Seu Problema é Nosso
Falta de água afeta moradores do Morro Agudo, em Porto Alegre
Desde a manhã de 15 de agosto, a realidade na comunidade é de torneiras secas e reservatórios vazios
Para quem mora na comunidade do Morro Agudo, na zona sul da Capital, coisas básicas do dia a dia, como tomar banho e lavar a louça, já se tornaram quase um luxo. Isso porque a região, na parte mais alta do bairro Campo Novo, sofre com a frequente falta d’água nas residências.
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Em 2017, o DG mostrou a situação da vizinhança que, na época, estava havia cinco dias desabastecida. Agora, desde a manhã de 15 de agosto, a realidade mais uma vez é de torneiras secas e reservatórios vazios, sobretudo para quem vive na Rua I — travessa da Estrada Jorge Pereira Nunes —, a mais afetada pelo problema.
— Aqui na Rua I, estamos completando 15 dias sem água. Nos primeiros, até vinha alguma coisa na madrugada, mas sem pressão para encher as caixas. Agora (na terça-feira), nem isso.
Temos pessoas com deficiência e crianças enfrentando dificuldades — diz o motorista Antonio Marcos Pinheiro, 57 anos, que mora há sete anos no local e relata que, mesmo quando há água, a pressão é baixa.
Reclamações Desde o dia 15, os moradores acionam a prefeitura por meio do Fala Porto Alegre. Foram ao menos 11 protocolos registrados: segundo a vizinhança, sem atendimento.
— Me sinto humilhado, pois estamos mendigando pela água, sendo que pagamos por isso — desabafa Antonio, contando que, apenas na Rua I, são cerca de 90 famílias afetadas.
O pescador Tibiriça Ubirajara Correa, 65 anos, também resolveu recorrer à prefeitura, mas se mostra desacreditado com a falta de resolução:
— Já não sei quantos protocolos abri. Em uma das ligações, falaram que tinha consertos em diversas ruas. Eu percorri todas elas para conferir e não encontrei nada.
A vizinhança têm ido à casa de familiares e amigos para tomar banho e pegar água. Moradora da região há mais de 30 anos, a aposentada Maria de Fátima Dalenogare, 65 anos, conta que precisou se mudar para a casa do filho, em outro bairro, para fugir do problema. Porém, não se sente confortável:
— Só vou em casa para dar comida aos cachorros, porque está tudo atirado. Estou com medo, porque, se no inverno está assim, imagina o que vamos passar no verão?
Marlene: vontade de ir embora
A empregada doméstica Marlene da Silva Andrade, 54 anos, está desanimada. A moradora, que sai pela manhã para trabalhar, relata que já não tem vontade de voltar para casa ao fim do dia. Para conseguir atender às necessidades básicas, ela conta que o filho coloca uma caixa-d’água na caçamba do carro e leva para encher em outro lugar. Mas, diz Marlene, não dá para continuar vivendo desse jeito:
— Desde que vim morar aqui (há 15 anos), a água sempre foi fraca. Porém, nesse sofrimento que estamos agora, nunca tinha acontecido. Trabalho o dia todo e, quando chego em casa, não tenho água nem para usar o banheiro. Se tivesse outra casa para morar, sairia daqui.
Consertos causaram o problema
Segundo o Dmae, a falta d’água ocorre em função de “serviços emergenciais ou programados” que impactaram a região. De acordo com o órgão, na semana passada, foram realizadas manutenções na Estrada Jorge Pereira Nunes e, no dia 21, ocorreu uma parada emergencial para troca de um registro na estação de bombeamento Cristiano Kraemer.
Na terça-feira, após contato da reportagem, o Dmae informou que estaria realizando consertos na região, sendo um na Estrada Jorge Pereira Nunes, onde foi identificada uma fuga drenada. Segundo os moradores, a água retornou, fraca, na noite de terça. Porém, já na manhã de ontem, faltou novamente.
Pressão
Quanto ao problema de baixa pressão na localidade, o Departamento informou que “está realizando obra de implantação de uma nova bomba na Estrada Cristiano Kraemer, que vai melhorar o abastecimento da parte alta da Estrada Jorge Pereira Nunes, com previsão de conclusão em outubro deste ano”.
Questionado sobre a possibilidade de enviar um caminhão pipa para abastecer a comunidade, o órgão não se manifestou.
Produção: Camila Bengo