Acolhimento na recuperação
Em apenas um mês, ambulatório pós-covid-19 do IAPI dobra atendimento e ganha reforço de estagiários
Espaço criado para tratar os traumas deixados pela doença conta com fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e, em setembro, deve oferecer fonoaudiólogo
Criado exclusivamente para tratar as sequelas da covid-19, demanda cada vez maior nos hospitais e unidades de saúde, o ambulatório de reabilitação do Centro de Saúde IAPI, na zona norte de Porto Alegre, dobrou o atendimento em apenas um mês e já conta com reforço de professores universitários e estagiários.
Quando foi inaugurado, ao lado do setor de fisioterapia, em julho deste ano, o ambulatório acolhia 10 pacientes por semana, atendidos pelos profissionais da casa. São enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionista e até psicólogo que tratam os traumas físicos e emocionais deixados pela doença. A agenda ficou mais cheia a partir de agosto. Agora, atende 20 pessoas por semana. No total, são 53 pacientes vinculados.
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A ampliação só foi possível com o auxílio de estudantes e professores universitários. O ambulatório já inaugurou com parceria firmada com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Recentemente, também abriu as portas para receber sete estudantes de fisioterapia e enfermagem da Unisinos, que são guiados por um professor.
— Os profissionais da Unisinos já começaram com vários pacientes agendados, que estavam esperando esse atendimento. Com a vinda dos alunos, conseguimos acolher mais pacientes — conta a fisioterapeuta Aline Casaril, coordenadora do ambulatório.
Há dois lugares que atendem sequelas da covid-19 pela rede municipal de saúde da Capital e a porta de entrada são as unidades básicas. Se a pessoa apresenta um caso mais complexo, como problemas cardíacos, é encaminhada ao Hospital de Clínicas. Se for mais simples, pode seguir para o IAPI, onde a maioria chega reclamando de fadiga, que permanece após a doença.
— São pessoas que levantam da cadeira, caminham 20 metros e se cansam. Chegam no consultório já sem ar. Não conseguem fazer coisas básicas, precisam de ajuda para tomar banho ou até conseguem fazer sua higiene, mas não conseguem fazer comida, limpar a casa. Não têm fôlego — diz Aline.
Nessas situações, o paciente é encaminhado para a fisioterapia. Pode acontecer de apresentar outros problemas provocados pela covid-19, como perda de massa muscular ou mesmo aflições emocionais, atendimento integral que o ambulatório do IAPI busca suprir. Quem faz essa triagem é um profissional da enfermagem, que observa cada situação e faz os encaminhamentos.
Depois de ficar entubada por quase 20 dias por causa da covid-19, Solange Terezinha Fogaça, 57 anos, ficou com o lado direito do corpo afetado. Perdeu o movimento da perna e de dois dedos da mão. Passou a fazer fisioterapia no ambulatório do IAPI e recebeu até sessões de acupuntura, pelas mãos da própria Aline.
Ao contar aos profissionais sobre o que viveu na cama do hospital, a experiência do isolamento e a incerteza sobre a vida, Solange foi convidada a ter um encontro com a psicóloga. E gostou.
— Tem coisas que ficam, que a gente precisa conversar com alguém. A gente passa por um período difícil. Depois que tu sai do coma, que tu é desentubado, fica sozinho muito tempo dentro do hospital, precisando de familiar, e não podia por causa da covid... Tudo isso deixa traumas na gente — confessa.
Diante de um vírus que não dá sinais de ir embora, o ambulatório do IAPI vai ganhar mais um tipo de atendimento a partir de setembro — o de fonoaudiólogo — e não há qualquer previsão para encerrar o serviço especializado para quem sofreu com a covid-19.
— Não imagino que em menos de um ano a demanda de pacientes com sequelas pós-covid-19 diminua. Vai levar um bom tempo ainda — projeta Aline.