Seu Problema é Nosso
Fé no futuro: leitores contam avanços e desafios para alcançar objetivos
Aline busca um emprego, Delene deseja adquirir a casa própria e Gerson voltou a sorrir e a estudar
Assim como o ano vai seguindo, os três leitores que o DG tem acompanhando também continuam se movimentando na busca de seus sonhos. As histórias de Gerson, Delene e Aline, que o Diário vêm mostrando desde o início do ano, são diferentes umas das outras, mas há algo em comum entre elas: a persistência deles em continuar acreditando em um futuro com mais qualidade de vida. Após receber as próteses dentárias, Gerson passa pela adaptação enquanto começam suas aulas. Delene continua buscando formas de arrecadar o valor que precisa para a compra de sua casa. E Aline, apesar de estar passando por um tratamento de saúde, decide continuar a procura por um emprego.
Gerson voltou a sorrir e a estudar
O sorriso não foi a única novidade no mês de março para o auxiliar de serviços gerais Gerson Fabiano Pacheco, 43 anos. Este mês, ele realizou dois sonhos antigos: o de voltar a sorrir, no dia 4, e o de voltar a estudar. Na segunda quinzena de março, as aulas noturnas começaram na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Antônio Wilkens.
Gerson conta que, mesmo tendo deixado de usar drogas em 2013, foi somente em 2015 que a vontade de aceitar novos desafios ressurgiu em sua vida. Durante os dois anos de recuperação, ele ainda tinha muitas incertezas se conseguiria superar os obstáculos e recomeçar:
– Foi só em 2015 que eu realmente comecei a me sentir motivado para tentar melhorar alguns aspectos da minha vida. Essa fome da vida demorou a voltar. Mas, agora, voltou com tudo.
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Lembranças
No trajeto que faz da casa onde mora, na Vila Branca, Gravataí, até o trabalho, em Cachoeirinha, Gerson depara com o passado. Ela conta que, por diversas vezes, olha para um comércio e lembra de já ter pedido um alimento naquele local. Ou enxerga uma marquise e lembra de já ter dormido ali embaixo. Por isso, hoje sente-se realizado por estar traçando novos objetivos:
– Estou tão feliz por voltar a estudar. Me sinto uma criança de sete anos.
E a empolgação não é apenas um sentimento. É uma atitude. Ele explica que as aulas, que ocorrem de segunda a sexta-feira, começam pontualmente às 19h. No entanto, ele faz questão de estar no local às 18h30min. E por que chegar tão cedo?
– Para poder adiantar algumas coisas. Se depender de mim, eu não quero faltar nenhum dia. Nem me atrasar. A emoção é grande demais – define.
Adaptação
Gerson conta que, após receber as próteses dentárias, sua dicção já está bem melhor. Ele esteve na clínica no dia 18, e a dentista Caroline Geremias fez uma adequação no equipamento. Ele acredita que ainda precisará fazer manutenções para evitar que sinta dor.
– Mas já está bem melhor do que no início do mês. Vão se passando os dias, e a gente vai aprendendo. É um utensílio novo – compreende.
Isso porque a mastigação ainda está complicada, diz Gerson. Então, se está em casa ou entre amigos, ele retira as próteses para se alimentar, dependendo do alimento que está consumindo. Mas garante que não perde a motivação para se adaptar. Quando questionado sobre o sentimento predominante após realizar o sonho de voltar a sorrir, ele conta que a sensação é de gratidão e de dever cumprido:
– Não foi fácil. Era uma dívida que tinha comigo mesmo. Tive sorte por encontrar pessoas dispostas a realizar esse meu sonho.
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Novo desafio: vender o terreno
Neste mês, Delene Cosconetto, 42 anos, conseguiu dar mais um importante passo para realizar o sonho de adquirir a casa própria. Após 12 prestações de R$ 1,5 mil, ela conseguiu finalizar o pagamento do terreno que havia comprado em uma área não regularizada, no bairro Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre.
O espaço havia sido adquirido com o objetivo de ser o local em que Delene moraria. Ela já tinha adquirido, inclusive, uma casa pré-moldada de segunda mão. No entanto, por ter diversos problemas de saúde, ela precisou cancelar sua ida para o local:
– Tenho lúpus, e os médicos que me acompanham acharam que não seria uma boa escolha a longo prazo. Eles me falaram que eu posso, no futuro, parar de caminhar.
Para chegar ao terreno, é preciso passar por um acesso estreito. Além disso, ele não é plano, o que dificulta a locomoção de Delene. Dentre os seus problemas de saúde, estão sequelas de paralisia cerebral, problemas hematológicos e o lúpus. Além disso, sua visão tem piorado ao longo dos anos. Atualmente, ela vive em um cômodo emprestado, em uma residência no mesmo bairro em que comprou o terreno, na Capital.
– Agora, estou tentando vender o terreno. Mas, como é contrato de compra e venda, é mais difícil encontrar um comprador – explica Delene, que adquiriu o terreno por R$ 18 mil e pretende vendê-lo por R$ 15 mil.
Sem trabalhar há três anos e sem receber qualquer tipo de auxílio do governo, Delene conta que ocupa grande parte do seu tempo realizando ações sociais. Durante essas ações, conheceu alguns dos amigos que a auxiliam durante este momento difícil. Um deles criou uma vaquinha online contando a história de vida dela. Por lá, almejam arrecadar R$ 40 mil para somar ao valor que será utilizado para comprar sua nova residência.
Em março, pela vaquinha, foram arrecadados R$ 200. Assim, o grupo de amigos chegou ao valor de R$ 24 mil arrecadados. Para complementar a renda e acelerar o processo de compra de um imóvel, Delene também está realizando a rifa de um computador, por R$ 5 cada número, e de uma escova rotativa pelo valor de R$ 1 cada número.
– Estou com muita fé e esperança. Às vezes, fico pensando em como tenho pessoas boas no meu caminho. Com o tempo, tudo se ajeita e esse sonho se realiza – conta esperançosa.
Como ajudar
/// Para contribuir com a vaquinha, clique aqui.
/// Outra opção é enviar contribuições através da chave PIX 82678529053 (CPF) ou entrar em contato com ela pelo WhatsApp (51) 98601-0354.
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Aline se divide entre consultas e entrevistas
Desde que descobriu que existe a possibilidade de passar por uma cirurgia, a moradora de Viamão Aline dos Santos Veiga, 31 anos, havia decidido adiar a procura por um novo emprego. No entanto, em função das dificuldades, que aumentaram, ela decidiu continuar participando de processos seletivos.
Na reportagem publicada em fevereiro, Aline havia afirmado que não conseguiria dar conta dos exames, consultas e entrevistas de emprego:
– O que mudou é que, sendo mãe solo, me vejo sem conseguir oferecer o que meus filhos precisam. Então, sigo procurando.
Horários
Ela explica que, até o momento, tem dado certo a organização de horários. Ainda não ocorreu de ter uma consulta ou um exame marcado para o mesmo dia de uma entrevista. Roger Santos Veiga, 33 anos, irmão de Aline, a indicou para participar de um processo seletivo em uma universidade. Se for chamada e aprovada, começará a desempenhar a função de auxiliar de serviços gerais:
– Sei que não é o cargo dos meus sonhos. Mas, para começar, está ótimo. A ideia é começar de algum lugar e depois ir organizando as outras questões.
Aline tem experiência como cuidadora de idosos e pretende, futuramente, voltar a trabalhar na área.
Produção: Kênia Fialho