Piquetchê
"O tradicionalismo pode ajudar no empoderamento feminino",diz 1ª Prenda do Estado
Gabriela Sarturi Rigão terá um inédito segundo "mandato" por conta da pandemia de coronavírus
Pela primeira vez em 50 anos, por conta da pandemia de coronavírus, a Ciranda Estadual de Prendas, que teria sua 50ª edição em maio, não foi realizada. Promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), anualmente, o concurso elege as novas prendas gaúchas, em uma iniciativa pra lá de esperada entre a comunidade tradicionalista.
Em meio à inusitada situação, está a 1ª Prenda do Estado, eleita em 2019. Gabriela Sarturi Rigão, 25 anos, deveria passar a faixa para sua sucessora no mês que passou, em evento que, tradicionalmente, ocorre na cidade da atual vencedora - Santa Maria, no caso de Gabriela.
Agora, ela terá um inédito segundo "mandato" até maio do ano que vem, quando deverá ocorrer a 50ª edição do concurso. Nesta entrevista, Gabriela, que representa o DTG Noel Guarany, de Santa Maria, e que também é psicóloga, fala sobre a responsabilidade de protagonizar a situação inédita e do seu papel no atual momento.
Qual teu sentimento e qual a responsabilidade de ter dois anos de “mandato”?
Já estávamos com toda a organização do concurso pronta, estamos trabalhando para que a edição do ano que vem tenha toda a magia e toda a organização possíveis. No começo, fiquei triste, principalmente por causa das gurias que estavam prontas para concorrer – eu sei o que envolve a participação em um concurso desses. Aos poucos, fui ressignificando o sentido de ser prenda e encontrando novas formas de ser prenda.
De que maneira acontece essa ressignificação?
O mais significativo, eu acredito, é fortalecer nosso papel social, pois o tradicionalismo tem esse papel. Um exemplo foi a campanha Ciranda do Agasalho (ação promovida pela Gestão de Prendas e pelo MTG, que arrecadou mais de 100 mil itens para doação para famílias carentes e que mobilizou as gestões regionais de prendas e entidades engajadas no projeto Tradicionalismo Solidário). Isso foi a chave do papel social que viemos desenvolvendo, para mantermos essa motivação e o sentimento de pertencimento ao tradicionalismo.
Tu também és psicóloga. Como atividades tão distintas podem se encontrar?
Enquanto psicóloga, eu tenho sido convidada para participar de lives que falam sobre ansiedade, por exemplo. E, no tradicionalismo, uso muito da Psicologia nas relações pessoais. Na minha atuação, tenho buscado, enquanto prenda, desconstruir preconceitos e estereótipos e colocando em pauta muitos assuntos polêmicos. Em maio, fizemos postagens, nas redes sociais, nos manifestando contra a LGBTfobia, por exemplo.
E como foi a repercussão?
Algumas pessoas nos questionaram, se peões e prendas deveriam falar sobre esse assunto, mas foram minoria. Felizmente, tivemos um número muito maior de comentários de pessoas que disseram se sentirem representadas pela nossa postura. Todos merecem igualdade de tratamento, o tradicionalismo pode ajudar no empoderamento feminino e no combate à violência doméstica, por exemplo. Por mais que, historicamente, a cultura gaúcha seja vista como machista, não é algo que a gente tenha que cultuar. Temos que fazer do tradicionalismo um lugar em que todos se sintam bem.