Seu Problema é Nosso
Espera por análise de pedido de estudante ultrapassa os cem dias
Já tendo se esgotado o prazo de análise estimado pelo INSS, até o momento, não houve um andamento em seu processo.
Em 2019, a estudante de Jornalismo Julia Schutz, 26 anos, iniciou seu trabalho no setor administrativo de uma rede de supermercados gaúcha. Porém, em março deste ano, devido a problemas de saúde, precisou se afastar de suas atividades. Em abril, a estudante fez a solicitação, no sistema do INSS, de auxílio por incapacidade temporária. Já tendo se esgotado o prazo de análise estimado pelo próprio órgão, até o momento, não houve um andamento em seu processo.
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No final de março, Juliana, que é moradora do bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, apresentou sintomas graves de depressão e ansiedade. Seu pai, o comerciário Carlos Schutz, 60 anos, comenta que a filha faz acompanhamento psicológico há muitos anos, por ter autismo leve, condição que se enquadra no chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Crises
– É uma menina inteligente, vai super bem na faculdade, mas às vezes a síndrome gera as suas crises. Isso acontece, e ela precisa ficar recolhida – comenta Carlos.
Transtorno do Espectro Autista é uma condição genética, e não se configura como uma doença ou enfermidade. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a TEA se caracteriza por diferentes graus de comprometimento no comportamento social, na comunicação ou na linguagem de uma pessoa. Porém, o espectro autista é amplo. Isso significa que a forma como irá se apresentar em alguém varia conforme seu nível.
No caso de Julia, que tem o autismo leve, antigamente conhecido como síndrome de Asperger, essa condição não interfere, necessariamente, na capacidade intelectual ou na fala.
Sintomas
Alguns de seus sintomas mais comuns são problemas com habilidades sociais, comportamentos repetitivos e dificuldade em interpretar linguagem corporal, dentre outros. Depressão e ansiedade também estão entre as condições que podem se desenvolver.
Julia: “Estou em um limbo”
Com o agravamento do quadro de depressão de Julia, seu médico recomendou o afastamento do trabalho por 60 dias. Carlos confessa ter sugerido à filha que não desse entrada em um pedido de benefício junto ao INSS, devido ao risco de o órgão demorar para dar um retorno. Mas, não tendo condições de continuar suas atividades na empresa, ela fez a solicitação.
Passados cem dias da realização de seu pedido – que gerou o protocolo de atendimento número 1059932678 –, a solicitação ainda não foi analisada. O prazo que o INSS tem para realizar esse tipo de procedimento é de 90 dias. Julia comenta que, quando liga para o órgão, em busca de explicações sobre a demora, apenas informam que ela deve seguir aguardando.
Hoje, ela se sente melhor do que estava em março, quando precisou se afastar. Porém, sem uma resposta ao seu pedido, o processo fica trancado e ela não pode dar continuidade à sua solicitação. Assim, é impedida de voltar ao trabalho e segue sem receber o benefício.
– Estou em um limbo. Dependo da resposta deles para marcar a perícia, para saber se vai dar ou não (para receber o benefício). Porque é o médico da perícia quem irá dizer se irão me dar alta ou se irão dar um prazo determinado para eu voltar ao trabalho. Mas, até agora, nada. Só fica ali parado em análise. Eles apenas dizem que tem que esperar – finaliza Julia.
E ela não veio
Em 29 de julho, a reportagem fez o primeiro contato com o INSS, perguntando o motivo da demora para a análise do pedido ser concluída e se havia um novo prazo para o procedimento ser realizado. Foram feitos cinco contatos ao longo de sete dias. O órgão apenas informou que a demanda foi enviada à Superintendência Regional Sul, localizada em Florianópolis (SC), pois a análise depende da Perícia Médica Federal. Por três dias, contatamos a Regional Sul, mas não obtivemos retorno. Até o fechamento desta reportagem, o INSS não deu retorno.
Produção: Émerson Santos