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BICHARADA

Por que abrigar um animal da enchente? 

Com a diminuição de locais e voluntários para cuidar dos pets, surge a necessidade de realocar muitos dos bichos resgatados

07/06/2024 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Um dos desafios é encontrar os tutores dos pets resgatados.

Um mês depois do início da enchente histórica que atingiu o Estado, abrigos para pessoas e animais começam a se desarticular na região metropolitana de Porto Alegre, devido à volta gradual da normalidade. Com a falta de locais e voluntários para cuidar dos pets, surge a necessidade de realocar muitos dos bichos resgatados, que já somam mais de  12 mil, segundo boletim da Defesa Civil do Estado.

A médica veterinária e voluntária do abrigo de cães na Ulbra, em Canoas, Gabriela Braun Aguiar, 27 anos, faz o apelo para que as pessoas ofereçam lar temporário enquanto os tutores dos animais não aparecem ou não podem tomar conta deles. O local é um dos maiores pontos de acolhimento da Região Metropolitana e chegou a ter 2 mil cachorros. 

– No início tinha muita gente vindo voluntariar, mas cada dia que passa vem menos. É um grande número de cachorros para pouquíssimas pessoas. De noite eles ficam sozinhos e dói demais, não tem a assistência que eles precisam – relata. 

Conforto

A veterinária ressalta que a principal necessidade dos animais abrigados, no momento, é de um ambiente confortável e carinho. Por terem vivido um trauma, os pets resgatados têm um comportamento mais medroso no abrigo e demandam cuidados que a quantidade escassa de voluntários não dá conta. 

– Se a pessoa opta por adotar um desses cachorros, é uma questão de paciência, porque quando ele vai para um ambiente mais tranquilo, se acalma. Quando eles ganham um pouco mais de atenção eles começam a brincar, pular... A gente vê no olhar deles que precisam de amor – afirma a veterinária.

Entretanto, a voluntária alerta que muitos lares temporários podem se tornar permanentes. Pode acontecer de famílias atingidas pela enchente não procurarem o seu bichinho ou até mesmo não conseguirem encontrá-lo, e é importante que os adotantes se responsabilizem pelo animal. 


Gratidão em ajudar

A engenheira de produção Raísa Moesch, 32 anos, não tinha a experiência de proporcionar um lar temporário e viu nos animais resgatados da enchente a oportunidade de dar o primeiro passo. No dia 27 de maio, ela acolheu o vira-lata Snoopy, que estava no abrigo da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, que fica no bairro de mesmo nome, na Capital, e onde Raísa também mora.

Apesar da vontade de ajudar, Raísa entende que fazer lar temporário é uma responsabilidade e exige dedicação. Ela se perguntava o que faria caso o tutor não quisesse Snoopy de volta, ao mesmo tempo que pensava como seria caso se apegasse ao animal e ele fosse embora, mas decidiu se arriscar e não se arrepende: 

– É muito gostoso cuidar dele, que é bem carinhoso e gosta de ficar no colo. É muito bom poder ajudar e, para quem puder fazer, vai ser muito recompensador, tanto para o animal quanto para a pessoa. Se vê no olhar deles a gratidão – destaca. 

Outra apreensão de Raísa quanto a levar um abrigado para casa era o seu cachorro, o vira-lata Johnny, que poderia ficar agressivo. Mas, para a surpresa de Raísa, o cão aceitou bem a presença do visitante. Porém, a convivência não vai durar muito tempo: o tutor do Snoopy já avisou que vai levá-lo quando puderem voltar para casa.

– Eu falei: “não tem pressa, a gente vai ficar com saudade dele!”.

Acolhimento

O tutor do Snoopy é o porteiro da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, onde ele estava abrigado. Foi fazendo voluntariado no espaço dos animais que Raísa conheceu o cão, que está se recuperando de um problema de pele devido à água contaminada, e não estava recebendo a atenção que precisava em meio aos outros animais. Quando os cachorros começaram a ser encaminhados para outros lugares para que o abrigo fosse fechado, surgiu a preocupação de para onde o cãozinho do funcionário da igreja iria, então a engenheira decidiu ajudar. 

– Ele estava bem debilitado, e agora já está melhor. As voluntárias me deram tudo para cuidar dele: ração, roupinha, caminha e os medicamentos para continuar o tratamento – detalha Raísa.


Como abrigar um bichinho em casa

  • Se você quer fazer lar temporário, vá até o abrigo de animais mais próximo e escolha um animal para levar. Gabriela dá algumas dicas de cuidados com os pets:
  • Caso você já tenha um cão em casa, lembre-se de dar atenção igual a todos, para que o seu animal não fique com ciúmes e a convivência com o novo integrante não seja prejudicada
  • A maioria dos animais em abrigos são adultos e já foram socializados, o que torna mais fácil saber como é o comportamento de cada um e adequá-lo à realidade do lar temporário
  • Mas, para quem quiser um filhote, os bebês das fêmeas que chegaram prenhas estão sendo colocados para adoção
  • Os cães idosos são calmos, fofos e brincalhões
  • Nos primeiros dias, os cachorros devem ser acostumados ao local correto de fazer as necessidades. Nesse caso, reforço positivo com recompensas podem ajudar no processo
  • Já quem mora em espaços pequenos e sem pátio precisa levar o animal para passear pelo menos uma vez ao dia
  • Cães são mais dependentes de afeto, enquanto gatos conseguem ficar bem sozinhos
  • Negocie com os voluntários do abrigo. Veja se é possível fazer lar temporário por tempo determinado ou se você pode levar alguma quantidade de ração para casa

*Produção: Caroline Fraga 




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