Coluna Lado C
Carol Anchieta, da RBS TV, fala sobre as lutas das mulheres: "É preciso perder o medo de encarar o feminismo"
Jornalista faz parte de grupos de estudos sobre feminismo e representatividade
Há cerca de seis meses na telinha da RBS TV, a jornalista Carol Anchieta, 37 anos, é a voz das mulheres, da cultura urbana, da diversidade de gênero e das questões raciais. O desafio em cada reportagem do Jornal do Almoço é falar "com" essas pessoas e não "sobre" elas.
Em um bate-papo com a Carol, dá para perceber a paixão pela profissão e o quanto a jornalista se sente privilegiada por poder representar a mulher negra em um espaço onde ainda há poucas representantes. Confere aí!
O que te motiva como jornalista?
Sou uma ativista do feminismo negro, da cultura urbana, da cultura que vem da rua e da diversidade de gênero. A gente precisa discutir essas questões com responsabilidade. A imprensa precisa falar "com" e não "sobre" essas pessoas.
É difícil lutar pelos direitos das mulheres?
O mais difícil é perceber que a luta feminista ainda é necessária entre as mulheres. É preciso perder o medo de encarar o feminismo e perceber as vantagens que traz. Mesmo que uma mulher não seja engajada, é importante não desmerecer, porque muitas outras estão aí, livres, porque existe feminismo.
Fazes parte de dois grupos de estudos (Atinuké e Emancipa Mulher). Qual é o teu sentimento em poder representar estas mulheres?
Eu sou muito privilegiada e muito única no sentido de ter voz em um espaço em que ainda somos muito poucas. Justamente por isso, me sinto na responsabilidade de dar voz. E não só às mulheres negras, mas aos negros, aos gays... a todos que sofrem de alguma forma, porque as dores nos aproximam. É preciso olhar o outro lado, entender a dor e participar da mudança.
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De onde vem toda essa vontade de dar voz aos outros?
Minha preocupação com o outro vem muito dos meus pais. Meu pai (José Anchieta) é professor de Educação Física e fez parte do Afro-Sul Música e Dança (um dos primeiros movimentos de luta, valorização e fortalecimento da cultura negra de Porto Alegre). A dança, como as outras artes, te aproxima dos "diferentes". E a minha mãe (Rosa Maria) me fez entender o papel da mulher "solo", ela é uma inspiração, guerreira e batalhadora.
O que gostas de fazer quando estás em casa, de bobeira?
Eu tenho mil livros pendentes, acabo lendo uns três ao mesmo tempo. Mas tenho lido mais polígrafos e links sobre as questões de gênero e dos grupos de estudo. Vejo muitos filmes e tenho tentado praticar a pintura com aquarela.
Qual é o teu estilo de música preferido?
O rap. Me toca e me representa de diversas formas, pelo ritmo e muito mais pela poesia que tem. A sigla "rap" vem do inglês "rhythm and poetry", ritmo e poesia. As letras me ensinam, me consolam, me motivam, me aproximam da realidade do outro, me divertem.
Teu estilo é próprio: cabelão, óculos, jeito de se vestir. Já sofreste preconceito?
Eu carrego em mim todos os argumentos para a atuação do preconceito: cor, cabelo, altura, peso... Mas sou privilegiada. As poucas piadas que ouvi nunca me machucaram ou traumatizaram, porque carrego muito orgulho de mim. Mas não é a realidade da maioria das minhas iguais. Então, respondo assim: nunca sofri, mas sei que a maioria sofre e faço questão que isso apareça. A empatia é a base da igualdade.
E o coração?
Eu tenho namorado/marido, Eliézer Santos. Moramos juntos. Isso já é um casamento, né? Vivemos um casamento não só em casa, mas na vida, nos ideais, pelo amor à cultura de rua. É um amor com o mesmo estilo de vida. Valem o respeito e o amor mais do que papel e formalidades.