Cesta básica
Carne acumula alta de 17,7% em Porto Alegre neste ano, conforme Dieese
Produto nem está entre as maiores altas da cesta básica, mas acréscimo pesa no bolso das famílias brasileiras
Em Porto Alegre, comprar carne ficou 17,7% mais caro do que em janeiro — e 35,9% mais caro do que há um ano. Os dados são do levantamento da cesta básica de agosto em Porto Alegre, feito mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). A carne até apresentou um recuo comparação entre julho e agosto, mas o número é quase insignificante, de 0,04%. Apesar de ter praticamente mantido o preço em agosto, a carne sempre representa uma fatia maior das compras, em razão do preço elevado. Além do alimento, três itens recuaram de preço na comparação mensal, enquanto outros oito subiram de valor.
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O feijão foi o único produto que não apresentou mudança de preço. Segundo o Dieese, "os altos patamares de preço do feijão preto e do tipo carioquinha têm reduzido a demanda, devido ao empobrecimento das famílias". Seu fiel companheiro, o arroz, recuou 1,22%, mas ainda tem alta de 22,53% acumulada nos últimos 12 meses. O departamento pontua que "parte da colheita foi retida pelos produtores com o objetivo de manter o preço elevado, mas as indústrias beneficiadoras reduziram a compra do grão, uma vez que a demanda pelos consumidores finais foi menor". Com o fim do auxílio emergencial e um cenário de dificuldade econômica assolando as famílias de baixa renda, alimentos básicos como arroz e feijão, pelo jeito, já não ocupam tanto o posto de alimentos mais frequentes no prato dos brasileiros.
Variações
Na variação entre julho e agosto, as maiores altas foram da batata (11,85%) e do café (10,95%). Os outros produtos com elevação obtiveram acréscimo inferior aos 5%. Entre quem baixou de preço, o destaque fica por conta da banana (-2,38%) — os outros alimentos recuaram menos de 1,5%. Com exceção da batata e do café, que chegaram ao dois dígitos de variação, a cesta ficou bastante estável na comparação entre julho e agosto. Segundo o Dieese, a variação foi mensal foi de 1,18%. No ano, o grupo de itens subiu 7,96%. E nos últimos doze meses, a alta é de 35,9%.
A cesta básica da Capital fechou agosto custando R$ 664,67. Com isso, Porto Alegre se mantém com a cesta mais cara do país, como ocorreu no levantamento do mês passado. O segundo lugar é de Florianópolis, com R$ 659. A cesta mais barata do país, segundo o Dieese, está em Aracaju, custando R$ 456,40.
Cenário difícil para projeções
Conforme a economista-chefe do Dieese-RS, Daniela Sandi, "é difícil fazer projeções nesse cenário tão instável e nebuloso". Mas, segundo ela, a baixa oferta de animais para abate no campo, as exportações em alta e o alta dos custos dos insumos (farelo, combustíveis, energia, entre outros) são alguns dos fatores que encarecem e pressionam os preços da carne. A economista pontua, entretanto, que o consumo de carne no país é o menor dos últimos 25 anos, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
— Boa parte da população não consegue mais consumir carne pelo seu preço. Num primeiro momento, houve a substituição por carnes mais acessíveis como frango e suínos, mas ambas também subiram de preço acima da inflação, assim como o ovo. Então, para muitos já não é mais nem uma opção — lamenta Daniela.
O cenário atual é basicamente o seguinte, como explica a economista: os custos elevados de produção aumentam os preços dos alimentos bem acima da inflação, dificultando ainda mais o consumo, até mesmo de itens básicos, que já estão afetados em razão da perda de empregos e renda que assola o país.