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Porto Alegre

Coletivo Preta Velha, na Vila Cruzeiro, oferece aulas de costura e artesanato gratuitas para mulheres 

Criada em 2020, a entidade desenvolve diversas atividades para a comunidade. Entre elas, o projeto Tecendo Trilhas que visa a geração de renda para o público feminino 

18/07/2024 - 05h00min

Atualizada em: 18/07/2024 - 10h22min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho

Amor. É isso que o Coletivo Preta Velha, na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre, representa para Elaine Matias, carinhosamente chamada de Tia. Com um sorriso afetuoso e uma risada contagiante, a voluntária participa diariamente das ações da entidade desde a enchente de maio. Responsável pela cozinha, Elaine prepara de cem a 200 refeições semanalmente para doar à comunidade. Antes da catástrofe, porém, ela já frequentava o coletivo, participando das aulas de dança gratuitas. 

— Teve até quem esqueceu que usava muletas, de tão boas que são as atividades — conta a voluntária, em meio às gargalhadas. 

Além de Elaine, o Coletivo Preta Velha é repleto de outras mulheres fortes, que criam uma rede de apoio por meio da solidariedade. A enfermeira aposentada Mara Núbia, 62 anos, é uma delas e teve o privilégio de conhecer a principal líder da entidade. A Tia Délia foi quem fundou a instituição e Mara apoiou a causa:

— Eu comecei a vir para fazer companhia para a Tia Délia, para ela não ficar sozinha. Aí os projetos foram acontecendo e eu fui gostando e me envolvendo.

No início do ano, a fundadora faleceu, mas o luto deu lugar à força de continuar os trabalhos da entidade, principalmente, durante a tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul. Em maio, mutirões de doações de roupas, água e mantimentos foram realizados. Inclusive, salas que antes eram utilizadas para outras atividades do coletivo ficaram recheadas de donativos. 

Benefícios

Entre linhas e agulhas, as tardes das segundas e terças-feiras são repletas de ensinamentos no Coletivo Preta Velha. No primeiro dia, as alunas aprendem a costurar com a máquina. Já no segundo, o crochê é o protagonista da aula de artesanato. Toda semana, as alunas aprendem novos pontos e aplicações, além de compartilharem conhecimentos e risadas.

A aposentada Oracilda Kraus, 69 anos, conta que adora a iniciativa, pois não tem condições de pagar um curso como esse. Orgulhosa, ela mostra a bolsa ecológica que costurou durante as aulas e já planeja os próximos passos:

— Ainda não estou vendendo (os produtos), porque recém estou começando. Mas, assim que eu aprender mesmo, vou fazer pra vender, pra enfeitar a casa e dar de presente para os filhos e netos. 

E esse é o objetivo: ensinar às mulheres atividades que possam gerar uma fonte de renda. Além disso, as amizades que são construídas e o bem-estar para melhora da saúde mental são benefícios sentidos pelas alunas.

A aposentada de 77 anos Maria Salete Pereira, por exemplo, vê nas aulas uma oportunidade de distrair a mente. Ela já sabia crochetar, pois aprendeu no colégio quando era pequena, porém frequenta o grupo para praticar.

— Faço coletes, casaco, suporte para garrafinha. E venho aqui para sair de casa um pouco — descreve. 

Costura e reaproveitamento de tecidos

Atualmente, as aulas estão sendo regidas pelo projeto Tecendo Trilhas, que é uma parceria do Coletivo com a União Brasileira de Mulheres (UBM) e a Associação do Voluntariado e da Solidariedade (Avesol). O curso começou em abril, antes da enchente, e agora está retomando suas atividades. Depois de passar pelo Preta Velha, será acolhido em ONGs e associações de outras regiões da Capital. Ao final, feiras serão montadas com as produções das alunas. 

Segundo a professora voluntária Mara Mancy, além do Tecendo Trilhas, durante o ano há um curso permanente de costura e artesanato no coletivo em que o foco também é no meio ambiente:

— No curso permanente, nós ensinamos as mulheres a trabalhar com a sustentabilidade, na busca de tecidos e reciclagem. A gente recebe doações de calças jeans, linhas, lãs e tudo nós reaproveitamos.

História 

A Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Alberto Bins foi fechada durante o governo de José Ivo Sartori, em 2018, por conta da queda do número de matrículas. Após dois anos de luta da comunidade para a sua reabertura, a agente de saúde Adélia Azeredo Maciel teve uma ideia para dar utilidade ao espaço. 

O local, que pertence ao Estado, estava tomado pelo tráfico de drogas e Tia Délia conseguiu, em conjunto com outras mulheres, fundar a instituição. A reportagem procurou a assessoria do governo do RS para entender a atual situação do local, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.

*Produção: Elisa Heinski


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