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Desde a primeira edição

Diário Gaúcho comemora 24 anos buscando soluções com seus leitores

Neste aniversário do jornal, algumas histórias que passaram pelas páginas do DG, na seção Seu Problema É Nosso, serão relembradas

17/04/2024 - 11h16min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Direitos de Victor foram tema de muitas reportagens

Hoje, o Diário Gaúcho chega aos 24 anos. Com quase 7.500 edições publicadas, o jornal tem uma marca que lhe acompanha desde o primeiro exemplar. É a seção Seu Problema É Nosso. O canal mais direto entre o jornal e seus leitores. 

Por ali, são diariamente contadas histórias de quem enfrenta dificuldades. Desde a burocracia para receber um medicamento até a espera por uma cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS). Também para quem procura auxílio na reforma de parte da casa ou ajuda de custo para estudar ou competir dentro e fora do Brasil. 

Leia mais histórias do Seu Problema É Nosso

Nesta edição de aniversário, algumas histórias que passaram pelas páginas do DG serão relembradas. Uma casa reconstruída após a queda de uma árvore. O auxílio para uma reforma num cenário de dificuldades. A jornada de um pequeno guerreiro para conseguir atenção do poder público no cuidado com sua saúde. E uma mudança que afeta diariamente o cotidiano de moradores de Porto Alegre que usam os ônibus da cidade. 

É uma pequena amostra de tudo que a seção retratou e retrata no DG, com resultados que podem ser comemorados diariamente, inclusive neste aniversário do jornal popular do Estado.

*Colaboraram: Caroline Fraga, Guilherme Jacques e Nikelly de Souza

Ar-condicionado ligado no calor

Alberi Neto / Agência RBS
Prefeitura reajustou decreto sobre refrigeração nos ônibus

Em setembro de 2017, as páginas da seção Seu Problema É Nosso estamparam uma preocupação de usuários do transporte público de Porto Alegre. Uma onda de calor antes da chegada oficial do verão gerou questionamentos entre os passageiros dos ônibus. A dúvida era: por que os veículos com ar-condicionado não ligavam o equipamento, mesmo com o calorão? 

A reportagem mergulhou no tema e encontrou as respostas. Um resolução de 2011 da Empresa Pública de Transporte e Circulação (ETPC) orientava que os veículos ligassem a refrigeração somente durante seis meses do ano — entre 1º de novembro e 30 de abril. 

Fora desse período, mesmo com os termômetros superando os 30ºC, não havia qualquer determinação para que os equipamentos fossem colocados em operação. Após a publicação, o assunto virou alvo de debate na opinião pública, por meio da imprensa e das redes sociais. 

— Fizeram todo um alarde de que os ônibus novos teriam ar-condicionado, mas nunca está ligado, mesmo com esse calorão — reclamou um usuário na época.

Poucos dias depois da publicação, a prefeitura da Capital editou um decreto relacionado ao transporte público. Entre os itens do documento, uma nova norma relacionada ao ar-condicionado dos ônibus municipais. 

Agora, os veículos com refrigeração deveriam ligar o equipamento sempre que a temperatura externa ultrapassasse os 24ºC. A reclamação vinda dos leitores que usavam os ônibus, convertida em reportagem, resultou na solução de uma aflição antiga dos passageiros.

A norma até hoje é uma das mais cobradas pela EPTC diante das empresas de ônibus. Também está entre os motivos pelos quais os usuários mais registram reclamações. Quando um passageiro ver um ônibus que tem ar-condicionado, mas está com ele desligado, deve ser registrada a reclamação. A obrigatoriedade é para dias com temperatura igual ou superior aos 24ºC. O registro pode ser feito pelo 118 (EPTC) ou pelo 156 (prefeitura).

Indenização e casa reconstruída

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Marcos foi acompanhado durante mais de um ano

Durante mais de um ano, o atendente de alarmes Marcos Piter da Silva, 51 anos, apareceu com frequência nas páginas do DG. Foi esse o tempo que demorou para que o morador do bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, tivesse a sua casa reconstruída. 

Foi na noite da segunda-feira, 25 de abril de 2022, em uma forte tempestade, que uma árvore centenária caiu sobre a residência dele. Naquela ocasião, Marcos acordou com o barulho e deparou com a estrutura do quarto e da sala comprometidas. A cozinha, preservada, sofria com a chuva. Restou a ele, então, dormir no banheiro.

Era o início de uma jornada que duraria até junho do ano seguinte, quando ele pôde finalmente ver sua casa reerguida.

— Eu só tenho a agradecer ao pessoal do Diário Gaúcho, que foi fundamental. Na medida em que começou a cobertura, as informações foram aparecendo — diz.

Entre as informações a que Marcos se refere, estão as instruções para abrir um processo administrativo junto ao município requerendo a indenização que viabilizou a reforma da casa. Essa orientação foi dada pela Procuradoria-Geral do Município (PGM), a pedido da reportagem, apenas três meses após a queda do vegetal.

À época, em agosto de 2022, o morador, que não tem familiares próximos e lida com uma dificuldade de visão, havia colocado uma lona sobre uma pequena peça da casa, espaço em que dormia. 

A reportagem do DG seguiu acompanhando o caso de Marcos. Inclusive quando, em 2 de março de 2023, seis meses depois da solicitação, o atendente de alarmes recebeu o valor da indenização.

— Mesmo sendo meu direito, porque pedíamos a retirada da árvore, sei que só recebi porque foi um caso de muita repercussão. Sem isso, nada teria se resolvido — observa.

Busca pelos direitos de Victor

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Patrícia e o filho contam com o apoio do DG desde 2017

Por meio das páginas do DG, é possível acompanhar o desenvolvimento de Victor Alex da Silva Ribeiro, 16 anos, que luta contra a Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 1. Desde 2017, a busca incessante da mãe, a cabeleireira Patrícia da Silva Ribeiro, 47 anos, pela garantia dos direitos do menino é contada em reportagens.

Não são somente cobranças ao poder público o que torna o jornal um recurso importante para a família, que mora no bairro Passo da Caveira, em Gravataí. A solidariedade dos leitores já garantiu doações para Victor em diferentes momentos e formou uma rede de apoio valiosa. Depois de 11 publicações no DG, Patrícia mantém contato, até hoje, com pessoas que ajudaram o menino de alguma forma.

— Ter um filho com uma doença rara já é difícil. Uma doença cara, mais ainda. O meu filho hoje se mantém vivo por causa da rede de apoio formada. Eu tenho amigas que conheci através do Diário. Aqui, onde eu moro, ele é muito conhecido e recebe o carinho das pessoas que conhecem a história dele por causa do jornal — conta a mãe.  

A doença de Victor atrofia os músculos do seu corpo gradativamente, o que causa dificuldades para falar, se mover, comer e respirar. Por se alimentar por sonda, utilizar um aparelho de ventilação mecânica e precisar de cuidados especiais, é inviável que ele frequente a escola. Apenas os dedos se mexem. É por isso que um dos pedidos mais recentes de Patrícia foi um notebook para Victor estudar, em setembro de 2022. 

O garoto, que hoje está no último ano do Ensino Fundamental, recebe aulas em casa por meio do atendimento pedagógico domiciliar. Quando a professora ia embora depois do encontro semanal, ele não tinha acesso à internet nem como realizar as atividades deixadas. Dois meses após a matéria, um equipamento foi doado por uma empresa de criação de sites de Gravataí

Mas, além do presente, foi garantida uma mudança essencial na vida de Victor: ele foi reavaliado pela Secretaria Municipal de Educação de Gravataí e passou a receber aulas de mais disciplinas, como tinha direito. Antes, eram apenas português e matemática. Agora, ele aprende também história, ciências, artes e geografia

— Eu me dei conta de que ele não recebia o que merecia. Estava no 7º ano e nunca tinha visto essas matérias — diz a mãe.

Assim, os dias do garoto se encheram de possibilidades. Devido à dificuldade de sair de casa, é pelo notebook que Victor conhece pessoas e descobre coisas novas. O próximo objetivo com o equipamento será a entrada no Ensino Médio no ano que vem e, depois, no Ensino Superior. 

— O médico diz que ele pode fazer o que quiser, porque tem a internet nas mãos. Hoje, meu filho conhece o mundo. O sonho dele é fazer faculdade, quer trabalhar e se sustentar. Ele tem amizades na internet, a vida dele é ali — conta.

Jornada

A primeira procura pelo Diário Gaúcho aconteceu em janeiro de 2017, quando Victor ficou sem o Fortini, leite que o alimenta por meio da sonda e é oferecido pelo Estado. Depois, outras necessidades levaram Patrícia a contatar novamente o DG, como a dificuldade por uma consulta médica. 

— A gente que é mãe costuma recorrer ao jornal para se sentir mais protegida. A vida do meu filho depende do SUS, e o meu filho vive em segurança por causa do Diário Gaúcho

Telhado reformado e muito mais

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Obras na casa da bailarina foram possíveis graças às doações

O DG realizou meu sonho”. É assim que Marielly da Cruz, 19 anos, resume sua relação com o Diário Gaúcho. Em dezembro de 2019, a reportagem contou a história da jovem bailarina que sonhava em ter um teto seguro para abrigar ela, a mãe, três irmãos e um sobrinho. Isso porque, na época, o telhado da residência em que vivia, na Restinga, zona sul da Capital, estava com risco de ceder.   

Dois anos depois, a solidariedade dos leitores fez com que conseguissem reformar não só o telhado, mas toda a estrutura da casa. Conforme Marielly, foram mais de R$ 56 mil em doações. Além do valor em dinheiro, receberam materiais de construção, que foram de grande ajuda para a finalização da obra.   

— Eu nem imaginava que íamos chegar tão longe. Fiquei surpresa com a proporção que tomou a reportagem. Minha história chegou a muitas pessoas, dentro e fora do Estado — orgulha-se.  

A residência, construída há mais de 50 anos, estava com a estrutura comprometida. Aos 15 anos, durante a apresentação de um espetáculo de dança, a jovem relatou a dificuldade vivenciada pela família. Professoras e voluntárias da escola em que a bailarina atuava comoveram-se com a realidade de Marielly e resolveram fazer uma mobilização para ajudá-la.    

Inicialmente, pensaram que seria apenas um restauro no telhado. No entanto, com o início das obras, descobriram a necessidade de reformar a casa por completo, incluindo a parte elétrica e hidráulica.   

Uma campanha de arrecadação virtual foi criada para arcar com os custos da construção. Mas foi depois da primeira reportagem publicada no DG que contribuições mais expressivas começaram a chegar:  

— Vieram doações em dinheiro, potes de tinta, cimento, muita coisa. Assim, conseguimos iniciar a obra.

Quando a reportagem retornou ao local, dois anos depois, a notícia era positiva: os cômodos mais essenciais para a família, como a sala e os quartos, já haviam sido restaurados, mas as dificuldades financeiras afetaram o andamento da obra. Faltava, ainda, a cozinha, o banheiro e mais uma peça. Novamente, a vaquinha virtual foi divulgada e surtiu efeito. Em menos de cinco meses, a restauração estava concluída.   

— Meu sonho era reformar o telhado. Se a minha família pudesse morar em um lugar seguro, já estava bom. Mas, quando reformaram o meu quarto, eu fiquei realizada. Antes, era muito difícil, as paredes eram úmidas, eu não tinha cama, dormia em um colchão. Então, eu fiquei muito feliz — lembra.  

Desde janeiro, a jovem não vive mais na casa da mãe. Ela tinha o desejo de morar sozinha e, quando conseguiu emprego, percebeu que essa era a oportunidade de realizá-lo. Por isso, alugou uma casa próximo, no mesmo bairro, que fica a 10 minutos de distância. 

Sonhos

Cinco anos depois, Marielly segue com a esperança e o desejo de um futuro melhor para ela e para a família. A bailarina pretende seguir dançando e planeja ingressar no curso de Fisioterapia. Agora, ela se divide entre o trabalho e as apresentações artísticas. 

Pela manhã, a jovem frequenta a escola de dança Casa Salto. À tarde, trabalha com atendimento em um quiosque no shopping Iguatemi. Em alguns finais de semana, ainda se dedica a espetáculos. Por mais que a rotina seja intensa, ela não pensa em parar:  

— Eu amo dançar, porque quando danço meus problemas somem. Não consigo me imaginar sem a dança.


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