Boletim de Ocorrência
Quem chora por Laura?
Menina morreu há dois meses e caso está sem solução
Laura Machado Machado. Alguém lembra desse nome? Eu arriscaria dizer que pouca gente. Entre esses raros, certamente os policiais envolvidos nas investigações e os pais, que ainda choram a partida precoce da alegre menina de apenas sete anos, atingida por uma bala perdida na guerra entre traficantes, há exatos dois meses.
O Brasil, infelizmente, é um país que historicamente carrega a pecha de maltratar sua infância. Faz isso através de uma violência que pode ser expressa das mais variadas formas, seja por ação ou por omissão: abandono, violência doméstica, exploração do trabalho infantil, abusos sexuais, falta de investimento que sonega uma educação de qualidade e um acesso à saúde eficaz, desvio de merenda escolar, entre tantas outros.
Sociedade não se interessa
No caso de Laura, a violência que a atingiu foi a chamada criminalidade urbana, que tem vitimado anualmente dezenas de milhares de pessoas, como se vivêssemos uma guerra. E que não poupa nem pequenos inocentes, como ela. E a menina segue sendo vitimada. Agora, pelas dificuldades de identificação de seus algozes.
As investigações policiais esbarram na precária estrutura da polícia, na burocracia e, desculpem-me pelo misto de franqueza e de mea culpa: na falta de interesse da sociedade.
Sim, pois fosse a vítima pertencente a algum grupo social diverso do que habita as zonas pobres da periferia, menos invisível diante da opinião pública, mesmo que não fosse uma criança, a pressão pela solução do caso, com a imediata prisão dos culpados, seria bem maior. Alguém contesta?