Morador do bairro Humaitá, muito atingido pela chuva, estava há 15 dias vivendo no local. Para ele, o trabalho foi importante para que conseguisse desopilar: 

– Eu já tinha feito um curso de marcenaria quando era mais jovem. Foi um momento de distração, estava muito preocupado com tudo o que estava acontecendo. Quando me chamaram, eu não hesitei, afinal, o morro me estendeu a mão e eu estendi de volta.


Ajuda foi bem-vinda

O conselheiro tutelar Rodrigo Farias dos Reis, 49 anos, não vai esquecer tão cedo do dia em que teve a casa, no bairro São Geraldo, inundada pela enchente. Nos primeiros dias de maio, logo que a água atingiu o interior de seu pátio, resolveu levar seu filho e enteada para a casa de parentes. Apenas ele eaesposa ficaram para cuidar do imóvel. O que eles não imaginariam é que, ao acordar no meio da noite, não encontrariam um chão seco para pisar. 

O nível da água no interior da casa ultrapassou os 1,5m. Com a água pelo pescoço, pediram ajuda para o Corpo de Bombeiros para conseguirem sair de casa. 

– Foi muito desesperador, a gente não esperava que isso iria acontecer, porque a água nunca chegou sequer no pátio. É triste chegar em casa e ver que perdemos tudo – desabafa, emocionado.

Retorno 

Enquanto a família está abrigada na casa de familiares, aos poucos, tenta retornar à normalidade. Há cerca de uma semana, o conselheiro contou com a ajuda de amigos, que fizeram um mutirão de limpeza na residência. 

Como Rodrigo já conhecia o trabalho da ONG Coletivo, viu o anúncio da doação dos rodos por meio das redes sociais e entrou em contato: 

– Peguei dois rodos que ajudaram muito a limpar o pátio, que era onde tinha mais lodo. É uma limpeza bem pesada, por ser de madeira, é bem mais resistente, outro material não aguentaria. 

O morador conta que, assim que terminar a limpeza, pretende repassar o rodo para vizinhos.


A união faz a força

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Kit completo de limpeza para moradores da zona sul da Capit

Dois projetos da Capital se uniram para ajudar as famílias gaúchas a retornarem para seus lares. A ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz, junto ao projeto social e ambiental Sabão da Tinga, estão doando kits de limpeza para moradores da Zona Sul. A ONG confecciona os rodos de madeira eoprojeto da Restinga produz materiais de limpeza a partir do óleo de cozinha usado. 

Idealizado por Tatiane Morais, 47 anos, o kit contém sabão líquido para louça e para roupa, água sanitária, desinfetante, pano de chão, pá, vassoura e um rodo de plástico, além do rodo de madeira. Cerca de 300 famílias do bairro Restinga e Cristal já receberam o kit. 

– É um kit completo para que as famílias possam fazer a higienização completa da casa. O rodo de madeira faz a limpeza inicial, tira o lodo, e os produtos ajudam na limpeza mais detalhada – comenta. 

Por enquanto, o projeto atende apenas moradores da região sul de Porto Alegre, mas Tatiane pretende ampliar a ação para outros bairros da Capital e Região Metropolitana. Para isso, o projeto precisa da doação de óleo de cozinha usado e de garrafas PET de 2 litros. 

– O problema não é só de pessoas com casa alagada, tem gente que perdeu o emprego e está sem nenhuma renda. Então a gente consegue produzir esses itens dentro da periferia e fazer a doação para quem não pode comprar – finaliza.

Como ajudar: 

  • Para doar óleo de cozinha usado e garrafas PET de 2 litros para o projeto Sabão da Tinga, contate o WhatsApp (51) 98686-6623. Contribuições financeiras podem ser feitas por meio do Pix (CPF) 754.699.790-91.
  • A ONG Coletivo precisa de voluntários para ajudar na confecção dos rodos. Para participar, é preciso ter 16 anos. Entre em contato pelo WhatsApp: (51) 99531-1456. Doações são feitas pelo Pix (CNPJ): 34.426.595/0001- 63. É preciso colocar na descrição que o dinheiro é para a produção de rodos.

Como receber os materiais: 

  • Rodos de madeira podem ser solicitados pelo WhatsApp (51) 99116-7532
  • Moradores da zona sul da Capital que precisam do kit de limpeza devem preencher o formulário no link.

*Produção: Nikelly de Souza 



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