Seu problema é nosso
Após cirurgia em bebê ainda no útero, casal de Canoas busca conclusão de tratamento
Com 27 semanas de gestação, Kayron foi diagnosticado com má-formação dos ossos da coluna vertebral
Desde o final de julho em São Paulo, Taís Kiana da Silva e o marido, Gilberto Bica, 41, moradores de Canoas, precisaram sair de sua cidade atrás de uma cirurgia para o filho. O bebê foi diagnosticado com mielomeningocele, uma doença que causa má-formação dos ossos da coluna vertebral e das estruturas que a protegem. O procedimento exigia urgência e, pelo SUS, só podia ser feito em São Paulo.
Leia mais
Em Alvorada, promessa de conclusão de obra já se arrasta há cinco anos
Rompimento de rede provoca abertura de buracos em pátios de Porto Alegre
Esgoto transbordando atrapalha rotina de aulas em creche de Porto Alegre
O diagnóstico veio com um prazo apertado: em 6 de junho, uma ecografia morfológica acusou a doença em uma clínica de Porto Alegre. O pequeno Kayron tinha 15 dias para ser operado, ou poderia nascer sem movimentos de braços e pernas e até atraso mental.
— É uma noticia que nenhuma mãe quer receber, mas ou a gente age ou cai tudo por terra. Foi muito difícil. A gente chora, mas a gente age — conta a mãe de primeira viagem.
Solidariedade
A família acionou os amigos: com doações, arrecadou dinheiro e ganhou as passagens aéreas. Chegou na capital paulista em 20 de junho, já com consulta marcada para a manhã do dia 21. A cirurgia levou cinco horas no dia 26, na 26ª semana e dois dias de Kayron. O procedimento ocorreu bem e Taís recebeu alta na segunda passada (2).
A história de Kayron começou a tomar forma quando Taís mudou de escola de samba e entrou na Imperadores, em Porto Alegre. Envolvida com a organização do Carnaval desde a juventude, assim como Gilberto, os dois passaram a defender a mesma escola em 2008 — a assistente administrativa era coordenadora da área de passistas e o arte-finalista era do departamento de marketing. Em 2014, se conheceram, começaram a namorar e casaram.
Desde então nutrem o sonho de ter um filho, o segundo de Gilberto, pai também de uma menina de 14 anos, e o primeiro de Taís, sonho que ela alimenta desde os 15 anos.
Em fevereiro deste ano, pertinho do Carnaval, Taís se sentiu tonta em um dos ensaios. Fez teste de farmácia e de sangue. Deu positivo.
— Desde que descobri, aposentei a sandália e só ia na escola de rasteirinha, para ficar olhando bem quietinha. É um sonho tão antigo que quero curtir todos os momentos — conta.
"Promessas por ele", conta a mãe
Em São Paulo, com ajuda de assistentes sociais do hospital, o casal encontrou uma pensão familiar perto da unidade de saúde. Atenciosa, a dona do local passa no quarto da Taís "de manhã, tarde e noite", para conferir se está tudo bem.
Agora, o desafio é custear a hospedagem e a espera em São Paulo por Kayron: Taís e Gilberto precisam ficar próximo ao hospital pelo menos até o nascimento do filho, previsto para setembro.
O casal tenta se manter na capital paulista da mesma forma que conseguiu chegar lá: com a ajuda de amigos e pessoas que se sensibilizem com a história. Por isso, uma vaquinha na internet busca arrecadar R$ 15 mil, valor que vai servir para estadia, transporte, alimentação e alguns produtos que o bebê vai precisar. Lançada no último domingo (1º), a campanha juntou, até a manhã desta quinta, R$ 1.295. Quem quiser ajudar, pode acessar a vaquinha neste link.
Apesar do cenário, os pais do pequeno nutrem as "melhores expectativas", e recebem boas energias de familiares de Canoas, que mantém contato diário para acompanhar o trio em São Paulo.
— Tem 90% de chance de ele nascer quase sem sequelas. Ele é forte e vem melhorando a cada dia. A família toda está fazendo promessas por ele — brinca Taís.
Após a cirurgia, a equipe médica descarta a perda de movimentos do bebê, mas monitora possíveis contrações. Kayron, que acaba de completar 27 semanas de gestação, precisa nascer no período correto, de cesárea, porque o parto natural poderia ter complicações.