Nova vida em 2022
Veja a retrospectiva do ano de três leitores do DG na busca por seus sonhos
As histórias de Aline, Delene e Gerson foram contadas, mês a mês, pelo jornal
Ao longo de 2022, o Diário Gaúcho acompanhou três leitores na saga pela realização de seus sonhos. Gerson Fabiano Pacheco, 44 anos, é morador da Vila Tom Jobim, em Gravataí. Aline dos Santos Veiga, 32 anos, mora no bairro Esmeralda, em Viamão. Já Delene Cesconetto, 43 anos, é do Santa Tereza, em Porto Alegre. Confira abaixo a retrospectiva!
Virada do ano: Metas em mente
Com 2022 ainda para começar, os três leitores compartilharam com o Diário Gaúcho o que desejavam para o ano. Aline estava desde outubro de 2021 à procura de uma oportunidade para voltar ao mercado de trabalho formal. Seu sonho era conseguir algum serviço que a possibilitasse cuidar e conviver com os filhos.
Já Delene trouxe como objetivo a busca pela casa própria. Ela morava — e ainda mora — de forma provisória em um local que não é seu e, devido a problemas de saúde, foi afastada do trabalho. Por isso, um amigo decidiu criar uma vaquinha online, em maio de 2021, como forma de ajudar Delene a conseguir o valor para um imóvel.
Enquanto isso, Gerson queria voltar a sorrir e a mastigar sem sentir dor. À época, chegou a afirmar:
— Com o tratamento dentário, vou poder recomeçar minha vida. Além da minha saúde melhorar, terei de novo minha autoestima.
Janeiro: Primeiro mês
Depois de conhecer a história de Gerson por meio do jornal, empresários da Odonto Company de Alvorada, que faz parte de uma rede de clínicas odontológicas, decidiram ajudar a realizar seu sonho. O tratamento teve início na primeira semana de janeiro.
— Trabalho todos os dias na clínica e vejo o que esta transformação pode causar nas pessoas. E muitas têm este desejo de um sorriso bonito, voltar a ter qualidade de vida. A história do Gerson nos tocou — relatou, naquele mês, Marjorie Pocebon, uma das sócias da clínica.
Em janeiro, Aline seguia distribuindo currículos e participando de entrevistas de emprego. Já Delene conseguiu cerca de R$ 425 na vaquinha.
Fevereiro: Ajuda de outros
Com o tratamento dentário garantido, voltar a estudar se tornou a nova meta de Gerson. Ele havia parado de frequentar as aulas há mais de 30 anos. A escola onde planejava retomar os estudos precisava de um número mínimo de alunos para abrir uma turma — e Gerson se engajou em ajudar na busca.
Em fevereiro, Aline incluiu a sua saúde entre as preocupações. Teria de fazer consultas e exames no mês seguinte devido a alterações em um dos ovários. Desempregada, para se manter, ela tinha apoio de familiares e amigos e fazia pequenos reparos em roupas.
Delene, por sua vez, estava se virando como podia para arcar com as despesas do dia a dia. A venda de rifas foi mais um dos recursos que usou para conseguir ajuda.
Março: Sorriso no rosto
No dia 4 de março de 2022, Gerson voltou a sorrir. Até receber as próteses dentárias, ele esteve em seis consultas. Para a parte superior, foi projetada uma prótese total e, para a inferior, uma prótese parcial.
Para marcar a entrega, Fabio Penna, um dos sócios da clínica, presenteou o leitor com uma ilustração do super-herói Batman, um dos mais admirados por Gerson. A arte foi feita pelo ilustrador Gilmar Fraga, do Grupo RBS.
Na segunda quinzena de março, Gerson retomou os estudos, com aulas na EJA de uma escola de Cachoeirinha.
Naquele mês, Delene terminou de pagar um terreno que havia comprado em área não regularizada na zona sul da Capital. Sua saúde, porém, fez com que cancelasse a ida ao local e o colocasse à venda.
A busca por ajuda se mantinha e com garra. Em março, ela disse:
— Estou com muita fé e esperança. Às vezes, fico pensando em como tenho pessoas boas no meu caminho. Com o tempo, tudo se ajeita e esse sonho se realiza.
Já Aline tentava equilibrar exames, consultas e entrevistas de emprego. O irmão a indicou para participar de um processo seletivo em uma universidade. E ela topou.
Confira as reportagens de março
Após ter história contada no DG, Gerson realiza o sonho de voltar a sorrir
Fé no futuro: leitores contam avanços e desafios para alcançar objetivos
Abril: Emprego garantido
Além de celebrar mais um ano de vida em abril, Aline realizou seu sonho: conseguiu um emprego de carteira assinada. No dia 5, começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A nova rotina exigiu que ela e os filhos — que se alegraram pela conquista — se adaptassem.
— Minha próxima meta é voltar a estudar. Estou muito feliz, muito realizada. Agora vou poder dar o que meus guris precisam — ressaltou Aline, à época.
Adaptação também foi algo necessário a Gerson, que estava se acostumando com as próteses e que havia se mudado para Cachoeirinha. Até então, estava em Gravataí.
No caso de Delene, a Páscoa criou oportunidade para fazer boas ações. A leitora arrecadou doces e alimentos para crianças.
Maio: Projetos e adaptações
Em maio, Delene viu completar um ano de criação da vaquinha online para comprar sua casa própria. Aos poucos, ela ia recebendo contribuições.
Já Gerson iniciou o projeto de um livro autobiográfico. A ideia era contar a história de sua vida em três partes: uma sobre a infância, outra sobre o período em que morou nas ruas e a terceira sobre o que tem vivido desde então.
Aline, por sua vez, seguia se ajustando às novas demandas, lidando com o trabalho e a rotina escolar dos filhos.
Junho: Metade do ano
Por meio de videoaulas pelo celular, Aline adicionou os estudos ao seu dia a dia para se preparar para o Encceja.
Delene seguia participando de um curso online, iniciado em 2021, para formação de escritores. A capacitação, oferecida pela Editora Metamorfose, da Capital, foi disponibilizada de forma gratuita a ela. Empolgada, Delene já estava na lista de participantes de uma coletânea prevista para o final do ano.
Ainda sobre livros, Gerson incrementava os rascunhos dos seus. Mas viu a evolução de seus objetivos passar de forma mais lenta no mês, pois ele enfrentou dias com fortes sintomas gripais. Quando melhorou, voltou à ativa.
Julho: Persistência
Gerson ficou desempregado em julho. Ele saiu da função de auxiliar de serviços gerais na área de limpeza urbana e conseguiu um trabalho como pedreiro em uma obra perto de onde morava. A meta, porém, passou a ser conquistar um emprego de carteira assinada.
— Um dia ainda quero chegar na área de vendas. Gosto de conversar com pessoas e ter esse contato que um vendedor tem — vislumbrou, à época.
No mesmo mês, ele concluiu a quinta série por meio da EJA. Os estudos também continuavam no caminho de Aline, que se preparava para o Encceja.
Já Delene via a vaquinha online aumentar. Em agosto, foram recebidos cerca de R$ 775.
Agosto: Entre altos e baixos
O Encceja se aproximava e Aline mantinha o foco nos estudos. Naquele mês, ela reiterou que conquistar o certificado era importante para o currículo e para poder avançar futuramente, se quisesse fazer algum curso. Ainda completou:
— Acho que é até para a autoestima da gente, saber que conseguiu, eu consegui, uma coisa minha que faz muito tempo que eu queria tentar e agora estou tendo a oportunidade de tentar e de ver se consigo.
Para Aline, voltar aos estudos trouxe um sentimento bom, mas também nervosismo e insegurança. Sensação parecida com a de Gerson, que iniciava a sexta série na EJA.
No caso de Delene, agosto foi de percalços. Durante 10 dias, seu celular ficou estragado, o que impactou na arrecadação de dinheiro. A leitora também enfrentou um quadro de pneumonia naquele mês.
Setembro: Na expectativa
Em setembro, o jogo virou. Para prosseguir na busca pela aposentadoria ou por algum auxílio do INSS, Delene decidiu entrar em contato com a Defensoria Pública da União — o processo segue em andamento.
A leitora também começou a pré-venda do livro TikTextos: Minicontos, Haicais, Poetrix, Aforismos e Outros Textos Brevíssimos. E, por indicação de um ortopedista, foi em busca de estabilizadores de tornozelo.
— Quando comecei a caminhar, andava na ponta dos pés, por conta da deficiência, daí fizeram uma cirurgia nos tendões, e o pé baixou. Aí, ele virou para dentro, forçou o tornozelo a vida toda e acabou gerando esse desgaste, não tem mais cartilagem — justificou Delene.
Um dos itens, o do pé esquerdo, foi presente do amigo Diego Tessmann. À época, ele declarou que Delene merecia aquele apoio, pois "desde sempre" ela fez questão de ajudar quem estava em condições mais carentes do que a dela.
Em parte do mês, Gerson acabou não conseguindo ir às aulas. A motivação para planejar seus livros, porém, não ficou parada. Foi trabalhando que teve a ideia de um título: Minha Vida Merece um Livro.
No caso de Aline, que já tinha feito o Encceja, a expectativa pelo resultado predominava.
Outubro: Em frente
A correria foi o que marcou o outubro de Aline. No final de setembro, o filho mais novo, então com três anos, ficou internado por cinco dias em um hospital de Viamão devido a uma crise de asma. Depois que saiu, o menino manteve o tratamento em casa, usando bombinha e outros remédios.
Gerson, por sua vez, retomou os estudos, de forma gradual. O que o motivou foi o seu livro. Em outubro, ele fez novos rascunhos e reforçou o pedido por apoio — financeiro ou de contato com editoras.
Após a reportagem de setembro, Delene ganhou 80 comprimidos de hidroxicloroquina, remédio que usa para ajudar no controle do lúpus. Também garantiu um estabilizador para o pé direito, mas, por falta de dinheiro para o transporte, não conseguiu buscá-lo na época. Aliás, se manter financeiramente foi mais difícil, segundo ela. Mas, ainda que com problemas, Delene não se negou a estender a mão ao outro e, em outubro, conseguiu fazer algumas doações.
Novembro: Novas metas
Publicado: foi assim que Delene finalmente viu o livro que tem alguns de seus textos. A obra passou a ser vendida, de forma oficial, na Feira do Livro de Porto Alegre. Um dos apoiadores foi o ex-colega de faculdade e editor Marcelo Spalding, da Editora Metamorfose, responsável pelo livro.
— Ela sempre foi muito querida, comunicativa e, quando soube que estava passando por dificuldades, além de uma ajuda em dinheiro, ofereci o curso, pois ela sonha em escrever um livro individual — comentou ele.
Até então morador de Cachoeirinha, Gerson se mudou para Gravataí e iniciou a busca por uma vaga de carteira assinada. Por conta dos custos com transporte, deu uma pausa nas aulas da EJA e, com as mudanças, desacelerou a criação de seus livros.
Aline também traçou novas metas. Ela iniciou a busca por cursos para se profissionalizar em atividades como manicure, pedicure e depilação.
Dezembro trouxe novidades para os leitores. Para ler mais e saber sobre as expectativas do trio para 2023, veja a outra parte desta reportagem:
Como foi o ano dos três leitores acompanhados pelo DG e o que sonham para 2023
Produção: Isadora Garcia