Mobilidade urbana
Passageiros reclamam de falta de ônibus em Porto Alegre e prefeitura promete ampliar horários
Média de viagens corresponde a 53% dos horários que eram feitos em 2019, antes da pandemia
A baixa quantidade de ônibus disponíveis, os atrasos e a falta de horários continuam incomodando os passageiros que usam o transporte público de Porto Alegre. O problema é recorrente nos últimos anos, mas se tornou ainda maior na pandemia. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (ETPC) alega que vem aumentando a oferta de horários, mas reconhece que precisa ampliar mais.
A babá e cuidadora Polaca Rocha, 56 anos, estuda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela utiliza a linha D43 todos as noites para ir até o Campus do Vale, quase em Viamão. Segundo Polaca, os ônibus passam superlotados e com intervalos de 50 minutos entre os veículos.
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— O pior de tudo é a volta, porque o último carro sai da UFRGS às 20h40min, mas a minha aula termina às 22h30. Então eu tenho que sair da aula duas horas antes, senão não tenho como chegar em casa — conta a estudante de Serviço Social.
Questionada sobre a situação, a EPTC afirma que, após a última viagem do D43, os estudantes da UFRGS ainda podem utilizar a linha 353-Ipiranga/PUC/UFRGS, que faz itinerário semelhante. "A necessidade de uma linha direta está em análise em razão da criação da faixa exclusiva", afirma a empresa.
Volta às aulas e ampliação de horários
Com a volta às aulas presenciais em março, a EPTC aumentou a oferta de horários de ônibus. Em fevereiro, eram feitas 10.038 viagens por dia útil. Entre 1º e 15 de março, a média aumentou para 10.581. Ou seja: os passageiros passaram a ter 543 horários a mais à disposição na comparação com o mês anterior.
Apesar da ampliação da tabela horária, o número ainda está muito abaixo da média de viagens que eram realizadas em 2019. Na primeira quinzena de março daquele ano, foram feitas 19.677 viagens em dias úteis, em média. Isso significa que a oferta atual de horários corresponde a 53% do que era antes da pandemia, pouco mais que a metade.
— A nossa meta é atingir 70% das viagens que eram realizadas em 2019. Seriam 13,7 mil viagens. Isso até o final do ano — diz o secretário de Mobilidade da Capital, Adão de Castro.
O número de passageiros aumentou de 438,6 mil por dia, em fevereiro, para 520,3 mil por dia, na primeira quinzena de março deste ano. A elevação da demanda é explicada pela volta às aulas. No entanto, o número está bem abaixo do público transportado em março de 2019, quando 826,2 mil passageiros utilizavam ônibus diariamente.
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De acordo com Castro, o principal foco da EPTC nas próximas semanas é aumentar a circulação dos ônibus que atendem as escolas e faculdades. Uma das linhas que deve retornar em breve, conforme o secretário, é a 476-Petrópolis/PUC, que foi desativada em 2020.
Poucos ônibus de noite
Uma das principais preocupações de passageiros ouvidos por GZH é a baixa oferta de horários no final da noite e início da madrugada. Balconista de uma farmácia, Letícia de Oliveira mora no bairro Hípica, na Zona Sul, e conta que o marido, Leandro, precisa sair do trabalho 10 minutos antes do final do expediente para pegar o último ônibus da linha Restinga Nova via Tristeza. Quando tudo acontece conforme o planejado, ele chega em casa até as 23h45min, Mas, se perder o coletivo, Leandro só chega à 0h30min.
— Se tudo voltou ao normal, se já liberaram as máscaras, por que não voltam os horários normais dos ônibus? Tem linhas que nem estão trabalhando mais — reclama.
A EPTC diz que a ampliação de horários é pontual e deve ocorrer de acordo com a demanda de passageiros e os custos do transporte. Conforme Castro, o sistema foi "otimizado" desde o início da pandemia, com a redução ou até suspensão de linhas que operavam com poucos passageiros e davam prejuízo. Agora, a prefeitura estuda reativar as linhas e reforçar os horários da noite.
— Queremos ter uma solução para ampliar esse atendimento à noite em curto espaço de tempo. A gente precisa colocar de volta essas linhas, mas o passageiro precisa retornar — afirma o secretário.
Linhas unificadas
Outra reclamação comum entre passageiros do transporte coletivo de Porto Alegre é sobre as linhas unificadas durante a pandemia e ainda não foram desmembradas. É o caso da 171.6-Ponta Grossa/Serraria. O passageiro Cezar Lenuzza conta que tem aula no Centro Histórico até as 22h. O problema é que o último ônibus da linha parte do centro às 20h50min.
— Como o retorno às aulas foi na semana passada, todos foram pegos de surpresa tendo que utilizar aplicativos, carona. Com certeza, muitos terão que cancelar ou evadir de seus cursos se nada for feito — afirma.
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Em nota enviada a GZH pela assessoria de imprensa, a EPTC informa que a linha 171.6-Ponta Grossa/Serraria é unificada até as 20h. A partir desse horário, a linha é desmembrada em duas, que operam até a 1h.
— Essas unificações de linha são prejudiciais para o usuário porque a viagem fica mais comprida e o tempo de permanência no ônibus fica maior — admite Castro.
Nove linhas ainda não voltaram a circular
Apesar da retomada gradual das atividades econômicas, pelo menos nove linhas que operavam em dias úteis em 2019 ainda não voltaram a circular. Mesmo assim, a EPTC garante que todas as regiões do município são atendidas pelas 234 linhas que estão em operação atualmente.
A exceção é a linha 605-São Pedro, que foi desativada definitivamente e não irá retornar. Segundo a empresa pública, o itinerário é atendido por outras linhas. O motivo da desativação é a pouca quantidade de passageiros. A EPTC afirma que analisa a demanda de usuários para retomar as viagens.
Confira a lista das linhas que ainda estão desativadas:
Em dias úteis: 476, 653, A09, A11, A16, A17, A18, A288 e A85.
Aos sábados: 476, 653, A09, A11, A16, A17, A18, A288 e A85, 349, 492 e 2701.
Aos domingos: 6372, 650, 654, 272, 2543, 2533, 2572, 2573, 429, 433, 436, 4382, 473, 525 e 671.