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Nova vida em 2022

Por onde andam os leitores acompanhados pelo DG no ano passado? Veja como tem sido 2023 para o trio

Aline, Delene e Gerson contaram para o jornal suas trajetórias na busca pela realização dos próprios sonhos

07/06/2023 - 11h02min


Anselmo Cunha / Agencia RBS
Aline começa a olhar para o futuro

O que você sonha em conquistar? E como seria, a cada mês, contar a busca por esse sonho no jornal?

Três leitores toparam embarcar nesse desafio de janeiro a dezembro do ano passado. Nesse período, o Diário Gaúcho mostrou suas trajetórias na saga pela realização dos próprios sonhos.

Moradora do bairro Esmeralda, em Viamão, Aline dos Santos Veiga, 33 anos, queria fechar o ano tendo um emprego. Ainda em abril de 2022, ela foi contratada: iniciou em uma vaga de auxiliar de serviços gerais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.

Também na Capital, Delene Cesconetto, 44 anos, que mora no bairro Santa Tereza, tinha como meta conquistar uma casa própria. Ela segue com uma vaquinha online na busca por esse sonho, enquanto outros objetivos tornam-se foco nesta caminhada.

Já Gerson Fabiano Pacheco, 45 anos, hoje morador da Vila Tom Jobim, em Gravataí, desejava voltar a sorrir e a mastigar sem sentir dor. Ele havia perdido dentes, mas, em março de 2022, após uma clínica se solidarizar com o pedido e fornecer o tratamento de forma gratuita, Gerson abriu o sorriso.

Os três leitores ganharam as páginas do jornal em 2022. E agora, a reportagem quer tirar a curiosidade e saber como tem sido os primeiros seis meses deste ano para eles.

Reconhecimento

Camila Hermes / Agencia RBS
Parte da equipe do DG responsável pelas reportagens

A série de reportagens "Nova vida em 2022", que acompanhou as histórias de Aline, Delene e Gerson, foi reconhecida com o 2º lugar na categoria reportagem impressa geral no prêmio da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) do ano passado. Além disso, considerada destaque, ficou entre os 12 finalistas da 19ª edição do Prêmio RBS de Jornalismo, Esporte e Entretenimento de 2023.

ESCRITA CONTINUA

Desde dezembro do ano passado, Gerson, de Gravataí, trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma empresa de saneamento. A busca por um emprego de carteira assinada havia se tornado uma meta em julho, após ficar desempregado. Nos meses que seguiram, ele trabalhou como pedreiro em uma obra perto do local onde morava, em Cachoeirinha, até chegar à vaga atual.

Com as mudanças, Gerson teve de se adaptar à nova rotina de trabalho e à moradia em outra região. Ele conta que, por volta de dezembro, um pequeno companheiro surgiu em sua vida: o gatinho Slash.

— Vi uma plaquinha na mesma rua onde eu moro: "Doam-se gatinhos". Cheguei para ver, estava aquele preto ali. Ele me olhou e foi um clima meio que de amor à primeira vista. Eu disse: "Então tá, vou te levar" — relembra.

O nome é uma homenagem ao guitarrista Slash, da banda de rock Guns N’ Roses.

Linha por linha

Gerson retomou os estudos em março de 2022, com aulas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma escola de Cachoeirinha. Mas, no final do ano, afastou-se principalmente por conta dos custos com transporte — já que passou a morar em Gravataí. Pouco a pouco, a ideia volta à mente, ainda sem planos concretos.

Por outro lado, um desejo que permanece ganhando linhas e linhas é o de ver sua história se tornar livro. Gerson quer contar a própria trajetória de vida em três partes: uma sobre a infância, outra sobre o período em que morou nas ruas por conta do uso de drogas e uma terceira sobre o que tem vivido desde então.

Ele vai escrevendo as memórias em cadernos. E, no início de 2023, decidiu se informar sobre valores para editar um livro. Os altos custos, porém, fizeram com que deixasse o sonho em pausa, por enquanto:

— Me passaram uns valores que eu deveria ficar, no mínimo, uns três ou quatro meses juntando e, hoje em dia, está tudo muito difícil.

Sorrisão

Motivo do contato de Gerson com o DG, o sorriso está firme e forte. O tratamento incluiu uma prótese dentária total para a parte superior e, para a inferior, uma prótese parcial.

Gerson diz que há apenas algumas dificuldades na mastigação para sentir o gosto dos alimentos. Mas, hoje, consegue até assobiar. 

Como apoiar?
/// Gerson pede apoio de alguma editora que aceite editar seu livro de forma gratuita ou de quem possa o ajudar doando valores. Para saber mais, chame no WhatsApp (51) 99256-7921.

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CERTIFICADO NA MÃO

Depois de ter seu sonho de 2022 realizado, Aline, de Viamão, estabeleceu uma nova meta: voltar a estudar. E assim o fez.

Ela deu início aos estudos, por conta própria, para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Essa avaliação permite a jovens e adultos que não terminaram o Ensino Fundamental ou Médio conseguirem um certificado de conclusão. Foi o caso de Aline. 

Dia a dia

Em dezembro do ano passado, alegre e sem acreditar, ela descobriu que tinha sido aprovada. E, no início de 2023, conseguiu pegar o tão sonhado certificado.

Daqui para frente, tem planos de fazer algum curso, como na área de cuidadora de idosos, por exemplo.

Anselmo Cunha / Agencia RBS
Aline conseguiu acessar o sonhado certificado de conclusão do Ensino Médio

Filhos

Neste ano, os três filhos de Aline — Kaique, quatro anos, João, 10 anos, e Luís, 14 anos — estão estudando pela manhã, o que facilitou a rotina da moradora de Viamão.

O dia dela começa cedo, antes das 5h. Aline começa no serviço por volta das 6h e sai às 15h30min. Quando chega em casa, aproveita para passar um tempo com os filhotes. 

Nas últimas semanas, os quatro estavam com sintomas de resfriado ou gripe, e o menor, com asma. Mas, aos poucos, a família está se recuperando.

Para 2023, está na lista de desejos de Aline fazer algumas arrumações na casa. Ela explica que quer tentar arrumar o banheiro, que está com goteira, forrar mais a residência, por conta do inverno, e conseguir um armário para a pia da cozinha. A ideia é poder garantir mais conforto para as crianças.

Ainda em relação aos filhos, ela também está em busca de cursos profissionalizantes para o mais velho fazer. E tem tentado passear mais com o trio nos fins de semana, para "sair um pouco de dentro de casa":

— Tendo condições para sair, nem que seja numa pracinha, é ótimo. Porque sabemos como é criança, tem que ter um dinheirinho também para sair com eles.

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BUSCA POR APOSENTADORIA

Delene, de Porto Alegre, chegou a aparecer nas páginas do DG em 2023. Em maio, uma reportagem trouxe seu pedido de ajuda para conseguir se manter no dia a dia. Ela segue aceitando apoio (saiba mais abaixo).

A moradora da Capital tem lúpus e sequelas de paralisia cerebral entre os problemas de saúde com os quais convive. Também enfrenta dificuldades para caminhar e enxergar. Como consequência, não tem trabalhado e, assim, não recebe nenhum valor mensalmente. Por isso, desde 2018, Delene tenta se aposentar ou conseguir algum auxílio via INSS.

Em 2022, ela deu início a um processo junto à Defensoria Pública da União. A primeira perícia, com ortopedista, foi feita em 27 de abril. O perito alegou que não encontrou limitações funcionais significativas que a impeçam de exercer a vaga de assistente administrativa para pessoa com deficiência (PCD), a última que exerceu. Laudos de outros médicos consultados por Delene, porém, relatam o contrário.

Questionado pela reportagem, o Ministério da Previdência Social afirmou que, como o caso saiu da esfera administrativa e foi para a judicial, o órgão não tem informações a prestar sobre a tentativa mais recente. Agora, portanto, aguarda o resultado do processo que corre na Justiça. 

As esperanças de Delene se depositam na segunda perícia, com reumatologista, no próximo dia 16.

Pedalando

Em 2023, Delene tem conseguido frequentar com maior regularidade o gastroenterologista, além de adicionar as sessões de fisioterapia e de acupuntura à rotina, por meio do plano de saúde.

Foi na fisioterapia, aliás, que conseguiu andar de bicicleta pela primeira vez — momento que descreve com a palavra "superação".

— Em bicicleta normal, eu não posso andar por causa da minha deficiência. Eu andei naquelas adaptadas (ergométricas). Para mim, foi uma emoção, eu disse: "Nunca achei que ia conseguir" — lembra.

Delene mora de forma provisória em um local que não é seu. Por isso, tem uma vaquinha online para a conquista da casa própria. 

As arrecadações estão lentas: nesses quase seis meses de 2023, foram recebidos apenas R$ 150, segundo ela.

Quer ajudar?
/// Para se manter no dia a dia e ter mais conforto, Delene aceita doações, além de vender lingeries, perfumes, exemplares do livro do qual participou e números de uma rifa (R$ 5 cada). Entre em contato com ela pelo (51) 98601-0354 ou doe pelo Pix, com a chave 51986010354.
/// Podem ser doados alimentos, principalmente frutas e verduras, materiais de higiene e remédios, como diprospan, pregabalina 150mg, ciclobenzaprina e miosan.
/// Contribuições na vaquinha online da casa própria:
bit.ly/ajudedelene.

COMO ESTÁ O ANO ATÉ AQUI?

/// Para Gerson, 2023 estava "bem pacato", como descreve, até encontrar uma nova parceira, que, segundo ele, tem o motivado e ajudado a traçar novas metas.

/// Aline sente que está "mais tranquilo" do que no ano passado, quando, nos primeiros meses, ela não tinha emprego. "Por enquanto, está bom. Tem uns perrengues aqui, outros ali, mas tudo se encaminhando", completa.

/// Já para Delene, problemas de família e uma bateria de exames fizeram com que os meses fossem "mais conturbados" até abril. Desde então, o clima se acalmou. Ela acrescenta: "Sinto que a fisioterapia tem me ajudado muito, estou conseguindo ficar um pouco mais forte fisicamente".

Produção: Isadora Garcia



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