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Chegou o dia

Depois de viver por quase nove anos em hospitais, Roger volta para casa

Decisão da Justiça determinou que Estado e município de Canoas compartilhem os gastos do atendimento médico domiciliar do menino pelos próximos seis meses

25/01/2017 - 14h44min

Atualizada em: 25/01/2017 - 17h43min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Menino é abraçado por familiares na chegada em Canoas

Sob aplausos e lágrimas, Roger Inácio Dutra da Silva, nove anos, foi recebido por amigos e familiares na casa dos pais no Bairro Mato Grande, em Canoas, na manhã desta quarta-feira. Depois de passar quase toda a vida morando dentro do Hospital São Lucas da Pucrs, em Porto Alegre, o menino pode voltar ao convívio da família com a garantia de que terá o atendimento médico contínuo em casa pelos próximos seis meses.

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Sem condições financeiras de pagar pelo tratamento, a família exigiu na Justiça a estrutura fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com síndrome de down e doença de Hirschsprung (que obrigou os médicos a retirarem parte do intestino do menino), Roger depende da continuidade do tratamento.

Há três anos, ele recebeu alta médica, com a condição de ter disponível uma enfermeira particular (home care) quatro vezes por semana para auxiliá-lo na alimentação parenteral – dieta pela veia.

Na sexta-feira passada, baseada no orçamento do tratamento repassado pela família, a Vara de Infância de Canoas determinou a liberação do valor – bloqueado desde 10 de janeiro – das contas gerais do Estado e do município de Canoas – 50% de cada – para o pagamento do tratamento pelos próximos seis meses.

A decisão é em primeira instância, podendo o Estado e a prefeitura recorrerem até 8 de fevereiro. A Secretaria Municipal da Saúde de Canoas afirmou que cumprirá a ordem judicial por entender que deve acolher de forma humanizada a todos os usuários do SUS, em especial aos pacientes crônicos – como o caso de Roger. Já a Secretaria Estadual da Saúde não respondeu até a publicação desta reportagem.

Com a liberação da verba, a advogada da família, Paula Santos, contratou uma das três empresas de home care que já tinham sido orçadas pela prefeitura de Canoas. Roger terá direito, mensalmente, a 34 visitas de enfermagem e a 17 de um técnico de enfermagem, mais a alimentação específica, os medicamento e os curativos.

– Quero que meu filho possa aproveitar um pouco da infância dele. O primeiro lugar que vou levá-lo é ao zoológico – comemorou a mãe, a artesã Eva Flores Dutra, 48 anos, que viveu no hospital com o filho.

Funcionários se despediram de Roger

Roger e a mãe voltarão a morar com Carolina, 22 anos, a filha mais velha de Eva, e o marido de Eva, Silvio, 51 anos, que segue internado em estado grave num hospital de Canoas, vítima de uma cirrose.

– Ainda estou assustada com toda a mudança porque ficamos muitos anos longe de tudo. Meu único desejo é que eu possa ver o Roger crescer fora do hospital – reforçou Eva.

Despedida

Antes de deixar o quarto 517 B, Roger ficou cerca de duas horas se despedindo do lugar onde morou nos últimos dois anos. Pacientes, enfermeiros, técnicos e médicos fizeram questão de abraçar o menino, que cativa a todos com sorrisos, beijos e abraços.

O técnico em radiologia André de Souza Gonçalves, um dos funcionários mais admirados por Roger, o levou para o último passeio com o carro de metal de Raio-X – um dos 'brinquedos' favoritos do menino.

– Vamos sentir muita falta do Roger porque ele sempre foi muito carinhoso com todos – disse André.

Prestes a concluir a residência em pediatria, a médica Fernanda Kliemann foi outra funcionária que fez questão de passar alguns minutos com o menino.

– Conheci ele há oito anos, quando eu ainda era estudante de medicina. Fico muito feliz por ver que, finalmente, ele está indo para o convívio da família – sustentou, antes de sair caminhando com o menino pelos corredores.

Médica foi uma das que acompanhou a história de Roger no hospital. Ela se tornou amiga do menino

Presente

Ao longo da vida, o menino viveu apenas 85 dias fora dos hospitais – em outras três tentativas de morar com a família, sem acompanhamento médico. Depois de anos convivendo apenas com as luzes do hospital e da tela da televisão, Roger acabou desenvolvendo medo com a luz do sol. Por semana, ele costumava sair à rua com a mãe apenas uma hora no domingo à tarde. Na manhã desta quarta-feira, até o dia contribuiu para uma saída tranquila de Roger: estava nublado.

Para ajudar

/// Sem emprego fixo e com o marido internado, Eva precisará de ajuda para se manter até organizar a vida fora de casa.
/// A família aceita doações de alimentos.
/// Contatos pelos telefones: 99567-6880 (Caroline) e 99574-5891 (Eva)

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