Solidariedade
Projeto oferece aulas de futebol e outras atividades esportivas para 180 crianças e jovens na Zona Sul
Além da habilidade nos jogos, Centro Social Marista da Juventude trabalha na formação de cidadãos
Dentro das quatro linhas, Liriel Borges da Silva, 16 anos, deixa a timidez de lado. Além da técnica e dos passes certeiros, a estudante sonha ser jogadora de futebol profissional e, hoje, já leva na bagagem a conquista de uma Libertadores sub-16. O aprendizado nos campos e o comprometimento com o próprio futuro é resultado do trabalho realizado no Centro Social Marista da Juventude (CMJU), que ocorre no bairro Vila Nova, em Porto Alegre.
A instituição atende crianças em situação de vulnerabilidade social de comunidades da Zona Sul, no turno inverso ao da escola. Atualmente, 180 jovens participam de atividades como teatro, informática, robótica e música. O destaque, no entanto, são as práticas esportivas, principalmente o futebol, que é a porta para o desenvolvimento humano e para a transformação social.
A realidade de Liriel, por exemplo, sofreu mudanças nos três anos passados no CMJU.
– Comecei aos 10 anos, jogando bola com meninos em outros centros. Mas, depois que fui encaminhada para o Centro Marista, cresci como pessoa. Tenho amigos que escolheram outros rumos, pelos quais eu também poderia optar. Se não fosse pelo centro, provavelmente, não estaria aqui – conta a lateral esquerda.
Futuro
A habilidade com a bola levou Liriel para Santa Catarina, onde jogou em três times. Atualmente, a jovem joga no time sub-16 do Internacional, na Capital.
– Eu amadureci muito fora de casa. No final de 2019, vim para o Inter e fiquei muito feliz. É a realização de um sonho e é muito bom estar perto da minha família. Outra felicidade foi ganhar a Libertadores, no Paraguai – conta a jovem, que se prepara para a Copa Disney, que será disputada em Orlando, nos Estados Unidos, neste ano.
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Educador e ex-diretor do CMJU, Silverio Cassoli acompanhou o desenvolvimento de Liriel e afirma que a jovem pode visualizar um futuro diferente daquele que estava se desenhando para ela:
– Nosso objetivo não é trabalhar a parte técnica. Mas, como um centro social, temos o compromisso de mostrar oportunidades e perspectivas. E, por isso, acreditamos que o esporte é casado com a educação.
O estudante Vitor Cambraia, 11 anos, também sonha em jogar futebol como profissional, mas não deixa de lado os estudos:
– Me inspiro no Philippe Coutinho (jogador do Bayern de Munique), que também é ponta-esquerda. Mas, quando começam as aulas, em dois dias da semana, tenho que focar nos estudos. Não é só futebol. Se eu tenho temas para fazer, os professores me ajudam.
Mesmo participando de todas as atividades e esportes que o CMJU oferece, Caroline Rodrigues, 11 anos, não quer ser atleta.
– Eu quero ser médica. Aqui, pude aprender muito e refleti sobre o que eu posso ser no futuro – sentencia.
Formação complementar
De acordo com a diretora do CMJU, a pedagoga Ruth Deyer, 33 anos, todos os alunos são encaminhados pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do município e por entidades como Conselho Tutelar e Ministério Público. A entidade é mantida pela Rede Marista e por parceiros como a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), de Porto Alegre.
– Todas as atividades são para complementar a formação desses jovens, porque acreditamos na transformação social. Pensando nisso, os profissionais atuam na questão do afeto, do cuidado e do desenvolvimento humano. Estimulamos o diálogo e o respeito uns com os outros, para que possam levar isso para fora daqui, e o protagonismo, para que conheçam seus direitos e deveres, o que é ser cidadão – explica a pedagoga.
As mudanças são visíveis nas crianças que frequentam as atividades e, por isso, segundo a diretora, o trabalho é feito com olhar cuidadoso e escuta afetiva.
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Exemplo para os mais jovens
O skatista Tiago Mohr, 23 anos, conheceu o CMJU em 2006, na primeira turma de crianças que ingressou no projeto. A atividade praticada, à época, era o futebol, mas o caminho escolhido por ele foi outro:
– O futebol fez eu me interessar por esportes. Toda essa rotina que tive no centro, desde acordar cedo e manter o comprometimento com os treinamentos, contribuiu muito. Em 2008, conheci o skate e comecei a competir. Não sei se foi sorte ou habilidade, mas me destaquei.
O jovem é atleta na categoria Longboard Downhill – que consiste em descer ladeiras. Além de premiado em diversas competições, sendo bicampeão brasileiro em 2017, Tiago competiu em vários países. Como um dos destaques na carreira, ele relembra um campeonato disputado na Coreia do Sul, no qual teve de descer ladeiras na chuva, sendo considerado o mais difícil para o skatista.
– Eu ficava sozinho na rua ou na praça, e eu poderia ter indo para um caminho errado. O centro mudou isso completamente – finaliza.
Produção: Caroline Tidra