Transporte público
Primeiro dia com redução de horários gera indignação em passageiros da Vicasa
Com a mudança em algumas linhas e retirada de horários, passageiros precisam fazer trajetos maiores aos finais de semana
Os efeitos práticos das mudanças no transporte público de Canoas começaram a ser sentidos pelos usuários. Este domingo (27) foi o primeiro dia sem as linhas de integração da Vicasa nos bairros da cidade. Além disso, as linhas metropolitanas também passaram por alterações. Alguns trajetos foram cancelados e outros tiveram seus horários reduzidos. Na prática, a grade de horários é alterada diariamente, dificultando a rotina de quem depende do ônibus para se deslocar.
Leia mais
Redução de horários entre Canoas e a Capital deixa passageiros da Vicasa indignados
Os projetos que mudam a vida de quem anda de ônibus em Porto Alegre
Ônibus perdem espaço para o transporte irregular em Guaíba
Para quem mora na cidade, o ponto de desembarque na Capital é o Terminal Conceição, no Centro Histórico. No início da tarde, cerca de vinte pessoas formavam fila para o ônibus que sairia às 13h, em direção ao bairro Mathias Velho. Essa é a única linha que permanece fazendo o trajeto entre as duas cidades no final de semana. Quem precisa utilizar fica ligado ao site da empresa, já que os horários são escassos.
— Olha aqui, tem ônibus a cada três horas para voltar para Canoas — aponta auxiliar de serviços gerais Michele Costa, 25 anos, enquanto mostra a tabela de horários na tela do celular.
Realmente, só há cinco horários no domingo — cinco no sentido Capital/Canoas e cinco no sentido Canoas/Capital — entre Porto Alegre e o bairro Mathias Velho. Das outras 12 linhas metropolitanas disponíveis no site da Vicasa, nenhuma opera aos domingos.
— Tiraram a integração, aí temos que pegar os ônibus municipais para ir até uma estação do trem. Agora, também acabam com os horários nos finais de semana. E ninguém faz nada, a empresa manda e desmanda — reclama o operador de máquinas Leandro Moraes, 35 anos.
Gastos
No caso do porteiro Naldo Kraus, 57 anos, o gasto para vir trabalhar aos domingos tem gerado incômodo. Morador do bairro Rio Branco, ele precisa deslocar de táxi até uma estação do Trensurb. No fim da tarde, quando retorna ao município, precisa caminhar ou apanhar um táxi novamente.
— Como eu vou sair 6h da manhã, caminhar vinte minutos até a estação? A cidade não me dá segurança para isso. Pior, ainda tiram os ônibus. E tiraram o cobrador no final de semana, demora ainda mais, pois o motorista que precisa atender todo mundo — diz Naldo.
O rodoviário aposentado Afonso Faria Gonçalves, 64 anos, acredita que os efeitos destas mudanças no sistema de transporte serão ainda mais sentidas no final do verão, quando se encerra a época de férias.
— Imagina se já está essa confusão agora, que tem menos gente nas cidades. Quando voltar todo mundo, vai ser um caos — aponta Afonso, que foi funcionário da Vicasa durante mais de vinte anos.
Abaixo-assinado contra as mudanças
Elaine Santos, 52 anos, precisou recorrer a uma mudança no horário do seu plantão no Hospital de Clínicas (HCPA), na Capital. A moradora do bairro Rio Branco, em Canoas, é auxiliar de higienização no HCPA. Para escapar da escassez das linhas no domingo, trabalhou no sábado neste fim de semana.
Indignada com a mudança, ela aproveitou o dia de ontem para circular pelos bairros afetados e coletar assinaturas de usuários contrários as alterações feitas pela Vicasa. Segundo Elaine, cerca de 400 pessoas já assinaram o documento. Ela também procurou auxílio no Ministério Público de Canoas, onde deverá encaminhar uma denúncia sobre o tema nesta semana.
Motivação
Conforme a Metroplan, que fiscaliza o transporte metropolitano no Estado, as mudanças na Vicasa foram causadas devido ao grande número de reclamações sobre os serviços prestados pela empresa e também pela diminuição de passageiros. Por isso, a companhia acordou em mudar os horários e suprir a demanda com os ônibus da Sogal, que operam as linhas municipais de Canoas. Sogal e Vicasa são empresas de mesma propriedade, apenas operam sistemas diferentes. A primeira nas linhas municipais, a segunda nas metropolitanas.
Ainda conforme o órgão, o passageiro metropolitano que usar a integração da Sogal com metrô não terá prejuízo financeiro: seguirá pagando R$ 7,60.