Em busca de uma vida mais tranquila, a vendedora Roseli da Silva, 29 anos, com o marido e duas filhas pequenas, mudou-se para a zona rural de Gravataí, no distrito Costa do Ipiranga, em outubro do ano passado. O sonho da casa própria foi concretizado na Estrada Sítio São José. Contudo, a família não esperava que, em dias de chuva, sofreria prejuízos com alagamentos na região. 

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— Compramos lá, pois queríamos sair do aluguel. É muito tranquilo em relação à violência. Mas a gente não contava com enchentes. No barro, se consegue passar. Na água, não dá. É muito complicado. Sem contar que a perspectiva de perder mais alguma coisa, para quem já tem pouco, é horrível — conta a vendedora. 

Na chuvarada que ocorreu no final de abril, Roseli relembra momentos de medo: 

— A água bateu na minha porta, sendo que minha entrada tem três degraus. Se chovesse mais um pouco, iria entrar na minha casa. 

No trajeto para sua casa, ela encontrou obstáculos e teve que passar por dentro da água, que alcançou seu peito. 

— Se meu marido não estivesse comigo, tinha sido levada pela correnteza. Para chegar em casa, tenho que passar por esse local onde a água acumula — explica a vendedora. 

Segundo a moradora, seu carro foi tomado pela água, e sua cadelinha acabou morrendo. 

— Minha cachorra chegou a ser arrastada pela água. Depois que aconteceu isso, ela estava muito doente e não resistiu. Outros vizinhos também tiveram problemas com seus animais, pois vacas ficaram com água no pescoço, e chiqueiros, cheios de água — conta Roseli. 

Sem escoamento 

De acordo com ela, as enchentes na estrada têm sido frequentes depois que obras de asfaltamento na região começaram. 

— Tem um arroio que passa atrás da minha casa, onde deságua o excesso da chuva. Só que caminhões estão despejando terra no caminho desse arroio e impedido que a água escoe por ali — opina. 

Outra dificuldade, apontada pela moradora, é a chegada do transporte escolar até o seu endereço: 

— Minhas filhas não vão para a escola em dias de chuva. A van não consegue acessar por causa da água ou do barro, tem perigo de atolar. E, se alguém passar mal em dia de chuva, a ambulância não chega. Só de bote. 

Prefeitura fará um estudo na região 

Segundo a prefeitura de Gravataí, uma equipe da Secretaria Municipal de Obras Públicas e o subprefeito do distrito Costa do Ipiranga, João Eitor, estiveram no local na manhã de sexta- feira passada. De acordo com a pasta, “foi constatado que dezenas de casas foram construídas em uma localidade conhecida como Sítio São José”. Garante, ainda, que a região é área de banhado e “foi loteada e vendida de forma irregular, sendo que os proprietários possuem apenas contrato simples de compra e venda”. 

Desobstrução 

A prefeitura esclarece que, perto do endereço de Roseli, existe o Arroio Martins, e que a terra encontrada, segundo informações coletadas pela secretaria, são dos próprios moradores, “na tentativa de levantar seus terrenos e prevenir os alagamentos”. Sobre o problema com enchentes, o poder municipal afirmou que fará um estudo “para levantar o nível da Estrada do Chaparral, que dá acesso ao local e, ainda, solicitar um estudo da Fundação Municipal de Meio Ambiente (FMMA) para checar a possibilidade de uma limpeza no Arroio Martins, sendo que este possui extensa área de mata nativa no seu entorno”. 

Roseli confirmou a ida do subprefeito no distrito: 

— Foi feita uma breve reunião com os moradores, e o subprefeito prometeu que irá limpar o arroio e fará a canalização da rua. Espero que resolvam a situação, mas ele não deu previsão

Produção: Caroline Tidra 

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