Pausa forçada
Websérie reúne personagens que se dedicam há décadas ao Carnaval de Porto Alegre
Com entrevistas e aulas-espetáculo, "Da Borges ao Porto Seco — a Incrível História dos Baluartes do Samba em Ano de Pandemia" exalta a preocupação em manter vivos antigos aspectos culturais
Desde de que se instalou no mundo inteiro, a pandemia de covid-19 mudou a rotina das pessoas. Escolas fechadas, comércio parado. Um cenário inimaginável até pouco tempo atrás. Tão inesperada quanto, foi a quebra de algumas tradições anuais. Uma delas: o Carnaval.
Símbolo da folia porto-alegrense, o Complexo Cultural do Porto Seco, na Zona Norte, está há quase dois anos sem seu brilho habitual. Motivada pela ideia de dar destaque às pessoas que ajudam a fazer da passarela um espetáculo, e que passaram por um período de pausa forçada, a produtora cultural Carla Joner produziu a websérie Da Borges ao Porto Seco — a Incrível História dos Baluartes do Samba em Ano de Pandemia.
O projeto, da Joner Produções em parceria com a Estação Filmes, foi captado durante três meses, e conta com recursos da Lei Aldir Blanc. Nele, 24 figuras históricas (representando áreas específicas que compõem a estrutura carnavalesca, como porta-estandarte, alegorista, mestre de bateria, baianas, entre outras) dão seus depoimentos sobre o que vivenciaram no Carnaval de Porto Alegre e da Região Metropolitana.
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— Quando abriu o edital, no auge da pandemia, em 2020, eu me dei conta de que não haveria Carnaval no ano seguinte. Pensei: "Acho que preciso fazer um projeto para falar sobre o tema". Como eu gosto muito de trabalhar com a questão de patrimônio, resolvi elaborar a websérie — comenta Carla Joner. — Escrevi esse projeto pensando que estaríamos aproveitando o silêncio dos tambores para ouvir as vozes que fizeram a história do Carnaval de Porto Alegre — completa.
Renovação
O toque poético da produção fica por conta da cantora gaúcha Loma, escolhida para declamar o principal tema-enredo da vida de cada baluarte na abertura dos episódios. Já a narrativa é dividida entre as entrevistas na casa do próprio personagem, em um clima intimista, e as aulas-espetáculo ambientadas em estúdio dentro de um barracão. Essa segunda parte conta com uma plateia de crianças e adolescentes da comunidade do Porto Seco, da tribo Os Comanches, do grupo de dança Brasil Estrangeiro e das ONGs Pequena Casa da Criança e Renascer da Esperança. Jovens atentos aos ensinamentos, no intuito de perpetuar tradições.
— O importante é que haja uma renovação. Eu não tenho mais fôlego de passar sexta, sábado e domingo em uma escola de samba. A idade pega. Tem que ter gente jovem — ressalta o carnavalesco Carlos Viana, em um dos depoimentos.
— O adolescente é o futuro, é para eles que precisamos passar as coisas boas. Eles que vão levar a nossa cultura adiante — lembra, em outro episódio, a passista Sayonara Ferreira.
Planos de segunda temporada
Vale lembrar que, durante as filmagens, foram cumpridos os protocolos e exigências sanitárias da secretaria de Saúde da prefeitura e da Organização Mundial da Saúde (OMS). O processo contou com aproximadamente 60 profissionais, desde os baluartes, até representantes das entidades carnavalescas, equipes de vídeo, produção, cenografia, sonorização, iluminação, administração, entre outros. Todos os envolvidos, direta ou indiretamente, foram remunerados. Sobre uma continuação da websérie, Carla comenta:
— Eu estou pensando em uma segunda temporada. Com mais 12 personagens, quem sabe. A gente precisa registrar e colocar na história. É impressionante o número da comunidade carnavalesca. São muitas pessoas que vivem disso, investem dos próprios patrimônios por amor às escolas.
Da Borges ao Porto Seco
Registros históricos datam 1874 como o ano de início do Carnaval em Porto Alegre. De lá pra cá, muitas coisas aconteceram, mas a grande mudança ocorreu em 1961, quando a Academia de Samba Praiana fez seu primeiro desfile, descendo a Avenida Borges de Medeiros, da esquina com a Salgado Filho até a prefeitura, com uma parada na Rua da Praia, local onde ficava o coreto oficial das autoridades. Na ocasião, a escola cruzou a rua apresentando enredo, alas, elementos alegóricos e uma estrutura de desfile diferenciada. As demais escolas também se reinventaram a partir de então. Os desfiles, por sua vez, passaram por outros endereços: Rua João Alfredo, Avenida João Pessoa, Avenida Loureiro da Silva, Rua Augusto de Carvalho. Em 2003, a prefeitura de Porto Alegre lançou a licitação para o sambódromo do Porto Seco e a pista foi entregue às vésperas do Carnaval de 2004.
A série completa, com 24 episódios de aproximadamente 15 minutos cada, está disponível no YouTube (youtube.com/c/jonerproducoes). Assista ao primeiro: