Polícia



Porto Alegre

Adolescente de 15 anos encontrado morto em Porto Alegre era considerado talento do futebol

Para a polícia, jovem foi vítima de traficantes

27/11/2014 - 09h40min

Atualizada em: 27/11/2014 - 09h40min


Carlos Macedo / Agencia RBS

As dezenas de pessoas que se aglomeravam na quarta ao redor do valão que corta a Praça Irmão Romildo, no Loteamento Timbaúva, Bairro Mario Quintana, eram unânimes em dizer que não conheciam o rapaz encontrado morto ali, por volta das 8h, com marcas de facadas no peito, no pescoço e na cabeça.



Mobilizados pela curiosidade de mais um crime na região, eles pareciam pouco se importar com a dor de pessoas como o Felipe Flores, 43 anos, criador da escolinha de futebol beneficente do bairro, a Primeiro de Maio. A violência acabava de ceifar precocemente mais um talento.

O adolescente Jaderson Andrade da Silveira, 15 anos, não tinha antecedentes criminais. Na memória do professor Felipe, estava aquele menino que, em 2012, chegou atrasado à uma decisão do time de meninos e, ao entrar com o jogo perdido por 3 a 0, foi fundamental para a virada por 4 a 3.

Nos últimos meses, porém, Jaderson teria se afundado no uso do crack. E a derrocada foi fulminante. À polícia, familiares confirmaram que "há algumas semanas" ele havia levado as coisas da casa da mãe. Dois dias atrás, apareceu espancado, com ferimentos por quase todo o corpo. A suspeita é de que estivesse devendo para algum traficante. E um parente chegou a avisá-lo, antes que fosse tarde:

- Quando tu parar em uma vala, não vai mais aparecer quem te ajude.

Ironicamente, este foi o fim da curta trilha de Jaderson. Segundo os investigadores da 5ª DHPP, há sinais de que o corpo foi arrastado até o valão durante a madrugada. Devidamente "vacinados" pelo medo crescente dos últimos meses, os moradores garantem que nada ouviram ou viram.

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"São dores que vão se acumulando"

A foto do time perfilado é exibida com orgulho no facebook. Era a equipe Sub-15 do Primeiro de Maio. Jaderson era um expoente na equipe, terceira colocada no Municipal do ano passado, mas há dois meses deixou de treinar e nem sequer comparecia aos jogos. Acabou aparecendo sem vida a menos de 100m do campinho onde a gurizada treina todas as semanas.

- Eu me sinto impotente quando perco um menino como ele, porque casos como esse são dores que vão se acumulando e talvez um dia não tenha mais volta. Enquanto houver tanta injustiça social e desestrutura familiar, vai ser assim. A gente tenta não deixar a gurizada cair na base do amor. Sinto que ainda é muito pouco - lamenta um dos criadores do Primeiro de Maio, Felipe Flores, 43 anos.

Na sede do time, está a coleção de troféus conquistados pela gurizada. Jaderson fez parte de todos eles. Felipe não tem dúvida em apontar o menino como um dos melhores que já viu jogar.

- Tinha o temperamento de um D'Alessandro, aquele cara que não se entrega nas derrotas, com muita personalidade. Era um líder. Sem dúvida, um talento que poderia ter sido melhor lapidado - diz.

Como forma de recuperar o menino, Felipe havia inscrito Jaderson no curso de Mecânica Automotiva oferecido pelo programa Território da Paz, na Associação dos Moradores do Rubem Berta (Amorb). Ele seria chamado na próxima semana.

Região registra 13 mortes em 50 dias

De acordo com a titular da 5ª DHPP, delegada Jeiselaure Souza, a forma como o adolescente foi morto foge das características geralmente encontradas em vítimas de cobranças por traficantes. Ela também considera precipitado relacionar este crime com a sequência de mortes que acontecem no bairro desde o começo de outubro, no duelo de traficantes do Loteamento Timbaúva e da Vila Safira pelo controle do tráfico.

- Foi uma morte bastante violenta. O menino apresentava muitas lesões - diz a delegada.

Ontem, as primeiras pessoas foram ouvidas pela polícia na tentativa de identificar os suspeitos.

Desde o começo de outubro, a polícia investiga pelo menos 13 homicídios na região.

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