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Grupo de convivência ajuda idosos a lidarem com a depressão em Canoas

Serviço é oferecido gratuitamente na Clínica da Saúde do Idoso

02/03/2020 - 05h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Primeira vez de Mirian no grupo já foi bem animada: ela participou de um baile de Carnaval

Quem procura uma unidade de saúde, geralmente, espera encontrar um ambiente pacato e silencioso. Essa era a expectativa da aposentada Mirian Leonardi, 72 anos, ao dirigir-se, na sexta-feira passada, até a Clínica da Saúde do Idoso, em Canoas. A ida tinha um objetivo: passar por uma sessão de auriculoterapia – ramo da acupuntura que utiliza pontos das orelhas para amenizar a dor. Porém, ao chegar para o atendimento, a idosa deparou-se com um verdadeiro baile de Carnaval. 

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A folia e a música alta, no ritmo da marchinha, tinha uma origem: vinha da sala do grupo de convivência para idosos. O serviço, oferecido na clínica, surgiu em meados do ano passado, devido à identificação de alta incidência de quadros clínicos de depressão nos pacientes atendidos na unidade. Em encontros semanais, que ocorrem toda a sexta-feira, das 9h às 10h, os cerca de 25 idosos que participam do grupo reúnem-se para jogar conversa fora, cantar, dançar, fazer trabalhos manuais e brincar. No último, a temática foi o Carnaval, com direito a participação do intérprete da escola de samba Rosa Dourada e ex-Rei Momo da cidade, Sidiclei Mancy, 47 anos, e da musa da agremiação, Fabiane Xavier, 32 anos. 

Segundo a equipe da unidade de saúde, os resultados da iniciativa tem sido satisfatórios.

– A depressão estava atrapalhando o tratamento clínico deles, em relação a outras doenças. Também tínhamos casos mais graves, como tentativa de suicídio. Quando a pessoa desiste de viver, não vê motivo para tomar remédios, por exemplo. Mas, depois do grupo, muitos pacientes aderiram melhor aos seus tratamentos. Outros, tiveram redução nas medicações. Além disso, a questão da ideação suicida foi superada para a maioria deles – explica a psicóloga Vivian Glauche Jaroszewski, 39 anos, uma das profissionais que acompanha a turma. 

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Mirian, que entrou de gaiato no bailinho do grupo, não se intimidou por estar participando pela primeira vez. Uma das mais animadas, divertiu-se com as músicas e até desfilou pela sala do posto de saúde, que virou um verdadeiro salão de baile. Agora, a aposentada planeja continuar frequentando os encontros e espera fazer muitas amizades:

– Achei que seria só uma consulta, não esperava encontrar essa alegria toda. Achei maravilhoso, vou voltar sempre.

Amizade

Segundo a coordenadora do grupo de convivência, a terapeuta ocupacional Bruna Borba Neves, 27 anos, a cada sexta-feira uma atividade diferente é planejada, sempre buscando proporcionar momentos de descontração para os idosos. No grupo de WhatsApp criado pela turma, quando um encontro termina, já começa a expectativa e a especulação acerca do próximo.

— Eles se sentiam sozinhos e precisavam desse espaço de convivência. Agora, toda semana ficam esperando pela sexta-feira, para virem aqui e encontrar os amigos. Nesse sentido, é muito fácil ver um antes e depois — relata a coordenadora.

Participante desde o primeiro encontro do grupo, a aposentada Nair do Nascimento, 76 anos, confirma o vínculo de amizade criado entre os integrantes. Nas raras vezes em que não comparece — o que lhe faz "uma falta terrível" — conta que todos questionam, pelo WhatsApp, o motivo da ausência. Ela, que diz amar todos os encontros — porque em cada um aprende algo diferente —, no último, teve um motivo a mais para alegrar-se: em meio ao baile de Carnaval, foi eleita a foliã mais animada, levando o título de musa do grupo. 

Fernando Gomes / Agencia RBS
Vera não perde os encontros por nada

— Fiquei deslumbrada por ter ganhado, pois nunca havia acontecido algo assim comigo. Já vou colocar no Facebook para todos verem. Meu marido, que está na praia, vai ficar pensando: "o que é que ela está fazendo sozinha no Carnaval?" — brinca a idosa.

Para a aposentada Vera Santos, 68 anos, o espaço de convivência se tornou crucial. Ela, que procurou a Clínica da Saúde do Idoso por conta do diagnóstico de depressão, vê na atividade o caminho para uma vida melhor:

— Posso não ir a qualquer lugar, mas aqui eu não falto. Foi a melhor coisa do mundo pra nós, pois recebemos muito carinho. Algo que, às vezes, não temos fora daqui. 

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Clínica funciona como UBS

Inaugurada em setembro de 2019, a Clínica da Saúde do Idoso oferece todos os serviços de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) — atendimento com clínicos gerais, serviços de enfermagem, entrega de medicamentos, vacinas (durante campanhas), entre outros —, exclusivamente para pessoas com mais de 60 anos. O principal diferencial, porém, está nas atividades e terapias complementares oferecidas na unidade, como o grupo de convivência.

Segundo a gestora, Fabiana Cristina Moretti, 38 anos, a Clínica atua como um apoio às unidades básicas. Ali, apesar de receberem atendimento, os pacientes não são referenciados, ou seja, continuam vinculados à UBS de origem, em seus bairros. Assim, a clínica consegue incluir usuários de todas as regiões da cidade, uma vez que o único critério para receber atendimento ou participar das atividades é a idade. 

Para cadastrar-se e, assim, poder participar do grupo de convivência e demais serviços ofertados, é preciso ir até o local (Avenida Guilherme Schell, 6.184 - Centro, Canoas) e passar pelo acolhimento, munido de documento de identificação e cartão SUS. Os cadastros são feitos de segunda a sexta, das 8h às 17h.

Confira as atividades complementares oferecidas
/// Grupo para superação do tabagismo — terças-feiras, 8h30min
/// Grupo terapêutico para idosos em processo de luto — quartas-feiras, 14h
/// Grupo de formação para cuidadores de pacientes com Alzheimer — quartas-feiras, 9h (quinzenal)
/// Grupo de convivência — sextas-feiras, 9h 

Produção: Camila Bengo


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