Seu Problema é Nosso
Mulher com deficiência visual tem dificuldade em transferir consultas para mais perto de casa
Após uma crise de glaucoma, a moradora de Porto Alegre Valquíria Chaves de Lima, 41 anos, ficou completamente cega
A dona de casa Valquíria Chaves de Lima, 41 anos, moradora do Jardim Protásio Alves, na zona norte da Capital, perdeu totalmente a visão após ter glaucoma — doença causada pela elevação da pressão intraocular que provoca lesões no nervo óptico, responsável pela transformação do que se enxerga em imagens. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), se todo o nervo óptico for destruído, ocorrerá uma cegueira definitiva.
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— Há três anos, em dezembro de 2016, tive uma crise muito forte de glaucoma. Acordei sem enxergar nada, mas pensei que poderia ter solução. Logo, procurei um médico no Hospital de Pronto Socorro (HPS) — relembra Valquíria.
“Medo de sair”
Conforme a dona de casa, o médico lhe informou que a cegueira não era passageira e que ela precisaria com urgência de atendimento especializado. Na primeira semana de 2017, Valquíria foi encaminhada para consulta na Associação Hospitalar Vila Nova (AHVN), na Zona Sul. Como as dores seguiam, ela cruzou a cidade para ser atendida. Contudo, não sabia que o tratamento e a retirada dos remédios continuaria sendo no mesmo local.
Hoje, Valquíria busca transferência para o Hospital Banco de Olhos (HBO), na Vila Ipiranga, que fica mais perto de onde mora:
— Se tornou muito difícil ir até a zona sul. Tenho que pegar dois ônibus e demoro duas horas para chegar lá. Já perdi o horário marcado de consultas por conta do deslocamento. Além disso, para me acompanhar, minha fi lha, de 10 anos, tem que faltar à aula. Há dois meses, peço para ser atendida no Banco de Olhos, mas o posto de saúde empurra para o hospital e vice-versa. Ninguém consegue me desligar do Vila Nova — lamenta Valquíria.
Ela explica que retira remédios a cada três meses. Já as consultas são em torno de duas por ano. Mas, por conta da distância, ela não consulta desde meados de julho de 2018.
Antes de sofrer com glaucoma, Valquíria já tinha baixa visão. Enxergava apenas 10%, mas conseguia fazer bicos e caminhar sem acompanhantes. Segundo ela, sua deficiência visual advém do nascimento prematuro. A dona de casa conta que, quando acontecem as crises de glaucoma, não consegue se levantar:
— Tem dias que fico de cama, com náuseas e muita dor nos olhos. Preciso do acompanhamento médico, dos colírios e pomadas adequadas. Tenho colocado gelo nos meus olhos para aliviar a pressão.
Sem visão para fazer tarefas de casa, Valquíria pede ajuda de parentes e vizinhos:
— Ainda não consegui aceitar minha condição. Tenho muito medo de sair de casa, de caminhar na rua.
Transferência, só pelo posto de saúde
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que Valquíria possui histórico de faltas em consultas de reabilitação visual no Hospital Banco de Olhos. Segundo a pasta, com o agravamento do quadro da paciente, “ela necessitou ser encaminhada para o AHVN”, onde poderia ser atendida mais rapidamente do que em outro hospital.
Questionada sobre a possibilidade de se transferir o atendimento, a SMS explica que Valquíria pode solicitá-lo na Unidade de Saúde (US) do seu bairro. Contudo, há chances de o tempo de espera ser maior. A secretaria esclarece que “utiliza questões técnicas para conduzir os processos de encaminhamentos para consultas, sempre levando em conta a melhor forma de atendimento”.
Sobre transporte gratuito até o local de consulta, a SMS informa que, em casos específicos, ele pode ser requerido na US.
Valquíria confirma que faltou às consultas no HBO em 2017 e 2018 por que não teve companhia para se deslocar. Além disso, não tinha entendimento de que a reabilitação era uma consulta.
Produção: Caroline Tidra