Zona sul da Capital
Com camelódromo fechado, comerciantes instalam lonas e se abrigam sob marquises na Restinga
Centro de compras do bairro foi fechado na quarta-feira, por determinação da prefeitura de Porto Alegre . Executivo diz que atuação é irregular e promete ações de fiscalização
O aniversário de quatro anos do Camelódromo da Restinga, celebrado no dia 17 de junho, não teve festa. Uma semana após a data, o centro popular de compras de um bairros mais pobres da cidade foi fechado por decreto, em uma tentativa da prefeitura de Porto Alegre de conter o avanço do coronavírus.
Na manhã desta quinta-feira (25), quem não pode deixar de trabalhar "deu seu jeito", como definiu o vendedor de brinquedos e eletrônicos Marcelo Rodrigues Witt, 49 anos, dono da Banca do Alemão.
— Camelô sempre foi assim, a gente se reinventa todo os dias — compara, enquanto enxugava a água acumulada na calçada, debaixo da forte chuva que atingiu a região às 9h.
Em casa, Witt vive com a esposa. As três filhas são independentes e já deram dois netinhos para o casal.
Mesmo sem ter de sustentar as suas "meninas", ele afirma não poder parar de trabalhar, para conseguir pagar as despesas do dia a dia. Ajeitando as araras de roupas, o comerciante estava abrigado sob lonas azuis e vermelhas, suspensas na calçada no lado oposto ao centro popular de compras.
De acordo com o presidente do Camelódromo, Osvaldo da Silva Prates Júnior, 44 anos, uma contribuição mensal, semelhante a taxa de condomínio, é paga pelos 48 lojistas, o que possibilita quitar as despesas de água, luz, limpeza e segurança do prédio. Com o fechamento, um dos dois prestadores de serviço de vigilância foi dispensado.
Nas primeiras horas desta quinta, em torno de 20% dos expositores estavam vendendo seus itens na rua.
— Ontem a gente foi pra rua com sol, hoje estamos na rua debaixo de chuva. São os extremos que estamos vivendo — afirma Éder Rocha, 41 anos, da Loja do Turquinho.
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O movimento foi muito baixo, prejudicado pelo mau tempo. A circulação de pedestres caiu consideravelmente após as novas regras instituídas pela prefeitura, de acordo com o relato dos comerciantes.
Não havia fila sequer em frente à lotérica e à Caixa Econômica Federal, onde centenas de pessoas costumam aguardar para acessar os benefícios do governo federal criados para reduzir o impacto econômico da pandemia.
Nas paradas de ônibus, o número de passageiros caiu após as 8h30min. No horário de pico, entre 6h e 8h, muitos usuários do transporte público tiveram de aguardar até três vezes mais para encontrar um coletivo com espaço livre nos bancos — desde quarta-feira, não é permitido circular em pé nos ônibus da Capital.
Sob a marquise do camelódromo, mais um grupo estendia seus produtos no começo da manhã. O ponto foi escolhido porque eles não possuíam uma lona, como os colegas do outro lado da rua.
Ao lado de um cartaz escrito que é "obrigatório uso de máscara", Lilian Souza afirma que, se deixar o negócio, não tem como alimentar a família. Todos vivem da renda dos acessórios comercializados pela autônoma, de 48 anos.
— Ficamos 62 dias fechados. Perdemos o Dia das Mães e agora isso. Tá muito difícil — conta.
Cada um dos ocupantes do Camelódromo levou seu estoque para casa, um transtorno extra para manter a atividade. Álcool gel e dispenser foram instalados na entrada do comércio, que está agora com as cortinas de ferro baixas.
Considerado por Lilian "um local pequeno", ela rejeita as afirmações de aglomerações por parte de clientes. O custo para adaptar o espaço foi considerável, segundo a lojista.
— Eu como daqui, meu marido e meus filhos também. Não posso parar — finaliza, enquanto observa quem passa em frente ao ponto de venda.
O que diz a prefeitura:
A Diretoria de Fiscalização da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) informa que estão previstas ações de fiscalização da região da Restinga e que a atuação de ambulantes é irregular, não estando autorizada pela prefeitura.