Seu problema é nosso
Paciente fica sem medicamentos para tratar Hepatite C, em Sapucaia do Sul
Em 2008, Maria de Lourdes descobriu que tinha a doença ao tentar doar sangue, mas somente em 2016, a doméstica fez o primeiro tratamento com coquetel de remédios do Ministério da Saúde
A doméstica Maria de Lourdes Menezes Pereira, 50 anos, mora em Sapucaia do Sul e, desde 2008, sofre com os efeitos da Hepatite C — doença viral que resulta na inflamação do fígado.
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Seu marido, o motorista Albani dos Santos Pereira, 59 anos, explica que, depois de diversas tentativas de atendimento, ele não sabe mais a quem recorrer:
— É uma sensação de total descaso. Não sei mais o que fazer, eu olho para minha esposa e a vejo se acabando. É desesperador.
Em 2008, Maria de Lourdes descobriu que tinha a doença ao tentar doar sangue. Logo agendou uma consulta com um infectologista — especialidade médica responsável pelo estudo das doenças causadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos e animais.
Tratamento
Durante o atendimento, foi informada de que seu caso era de "nível 1" e que não precisaria de tratamento imediato.
— Na época, achamos estranho. Ela já estava com amarelão (icterícia), com menos apetite e tinha emagrecido bastante. Em 2013, teve os mesmos sintomas, mas, na consulta com o infectologista, ele só disse que o caso tinha evoluído, mas ainda sem previsão de tratamento — conta Albani.
Somente em 2016, a doméstica fez o primeiro tratamento com coquetel de remédios distribuído pelo Ministério da Saúde. Entretanto, a medicação foi rejeitada pelo corpo de Maria de Lourdes e não possibilitou nenhuma melhora no quadro.
Já em 2017, com 75% de avanço na doença e uma grave cirrose, com expectativa de transplante do fígado, o médico da moradora de Sapucaia encaminhou um pedido de importação de medicamento aos órgãos públicos.
— É um remédio caro, custa cerca de R$ 107 mil por caixa. Já tivemos o pedido negado e, agora, não sabemos a quem recorrer. Não conseguimos internação nem esse tratamento — explica o motorista.
Maria de Lourdes sofre com os sintomas da hepatite e, como conta o marido, possivelmente, está desenvolvendo depressão:
— Ela fala que está sem forças para viver, que não sabe mais como lutar com isso. É muito triste.
Por enquanto, a única solução em que a família deposita suas esperanças é em uma consulta no Ambulatório de Infectologia, de Sapucaia do Sul, no dia 16 de julho, marcada a pedido de Albani e Maria.
Sem data para entregar remédios
A prefeitura de Sapucaia do Sul informou que o médico responsável pelo caso de Maria encaminhou um novo pedido de tratamento, após a Justiça ter negado o pedido de importação. O novo coquetel é de responsabilidade do Estado, que já deferiu a solicitação.
A prefeitura explicou que o tempo de entrega depende, agora, dos trâmites do governo estadual. A administração municipal confirmou a marcação da próxima consulta de Maria para o dia 16 de julho.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) declarou que o processo de Maria foi deferido em 22 de maio. A compra dos medicamentos ribavirina, daclatasvir e sofosbuvir — solicitados pelo médico da paciente — é feita pelo Ministério da Saúde, que entregou, em março, os pedidos referentes às solicitações feitas até janeiro deste ano.
O Ministério da Saúde informou à reportagem que está em processo de compra dos medicamentos indicados para o tratamento da hepatite. Entretanto, não divulgou um prazo de recebimento, já que depende da finalização da aquisição.
*Produção: Leticia Gomes