Seu problema é nosso
Jovem espera há cinco anos por tratamento para doença nas articulações, em Gravataí
Em 2016, Angelo Mello chegou a receber a indicação para uma nova clínica onde seria atendido. Porém, até hoje, o estudante não foi chamado
Estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Angelo Abrão Gonçalves Mello, 17 anos, supera diariamente os limites impostos pela artrogripose múltipla congênita – doença que compromete as articulações dos braços e pernas.
Leia mais
Depois de sete meses, cratera em calçada da Capital é consertada
Moradores compram canos, mas prefeitura não cumpre promessa de obra, em Alvorada
Problemas na entrega de sondas e seringas prejudica aposentado, em Porto Alegre
Mãe do jovem, a serviços gerais desempregada Carina da Silva Gonçalves, 36 anos, conta que Angelo é prejudicado pela falta de assistência dos órgãos públicos, principalmente em Gravataí, onde vivem:
— Depois de 12 anos morando em São Paulo, com acesso a fisioterapias e vários outros tratamentos pela AACD, voltamos para o Rio Grande do Sul e, desde então, ele não tem suporte algum.
A família, que voltou para o Sul em 2013, aguarda um retorno do poder público. Quando Carina foi à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) solicitar atendimento especializado, descobriu que o convênio do município com a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) foi encerrado. Somente em 2016, Angelo conseguiu a indicação para uma nova clínica, que, até hoje, não chamou o estudante.
— O único atendimento que temos é com o clínico do posto do nosso bairro. O pior de tudo é não saber se um dia vamos ser chamados — explica a mãe.
Perdas
Quando ingressou no Ensino Médio, em 2016, Angelo perdeu outro benefício: a passagem escolar. À época, a administração municipal informou para a família que a responsabilidade passaria a ser do Estado após o Ensino Fundamental. Carina entrou em contato com o poder estadual, que negou a demanda. Agora, mãe e filho precisam percorrer a pé, diariamente, dois quilômetros.
— A gente se sente muito mal, parece que ele perdeu todos os direitos — desabafa Carina.
O tratamento do qual Angelo precisa consiste em sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e consultas com fisiatra — médico responsável pelo acompanhamento de doenças que causam algum grau de incapacidade. Esses atendimentos especializados são essenciais para prevenir que os poucos movimentos que o jovem ainda tem sejam prejudicados.
Carina explica que, com essas terapias, o filho se sente mais autônomo, aprendendo a se adaptar a diferentes ambientes:
— Logo ele vai se formar, vai querer ir para a faculdade. Cada vez mais o tratamento será importante para a independência dele.
Avaliação será nesta semana
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que houve cancelamento automático do pedido de Angelo no dia 8 de abril de 2017 porque o município não respondeu os questionamentos feitos pela regulação estadual.
A SES explicou que um novo serviço para os atendimentos de fisioterapia de Gravataí foi lançado na quinta- feira passada: estes pacientes, agora, serão referenciados para a Apae de Cachoeirinha. A Secretaria de Saúde de Gravataí afirmou que, devido ao tempo transcorrido, será feita nova avaliação de Angelo na UBS Morada do Vale I, em 9 de maio.
Sobre a passagem escolar, a SMS informou que, por ele estudar em uma unidade estadual, a responsabilidade não é municipal. Porém, segundo a Secretaria Estadual da Educação, o Estado é responsável apenas pelos alunos de zonas rurais. Nas urbanas, é o município.
A administração de Gravataí explicou que, na solicitação de 2016, não consta pedido de cadeira de rodas. A SMS informou que, após constatada a necessidade do equipamento, o pedido é encaminhado para a regulação estadual.
Família fez vaquinha para comprar cadeira de rodas
Outro fator importante para a autonomia de Angelo é sua cadeira de rodas, segundo a mãe do menino. O modelo que o jovem usa está velho e pequeno. A família foi indicada a adquirir uma motorizada.
— O SUS não disponibiliza este tipo de cadeira, e a família criou uma vaquinha online para arrecadar o valor. Interessados podem doar através da vaquinha online criada pelos familiares.
— É possível, ainda, fazer depósito bancário na Caixa Econômica Federal, agência 3336, operação 023, conta 00000389-6.
*Produção: Leticia Gomes