Seu problema é nosso
Demora na realização de cirurgia prejudica recuperação homem que fraturou o joelho, em Esteio
Eder se machucou no início de dezembro do ano passado. Desde então, vem passando por um complicado caminho para conseguir receber o atendimento correto
Em 21 de março, o autônomo Eder Schroeder, 40 anos, foi chamado antecipadamente para uma consulta com ortopedista, que aconteceria somente em abril. Na data, acreditava que finalmente teria seu atendimento médico finalizado, após ter fraturado o platô tibial da perna esquerda enquanto trabalhava em Ivoti, em dezembro de 2017.
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Entretanto, o morador de Esteio recebeu uma notícia que não esperava:
— O médico disse apenas que muito tempo tinha se passado e que não seria mais possível fazer uma cirurgia, mesmo com a fratura ainda não consolidada. Me passaram de volta para Esteio, onde, desde o início, todos me falam que não tinha especialista para a complexidade da minha situação.
Aguardando
A história de Eder foi contada pela primeira vez na edição de 21 de março do Diário Gaúcho. A consulta, feita no mesmo dia, foi adiantada após contato da reportagem com a assessoria de comunicação da prefeitura de Canoas.
— O erro foi no começo, de não ter feito a cirurgia logo, mas isso não foi minha culpa. Tudo que era minha responsabilidade foi feito, estava sempre esperando um retorno do poder público — explica Eder.
Diagnóstico
Ele teve atendimento de emergência em Ivoti em 10 de dezembro. Em seguida, foi encaminhado para sua cidade de origem, pois o médico acreditava que uma cirurgia seria necessária.
Chegando ao hospital São Camilo, em Esteio, no mesmo dia, Eder foi instruído a procurar atendimento em Canoas, já que sua cidade não tinha especialista para o caso. No Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC), retirou o gesso — colocado em Ivoti —, fez novo raio X e teve a perna engessada de novo.
O próximo passo foi buscar um traumatologista em Esteio, em 2 de janeiro, para ser encaminhado para cirurgia em Canoas.
— O atendimento de Canoas ficou só para 7 de fevereiro. Lá, o médico disse que a fratura estava consolidada, pediu uma tomografia e que eu marcasse sessões de fisioterapia — conta.
Com dores intensas, Eder apresentou o exame para a fisioterapeuta, que afirmou que a fratura não tinha sido consolidada. Ela explicou que Eder precisava procurar novamente o ortopedista que lhe atendeu em Canoas. Porém, continua aguardando respostas:
— Tenho quatro filhos para sustentar. Não estou podendo trabalhar ou caminhar normalmente.
Regulação é do Estado
A Secretaria de Comunicação de Canoas afirmou que, no atendimento de 10 de dezembro, realizado no HPSC, o diagnóstico não comprovou necessidade de intervenção cirúrgica, contrariando o que foi dito a Eder pelos médicos.
O órgão informou que o paciente foi encaminhado para atendimento especializado em Canoas somente no mês de fevereiro por critério da administração de Esteio. A prefeitura de Canoas explicou, em nota, que, em 7 de fevereiro, foi indicado o tratamento em fisioterapia no município de origem por determinação do médico responsável.
Em contrapartida, a Secretaria de Saúde de Esteio informou que este tipo de pedido é regulado exclusivamente pelo governo do Estado, sem intervenção do município. A assessoria de comunicação afirmou que a Secretaria de Saúde de Esteio apenas cadastra os dados no sistema — o chamamento é feito pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
A reportagem entrou em contato com a assessoria da SES, que afirmou que irá investigar o caso de Eder.
Fratura compromete o caminhar
Fabio Krebs Gonçalves, integrante do Comitê de Traumatologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e especialista nas fraturas do platô tibial, afirma que a lesão é bastante significativa, considerando a posição onde acontece:
— É uma fratura no joelho e abala a parte superior da tíbia (osso que fica na parte dianteira da perna, entre o joelho e o pé), na área responsável pela articulação.
Ou seja, está localizada onde se coloca toda a carga para caminhar. Segundo o médico, em algumas situações, se tenta não fazer a intervenção cirúrgica. Nesses casos, o tratamento indicado é a imobilização por um período extenso.
Entretanto, quando existe um afundamento importante, a indicação é fazer a cirurgia, levando em conta o histórico do paciente — especialmente em casos de impacto direto.
— Inicialmente, é preciso estudar qual a extensão do dano e, então, decidir o método de tratamento. Mas, quanto mais cedo se trata uma fratura, melhor é o resultado — afirma o médico.
Como a tíbia tem uma estrutura interna esponjosa, pode acontecer um afundamento, fator de risco para artrose (degeneração da articulação).
*Produção: Leticia Gomes