Conscientização
Mãe de menina autista marca passagem do Dia Mundial do Autismo com pinturas no muro de casa
A passagem da data, normalmente, é marcada por atividades nas ruas de todo o país, mas devido à pandemia de coronavírus, as ações tornaram-se inviáveis
Um muro com cores, desenhos e palavras foi a maneira que a professora de educação infantil Érika Karine Rocha Dallavechia, 40 anos, de Porto Alegre, encontrou para ajudar a esclarecer a comunidade sobre o autismo. Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo — um transtorno de desenvolvimento que se manifesta, geralmente, antes dos três anos de idade e caracteriza-se por alterações na comunicação e no relacionamento interpessoal e por um repertório de interesses restrito, por vezes, com a fixação em um único tema.
A passagem da data, normalmente, é marcada por atividades nas ruas de todo o país. Na capital gaúcha, é realizada uma caminhada pela Redenção. Contudo, devido à pandemia de coronavírus, a ação tornou-se inviável.
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— Essa data é muito importante para os autistas e para suas famílias. É um momento em que podemos divulgar o transtorno e gritar por direitos, por tratamento e por amparo. Então, como não haverá a “caminhada azul”, cor que representa o autismo, pensei em fazer o muro como forma de conscientizar a comunidade onde eu moro, o Beco São Pedro, no bairro Partenon — explica Érika, que é mãe da Angelina Rocha Dallavechia Luz, três anos, diagnosticada com autismo.
Segundo Érika, além da pintura do muro, foram colocados pneus decorados com flores na calçada. A ideia inspirou outros pais e familiares a fazerem o mesmo:
— Divulguei em grupos nas redes sociais e muitas pessoas gostaram da iniciativa e vão pintar também. Nesse momento de isolamento, temos que interagir pela internet e, por isso, a comunidade que faz a conscientização do autismo convida as famílias a soltarem balões azuis e a pendurarem tecidos azuis em suas janelas nesta data. É nossa forma de gritar sobre o autismo, começando pelo lugar onde vivemos.
Para Érika, a situação de isolamento que a população está passando pode ser comparada ao que os autistas passam:
— Estar em casa todo o tempo é uma reclusão que a gente, família do autista, vive o ano todo. A criança com autismo tem dificuldade de interação social e não tem amigos, e outras crianças, por não entenderem, não se aproximam. A conscientização serve para que a população e o governo enxerguem os autistas.
Érika conta que, desde o nascimento da filha, não consegue mais exercer sua profissão, pois dedica seu tempo aos cuidados com a menina. Hoje, elas dependem do benefício do INSS e da venda de balas de coco caseiras (interrompida devido à pandemia) para custear o tratamento e os gastos diários.
Angelina, diz a mãe, precisaria ter mais sessões de terapia ocupacional e de acompanhamento fonoaudiológico para o seu desenvolvimento, mas faltam recursos para pagar por elas. Além disso, Érika aguarda a vaga no ensino de educação infantil para a filha, que ainda não foi disponibilizada pelos órgãos de educação.
— Precisamos do amparo legal, pois não é um favor, é direito. O governo estadual prometeu centros de especialização para atendimento do público autista, contudo, é uma promessa que ainda não foi implementada — lamenta.
Lei sancionada, mas sem previsão
Em 2 de outubro do ano passado, a Lei Gaúcha Pró-Autismo foi sancionada pelo governador Eduardo Leite, que prometeu colocar o Rio Grande do Sul em posição de vanguarda nas políticas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A lei prevê uma série de iniciativas para garantir o desenvolvimento e a inclusão de indivíduos com o transtorno. Mas não haveria nenhuma medida prática prevista, sendo o texto considerado como um primeiro passo para ampliar e qualificar o atendimento a essas pessoas e seus familiares. De acordo com o texto da Lei 15.322/2019, a ideia é oferecer serviços de saúde, educação e assistência social, além de estender o amparo às famílias dessas pessoas.
Produção: Caroline Tidra