Dia dos namorados
Clube dos Corações Solitários: mais de 20 anos de amor
Conheça a história de três casais que se conheceram pela seção do DG
A seção é uma das mais antigas do Diário Gaúcho: está presente nas páginas do jornal desde o lançamento do impresso, em abril de 2000. Ao longo de todos esses anos, não há como mensurar a quantidade de pares que uniu – mas sabe-se que muitos leitores encontraram o amor de suas vidas no Clube dos Corações Solitários.
Entre as histórias, apresentamos hoje três narrativas que dimensionam a relevância da seção na vida das pessoas, apesar de aquelas notinhas, por vezes com pedidos curiosos, ocuparem apenas uma pequena fração do jornal. Neste fim de semana de Dia dos Namorados, inspire-se com estes relatos e, caso siga à procura de um companheiro ou uma companheira, escreva para o DG.
Lurdes conheceu Nelson na primeira vez em que leu o diário
Em 13 de julho de 2000, sob o pseudônimo de Cézar Ariano, o zelador Nelson Cézar Geres Machado, 63 anos, teve seu pedido publicado na seção Clube dos Corações Solitários. Ele buscava se corresponder com uma mulher, de 25 a 35 anos, morena, romântica e sincera. As características listadas no texto chamaram a atenção da operadora de máquinas Lurdes Garcia da Rosa, 55 anos. Era a primeira vez que ela lia o Diário Gaúcho e também o primeiro ano do jornal em circulação.
– Eu tinha feito uma cirurgia, estava de repouso e peguei o jornal para folhear. Quando cheguei naquela parte, achei interessante como ele era exigente, mas pensei que me encaixava bem – relembra Lurdes.
Sem ter certeza de que queria respondê-lo, Lurdes resolveu apenas guardar o telefone de Nelson. Ela conta que a coragem para investir surgiu em um momento inusitado.
– Passaram-se semanas, retornei ao trabalho e, um belo dia, no ônibus, voltando para casa, pensei que eu tinha que conhecer aquela pessoa. E liguei, mesmo achando que ele já teria conhecido alguém – diz.
Mas Nelson não tinha.
Apesar disso, o namoro demorou para sair do papel – ou melhor, das ligações telefônicas. É que, por meses, eles mantiveram somente uma amizade à distância e, quando finalmente combinaram um passeio, Lurdes revela que quase desistiu:
– Trabalhei até tarde no dia anterior, estava muito cansada e acabei dormindo demais. Só acordei porque ele ligou para ter certeza que eu não iria “furar”.
Às cegas
Numa época em que enviar fotos não estava ao alcance de um toque na tela do smartphone, Lurdes e Nelson protagonizaram um verdadeiro encontro às cegas.
– Combinamos de nos conhecer no centro de Porto Alegre, ele vindo de São Leopoldo, e eu, de Alvorada. Eu vestindo uma blusa azul, e ele disse que estaria segurando uma agenda – conta.
Mas, como no roteiro de uma tradicional comédia romântica, a situação rendeu boas risadas. No ponto marcado, na Rua Voluntários da Pátria, Lurdes ligou para saber onde o pretendente estava. Acertaram as coordenadas, e tudo parecia estar certo.
– Só que, quando eu virei para trás, enxerguei um mendigo caminhando na minha direção com uma agenda na mão. Aquilo me deu uma tremedeira e eu comecei a rir de nervoso. Nada contra o morador de rua, mas eu pensava: “Bem feito, quem mandou inventar isso” – recorda.
No final das contas, tudo não passou de uma pegadinha do destino. Aos risos, ela explica que Nelson surgiu logo depois, também com uma agenda nas mãos. Sem conseguir controlar as gargalhadas nervosas, Lurdes precisou explicar o ocorrido, e o causo funcionou como um quebra-gelo para o primeiro encontro.
Depois disso, o casal não perdeu mais tempo. Meses depois, estavam morando juntos e dando início a uma família.
Nestes 22 anos, Lurdes diz que nem sempre tudo foram flores. Mas superaram as dificuldades, adquiriram uma casa própria e se mantiveram juntos. Primeiro, apenas os dois. E, por fim, os três. Lurdes, Nelson e a filha deles, Ana Carolini Garcia Geres, 14 anos, que diverte-se com a história dos pais. Entre outras coisas, pela diferença geracional:
– Às vezes, conto para minhas amigas e a gente ri, porque era outra época. Não dava para conhecer por vídeo ou por foto. Ao mesmo tempo, acho que minha mãe foi muito corajosa.
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Elisa e Alberto: história que o DG ajudou a escrever
Foi por meio de uma publicação no Clube dos Corações Solitários que a corretora de imóveis Elisa Gonçalves, 57 anos, encontrou o amor. Ela, que comprou o jornal Diário Gaúcho a pedido de uma comadre, acabou lendo as palavras do segundo oficial naval paraense Alberto Freire, que, à época, morava no Rio de Janeiro e, em seguida, viria a se tornar o seu marido.
O oficial naval decidiu procurar o jornal após adquirir um exemplar do DG em uma festa Farroupilha, em setembro de 2005, em visita ao Rio Grande do Sul. A publicação foi feita em 9 de dezembro e deu início a um relacionamento repleto de amor.
Elisa conta que, ao ler o perfil de Alberto no jornal, de início não deu muita importância, porém, mais tarde, resolveu enviar uma correspondência – naquela época, as cartas eram mais comuns do que hoje, e os pedidos de namoro eram publicados no DG com endereços. Após respondê-lo por carta, a troca de telefonemas começou.
Mesmo com a distância imposta pelas viagens de navio e os horários de trabalho de Alberto, nada impedia que eles trocassem ligações frequentes e cuidassem um do outro.
– Sempre que ele não estava trabalhando, me ligava. Dependendo de onde o navio estava, não tinha sinal, mas aí ele me ligava de madrugada – relembra Elisa.
O sentimento de carinho mútuo foi crescendo entre o casal e, em janeiro de 2006, eles puderam se encontrar pela primeira vez, quando Alberto aproveitou uma viagem de trabalho até o Rio Grande do Sul para ver Elisa, na Capital. Na ocasião, ela conta que ganhou um lindo buquê de flores, alianças e vários presentes do companheiro. No mesmo ano, Elisa se mudou para o Rio de Janeiro. Em 2010, eles se casaram.
Parceria
O casal sempre buscou o equilíbrio, a felicidade, o respeito e o companheirismo no seu dia a dia. Foi por conta dessa parceria que Elisa começou a embarcar com o marido e se aventurar pelo mar.
O que ela mais gostava nas viagens eram os momentos juntos, as paisagens e a visão do céu se encontrando com o mar. Elisa relembra uma dessas aventuras, que aconteceu em Manaus. Na ocasião, o marido a surpreendeu com uma troca de alianças.
– Todo dia 9 de qualquer mês, ele gostava de celebrar, e assim foi – explica.
Mas não era preciso viajar para comemorar. Quando estavam em terra firme, Elisa conta que eles saíam para dançar ou colocavam música em casa e compartilhavam bons momentos.
Saudade
– Ele tocou o meu coração, se preocupava comigo. Tínhamos nossas questões, mas os dois foram se moldando. Era uma troca e valia a pena – conta Elisa.
O relacionamento, baseado em cumplicidade, carinho e cuidado, durou 11 anos, "interrompidos pela vontade de Deus”, como diz Elisa. Alberto faleceu em 2016 em decorrência de um câncer.
Elisa guarda no coração a gratidão por todos os momentos vividos.
– O amor continua, mas a saudade fica – resume.
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Fátima e Paulo: corações companheiros
De um coração solitário surgiram dois corações bem acompanhados. Em 2005, Fátima Valim – na época com 44 anos –, em uma aposta e brincadeira com a irmã, decidiu publicar seu contato em uma das seções mais clássicas do DG. Frustrada com relações passadas, ela já estava decidida que não iria mais se relacionar.
– Na época, eu cuidava da minha mãe, que estava acamada. Não tinha muito tempo e nunca gostei de ir em baile para procurar um companheiro. Sempre tive receio de conhecer gente nova – conta Fátima.
Mas aí, no mesmo dia em que a publicação foi feita, 4 de outubro de 2005, um rapaz, 20 anos mais novo do que Fátima, entrou em contato com ela, após ver sua publicação no DG. Era Paulo Custódio, que, hoje, é seu marido. Ela conta que, além de ter ficado surpresa com a rapidez de um retorno, estava em um consultório médico e não pôde atendê-lo logo:
– Ficamos trocando muitas mensagens e ligações. O fato de ele ser bem mais novo me assustou um pouco. Além disso, ele sempre dava muita risada no meio das conversas. Cheguei a pensar que estava brincando comigo, mas percebi que era o jeito dele, mesmo.
No início, conta Fátima, houve algumas estranhezas das pessoas ao redor pela diferença de idade do casal. No entanto, quando Paulo é questionado sobre isso, ele diz:
– Quem tem que saber somos eu e a Fátima, não importa o que os outros pensam ou dizem sobre nós.
“Teste”
Um fato curioso aconteceu no primeiro encontro: sem poder sair de casa em função do cuidados com a mãe e com receio de receber um desconhecido, Fátima teve uma ideia peculiar:
– Pra ver se ele vinha mesmo e se era um homem de confiança, disse que estava precisando de uma certa quantia em dinheiro. Mas não era verdade.
Paulo, então, foi visitar Fátima e tirou, de dentro da sua meia, o valor que ela havia solicitado. Prontamente, a moradora de Novo Hamburgo recusou o dinheiro e disse que ele havia passado em seu “teste”.
– Logo depois, fomos morar juntos, até hoje. Quase nunca discutimos e respeitamos a diferença um do outro, sabemos que cada um tem a sua vida – conta Fátima.
Hoje, ele com 42 anos e ela com 62, gostam muito de viajar, principalmente para a praia de Quintão, no Litoral Norte, onde têm uma casa.
Quando conheceu Paulo, Fátima já era aposentada por invalidez da função de operadora de máquinas, devido a um acidente de carro que sofreu. Já ele trabalha como torneiro mecânico e estuda no Sesi, visando concluir ensino médio.
O casal sempre quis ter filhos, mas nunca conseguiu. Então, buscaram se informar sobre adoção, mas descobriram que isso seria difícil:
– É um sonho que temos, mas infelizmente não podemos realizar, principalmente por conta da minha idade. Mas não custa sonhar, né? – diz Fátima.
Produção: Guilherme Jacques, Júlia Ozorio e Leonardo Bender
Edição: Cáren Cecília Baldo