Notícias



TRANSPORTE COLETIVO

Ônibus de Porto Alegre registram queda no número de viagens e de quilômetros rodados

Coletivos da Capital estão rodando menos, na comparação entre os meses de setembro de 2018 e setembro de 2019. Empresas alegam queda no número de usuários.

16/10/2019 - 05h00min

Atualizada em: 16/10/2019 - 16h16min


Alberi Neto
Alberi Neto
Enviar E-mail
Tadeu Vilani / Agencia RBS
Redução faz com que passageiros fiquem mais tempo nas paradas

 Correção: a queda de 23,5% nos passageiros pagantes projetada pela ATP até o final de 2019 é em comparação ao estipulado no edital do transporte público, e não ao número de passageiros pagantes verificado em 2016, como informado entre 5h e 16h15min de 16 de outubro de 2019. O texto foi corrigido. 

Dados obtidos com exclusividade pelo Diário Gaúcho mostram que os ônibus de Porto Alegre estão rodando menos. Os números são da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e têm como base a comparação entre os meses de setembro de 2018 e setembro de 2019. 

Durante todo o nono mês deste ano, os ônibus da Capital circularam, em média, 317,9 mil quilômetros por dia. Em comparação com o mesmo período de 2018, os carros deixaram de rodar, diariamente, cerca de 2,2 mil quilômetros – a média de setembro do ano anterior foi de 320,1 mil quilômetros. 

Leia mais
Limpeza, infraestrutura e acessibilidade: como estão os terminais de ônibus da Capital
EPTC autoriza extinção de linha de ônibus da Carris em Porto Alegre
Testamos o aplicativo que mostra a localização dos ônibus na Capital

Estas distâncias são relativas apenas aos dias úteis, sem contar sábados, domingos e feriados. Nos finais de semana, aliás, a queda de quilometragem rodada foi ainda maior: 7,6 mil quilômetros a menos a cada final de semana, comparando a rodagem de setembro com o mesmo mês do ano passado.

Mas como os ônibus estão rodando menos diariamente? O fato não se deve apenas a atrasos ou descumprimento de horários – apesar de o DG ter mostrado, em maio, que nos quatro primeiros meses do ano, as empresas haviam recebido 929 notificações da prefeitura por descumprirem os horários; e que, até o final de julho, 5.241 reclamações por descumprimento da tabela foram feitas por usuários à EPTC. 

O que justifica esta redução nas quilometragens é o número de alterações de tabelas horárias solicitadas pelos operadores do sistema. Entre setembro de 2018 e o dia 13 do mês passado – data mais recente em que houve registro de um pedido de alteração – foram 205 alterações nas tabelas vigentes dos ônibus do sistema da Capital. 

Com isso, reduziu-se cerca de 1% das viagens em dias úteis, indo de 20.635 viagens diárias para 20.466. Aos sábados, a queda chegou aos 2% – de 13.445 viagens para 13.190. E o dia mais afetado foi o domingo, onde os horários apresentaram redução de 5% –  eram 9.173 viagens, caíram para 8.757. 

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Para ATP, reflexo do insucesso das metas estabelecidas em licitação

Diretor executivo da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), Gustavo Simionovschi diz que a redução de horários é consequência do insucesso das metas estabelecidas na licitação do sistema de transporte público de Porto Alegre.

 — Pelo edital, mensalmente, deveríamos estar tendo 17,8 milhões giros de roleta pagantes (usuários que pagam a passagem). Porém, a nossa projeção é que 2019 termine com 13,6 milhões de usos mensais. Assim, (em relação ao edital) teremos uma queda de 23,5% nos passageiros pagantes. Ao mesmo tempo, a quilometragem rodada diminuiu cerca de 12%. Ou seja, a redução não alcança a queda de passageiros, o sistema está em desequilíbrio. 

Conforme Flávio Tumelero, gerente de Planejamento de Transportes da EPTC, as mudanças são feitas com a intenção de otimizar viagens improdutivas, unificando linhas durante finais de semana, maneiras encontradas para conter o preço da passagem. 

Isso porque, como explica o diretor da ATP, se os ônibus seguissem rodando o mesmo e o número de usuários caindo, a tarifa seria ainda mais cara.

Leia mais
A rotina dos passageiros da linha T4, a campeã de reclamações de atrasos na Capital
Novos ônibus da Carris devem chegar em outubro, diz diretora-presidente da empresa

Gustavo Simionovschi, da ATP, e Flávio Tumelero, da EPTC, apontam alguns fatores como os principais causadores de problemas: Porto Alegre tem quase 30% de isenções, pessoas que não pagam a passagem. 

– E quem custeia isso é quem paga – diz o diretor da ATP. 

Os aplicativos de transporte tiraram usuários, principalmente das linhas mais curtas, que custeavam o sistema para quem vem de longe, como explicam ambos. Isso afeta a chamada compensação tarifária, sistema que faz a cidade toda ter o mesmo preço de passagem para não sobrecarregar os usuários das áreas periféricas. 

– O transporte público precisa ter outra fonte de receita, para, pelo menos, cobrir as isenções. Sejam menores tributações ou auxílio do poder público, que concede as isenções – afirma Gustavo.

Uma novidade para tornar o sistema mais atrativo é a implantação de mais faixas azuis em algumas das principais avenidas – estas pistas tornam a circulação de ônibus exclusiva em períodos do dia. Conforme a EPTC, isso deve diminuir o tempo das viagens.

– Essa priorização do ônibus é essencial. Cada ônibus tira mais de 50 carros do trânsito, então precisa andar mais rápido, principalmente, nos horários de pico. 

Teremos melhor cumprimento das tabelas, com mais ônibus passando na hora certa e transportando mais gente – projeta o representante da ATP.

Usuários percebem alterações

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Fábio Henrique reclama do desencontro entre linhas

Quem depende do ônibus para se deslocar pela malha viária da cidade sentiu as mudanças. 

Para o educador social Fábio Henrique de Freitas, 39 anos, o problema é depender de duas linhas de ônibus para se deslocar. Ela acredita que, com menos horários, quem precisa fazer integração espera mais tempo.

– Sinto que não estão facilitando o deslocamento para quem mais precisa. Não tem como custear deslocamento em grandes distâncias com carros de aplicativo. Por vezes, esperei mais de 40 minutos entre descer de uma linha e pegar outra – critica Fábio, que usa os itinerários T11/3ª Perimetral e 360/IPE, linha que teve alteração de tabela horária durante o último ano.

O técnico de enfermagem Jonathan de Araújo Alves, 25 anos, é usuário da linha 349/São Caetano:

– Durante a semana, a gente acostuma esperar um pouco, mas, aos domingos fica inviável. Então, nos juntamos entre colegas de trabalho para ir ao serviço com carro de aplicativo ou de carona.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias