Lutando pela inclusão
Iniciativa em Gravataí oferece aulas de muay thai a crianças e adolescentes com deficiência
Alunos são atendidos gratuitamente por projeto que existe há pouco mais de um ano
A luta pela inclusão foi para o tatame em Gravataí: um projeto na cidade tem ensinado muay thai a crianças e adolescentes com deficiência. A iniciativa, chamada de Muay Thai Lutando pela Inclusão, é gratuita e fruto de uma parceria entre a Associação Camaleão Azul e a escola de artes marciais World Thai, onde as aulas são realizadas. Os alunos são atendidos pela associação, uma instituição sem fins lucrativos, que oferece oficinas e amparo pedagógico e médico a pessoas com deficiência, residentes de Gravataí, a partir de quatro anos de idade.
Atualmente, são duas turmas de muay thai, com sete alunos cada. E a repercussão tem sido positiva, segundo a presidente da associação, Patrícia Pereira, mãe de dois participantes do projeto, um deles com autismo.
— Eles amam, gostam muito e as mães também. A aula de muay thai é muito linda de assistir porque tem muita disciplina e, para nós, ver nossos filhos em fila é uma alegria — conta, mostrando que algo que parece simples pode se tornar uma conquista.
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Parceria
O projeto foi criado em fevereiro do ano passado. Pelas redes sociais, ainda em 2020, Patrícia conheceu o trabalho que a World Thai realiza com crianças em situação de vulnerabilidade social. Ela chegou a conversar rapidamente com o proprietário do local, professor Patrick Silva, quando o viu fazendo arrecadação para uma ação social. Mas, somente no início de 2021, uma reunião entre eles foi marcada para fazer um convite — e a surpresa foi que Patrícia e Patrick tinham a mesma ideia em mente.
A iniciativa de propor uma parceria na área esportiva levou em conta a dificuldade de conseguir matricular pessoas com deficiência em academias, explica Patrícia. E também os benefícios cognitivos e físicos da prática.
Ensinando a arte
Nas aulas, se "ensina realmente o muay thai", destaca o professor Patrick. Técnicas que utilizam joelho e cotovelo, chute, além do aquecimento inicial, por exemplo, fazem parte da rotina, respeitando as limitações de cada aluno.
Como destaca Patrick, a importância dos esportes para pessoas com deficiência, em primeiro lugar, é a inclusão. Em relação ao muay thai, ele viu que o projeto ajudaria também a revelar um outro lado da arte marcial:
— Para mostrar que o muay thai não é só agressividade, não é só a parte de competição, também conseguimos trabalhar essa parte mais de esporte mesmo, lazer para as crianças, trabalhando com coordenação motora, respeito, hierarquia.
A World Thai fica no bairro Barnabé e foi criada em 2013, mas Patrick está neste meio desde 2006. Após um acidente de moto, ele buscou nas artes marciais uma forma de fisioterapia e de inclusão. Hoje, preside uma associação na área e é árbitro de muay thai.
Respeito às regras
Mãe de trigêmeos, a estudante e doceira Adriana Rodrigues Padilha, 48 anos, resolveu entrar em contato com a Camaleão Azul durante a Semana da Pessoa com Deficiência de 2021, quando viu que uma das atividades oferecidas era o muay thai. Um de seus filhos foi, gostou e, depois, os três passaram a frequentar.
Bruno, Lucas e Nicolas Rodrigues Constante, 11 anos, foram diagnosticados com autismo por volta dos três. É na socialização, na disciplina e no emagrecimento que Adriana percebe que as aulas estão ajudando.
— Eles estão mais calmos, estão aprendendo a respeitar mais a questão das regras porque, no início, eles têm toda uma rotina de chegar lá, não pode estar com calçado, tem que tirar, tem que pedir permissão para o professor, cumprimentar os colegas — exemplifica.
Impacto físico
Outro participante é Renan de Matos Bopsin, também de 11 anos. Ele frequenta o muay thai há cerca de quatro meses e conta que está gostando. O pai, o motorista Elder da Luz Bopsin, 38 anos, diz ter notado uma melhora na coordenação motora do filho, diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), autismo e uma síndrome considerada rara, hoje estacionada.
— Já estamos vendo bastante melhora dele em relação à agressividade e a outros tipos de coisa que desencadeavam nele, está melhorando bastante, em pouco tempo — relata o pai.
Renan é uma das 26 crianças e adolescentes que participam ativamente das oficinas da Camaleão Azul. Ao todo, a entidade tem contato com 106. A instituição foi criada em 2019 por um grupo de mães de pessoas com deficiência e de simpatizantes da causa, percebendo que faltavam atividades estimulantes para seus filhos na cidade.
Para ajudar
/// A associação aceita ajuda de mantenedores e doações de tampas, latinhas e lacres em sua sede, na Rua Arquimino Bitencourt, 21, no bairro São Vicente.
/// É possível entrar em contato pelos canais disponíveis no site www.camaleaoazul.com.
Produção: Isadora Garcia