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Solidariedade sobre duas rodas

Parceria entre motoboys promove doações a profissionais acidentados

Grupo distribui cestas básicas aos colegas que estão afastados do trabalho

24/12/2019 - 09h10min

Atualizada em: 24/12/2019 - 09h21min


Jéssica Britto
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TADEU VILANI / Agencia RBS
Grupo, que já promovia festa de Dia das Crianças, decidiu fazer a ação de Natal

Segundo a EPTC, de janeiro a novembro deste ano, 3.097 motocicletas se envolveram em acidentes de trânsito em Porto Alegre. Destes, 42 resultaram em mortes e 2.863 em feridos. Este número representa 64% do total de mortes no trânsito no período, na Capital. Se por si só os números já chamam a atenção, eles também refletem a preocupação de uma categoria que busca por mais visibilidade e valorização, a dos motoboys.

Na tentativa de aproximar os profissionais, um grupo de Porto Alegre e Viamão tem se empenhado em ajudar o próximo. Além da tradicional festa do Dia das Crianças realizada anualmente, agora, a turma está promovendo uma ação especial de Natal. A ideia é beneficiar os próprios colegas de profissão que sofreram algum acidente ou familiares que perderam parentes em acidentes de trânsito com cestas básicas. 

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Muitas vezes, com dificuldades de acessar benefícios por conta da burocracia ou por não contribuírem com o INSS, motoboys acidentados enfrentam privações para conseguir bancar as despesas pessoais e de casa. É nessa hora que entra a solidariedade dos amigos. No dia 17, os primeiros motoboys beneficiados pela iniciativa receberam as cestas básicas.

— Quando um não pode correr, os outros correm por ele! — definem os envolvidos.

Apoio

Para Marcelo Felipe Corrêa, 46 anos, o Ninja, essa história começa às 10h30min do dia 12 de fevereiro de 2018, quando, próximo de casa, no bairro Jardim Botânico, sofreu um acidente de moto. Pelas suas contas, em 13 anos como motoboy, era a 22ª colisão, mas a que iria transformar a sua vida para sempre. Ninja sofreu uma lesão na medula e, desde então, depende de uma cadeira de rodas para se deslocar. Como não pagava a Previdência, não conseguiu o auxílio-doença. Até hoje, sobrevive com a contribuição de amigos e até desconhecidos.

— Faço parte de muitos grupos de WhatsApp e, desde que sofri o acidente, começou a repercutir por todos os lados, inclusive internacionalmente. Recebi ajuda até de motociclistas de Londres e vivo assim há quase dois anos com meus irmãos apoiando — conta.

Assim como ele, Alberto Oliveira, 24 anos, e Thiago Oliveira, 25 anos, levaram para casa alguns sacos de arroz, feijão, açúcar, entre outros itens que, por mais pouco que possa parecer, chegam em um momento de muita necessidade para eles e suas famílias.

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Categoria se une em prol da solidariedade

Amor pelo ofício

Thiago sofreu um grave acidente na Avenida Bento Gonçalves há três meses. Após o carro passar por cima do seu corpo, teve as costelas, clavícula e escápula quebradas, pulmão esmagado e traumatismo craniano. Ficou 15 dias em coma e um mês internado. Durante dois meses tentou o auxílio-doença no INSS, sem sucesso. Quando finalmente conseguiu, teve o benefício liberado por apenas um mês. 

— Minha esposa não trabalha, tenho um filho de três anos, e estou vivendo de doações, com a ajuda dos motoboys. É difícil pensar em voltar trabalhar, ainda sinto falta de ar, tonturas, mas parece que para o INSS a gente está sempre mentindo, somos uma classe desvalorizada — reclama.

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Apesar de todos os desafios e perigos, muitos desses profissionais do asfalto não pensam em abandonar a carreira. Motoboy há 28 anos, Jorge Moraes, 55 anos, diz que o gosto de liberdade não tem preço. E mesmo depois de passar a semana trabalhando, quando o chega o fim de semana, a primeira coisa que faz é pegar a motocicleta e sair para viajar.

— Comecei carregando uma caixa de madeira, por isso me chamam de dinossauro. Infelizmente, sofremos bastante. Têm restaurantes em que chegamos e alguém já diz: motoboy tem que esperar lá na rua. Não nos deixam ir ao banheiro. Mas não adianta, é o que eu gosto de fazer — sentencia Jorge.

Distribuição de cestas continua

Até o fim do ano, os trabalhadores seguirão arrecadando alimentos para distribuir entre os colegas. Conforme um dos organizadores, Ivan Roberto Dias, 47 anos, não há um número pré-estabelecido de cestas a serem recolhidas – conforme as doações vão chegando serão distribuídas.

— Queremos mostrar para cidade que estamos unidos para promover ações sociais, olhar para o próximo. Não estamos no trânsito para causar acidentes, mas para levar o pão e o leite para nossas casas — explica.

Os donativos podem ser entregues no Pura Gula Lanches (Estrada João de Oliveira Remião, 3.889, Lomba do Pinheiro) ou no Sindimoto (Rua Itaboraí, 1.090, bairro Jardim Botânico). Mais informações com Ivan pelo telefone (51) 99924-0424. 



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