Polícia



Mapa das mortes

Número de homicídios cresce 5,6% no primeiro semestre na Região Metropolitana

Levantamento do DG registra 767 assassinatos, 41 a mais que no mesmo período de 2014

08/07/2015 - 07h08min

Atualizada em: 08/07/2015 - 07h08min


Carlos Macedo / Agencia RBS

Cenário de mais de um terço dos homicídios da Região Metropolitana, Porto Alegre é a principal responsável por puxar para cima o número desse tipo de crime no primeiro semestre. Em comparação com o mesmo período de 2014 - que foi recorde em número de assassinatos -, houve aumento de 5,6% nos casos.

Conforme levantamento do Diário Gaúcho nas 19 principais cidades da região, foram 767 pessoas assassinadas nos primeiros seis meses do ano, contra 726 do ano passado. Uma assustadora média de 128 mortos a cada mês. Na Capital, a estatística pulou de 251 para 287, um crescimento de 14,3%.

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Desde 2011, quando o DG começou a fazer o levantamento, este foi o primeiro semestre mais violento. E com o maior predomínio de crimes relacionados ao tráfico de drogas ou ao acerto de contas entre criminosos.

Restou o trauma da família

Ainda está marcada na memória de Cláudia Machado, 59 anos, a imagem do bisneto, de apenas três anos, gritando desesperadamente ao entrar na casa dela, no fundo de um dos becos da Vila São Borja, Bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre:

- Eu quero o meu vô, quero o meu vô... foi pumpum na cabeça dele, vó.

Foi assim que Cláudia soube do assassinato do filho, Luiz Fernando Machado Linhares, 42 anos, no final da tarde de 26 de fevereiro, diante de duas filhas - de 12 e 13 anos - e do neto (veja o vídeo). O crime foi filmado pela câmera de vigilância de uma empresa na Avenida Francisco Silveira Bitencourt, a poucos metros da casa da família.

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Depois da tragédia, as crianças foram embora da Capital para morar com a companheira de Luiz Fernando. E, até hoje, o menino é visto "conversando" com o avô.

- Eles tinham saído para comprar mochila para as gurias e aconteceu isso. Eu não consigo entender o motivo, porque o Fernando era querido por todo mundo aqui na vila. Sempre foi trabalhador - lembra a mãe.

Luiz Fernando era eletricista e também trabalhava como vigia em prédios. Acabou se tornando o efeito colateral de uma vingança entre criminosos da vila que é considerada um dos epicentros do aumento de homicídios no primeiro semestre de 2015 na Região Metropolitana.

De acordo com o levantamento do DG, pelo menos 25 pessoas já foram assassinadas no Bairro Sarandi este ano - mais do que o dobro do mesmo período do ano passado. Se for considerada a vizinhança da Vila São Borja, já no Bairro Rubem Berta, entre as vilas próximas do Porto Seco, esse número dobra. Neste ano, pelo menos quatro lideranças locais do tráfico entre esses dois bairros foram executadas.

- Não há necessariamente disputas pelo controle do tráfico, mas são mortes decorrentes de diferenças criadas, em sua maior parte, pela droga ou por desacertos internos entre criminosos - explica o delegado João Paulo Abreu, da 3ª DHPP.

O caso que vitimou Luiz Fernando comprova isso. O suspeito do crime é Fabiano Siqueira Battirola, o Fábio Alemão, preso preventivamente desde abril. Ele já foi indiciado por nove homicídios e tentativas em sequência desde o fim do ano passado. Todos como vingança pela execução da sua mãe.

Segundo o inquérito policial, Luiz Fernando não teve qualquer relação com a morte de Noemi Siqueira, em novembro passado: foi morto simplesmente por ser amigo dos suspeitos do crime.

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Os reflexos de uma guerra cotidiana

Uma execução ousada em plena beira-mar, em Tramandaí, no Litoral Norte, no feriado de Réveillon, pode ter dado a tônica do que aconteceria entre as quadrilhas de tráfico em Porto Alegre. Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, considerado um dos principais traficantes da Capital, foi o alvo. A morte mexeu com as relações do crime.

Nos seis meses que se seguiram, aumentaram os crimes com motivação de tráfico ou acerto de contas. Essa é a causa de pelo menos 67% dos crimes nesse período. Na Capital, uma estatística que sobe para 75%, segundo contagem do DG. No mesmo período de 2014, os acertos correspondiam a 64% dos homicídios.

- É possível se atribuir, sim, à morte desse traficante um acirramento nas relações entre quadrilhas. Há um predomínio de homicídios com características de execuções e uma certa migração para áreas que, se imaginava, poderiam concentrar inimigos dele - acredita o diretor do Departamento de Homicídios da Capital, delegado Paulo Grillo.

Foram os números de Porto Alegre, com um aumento superior a 14% nos assassinatos em relação ao ano passado, que puxaram a estatística da Região Metropolitana para cima. Os dias que se seguiram à morte de Xandi são avaliados pelas autoridades como decisivos para esse aumento. Tanto é que o mês de janeiro terminou com 155 assassinatos em toda a região - 68 deles na Capital. Desde 2011, quando o Diário Gaúcho passou a fazer o levantamento de homicídios, jamais houve uma arrancada de ano tão violenta.

Em maio, Cristiano Souza da Fonseca, o Teréu, considerado o principal suspeito por ter ordenado a morte de Xandi, foi executado dentro da Pasc. Coincidência ou não, junho fechou com cem homicídios na região - 34 em Porto Alegre. O menor índice mensal deste ano.

*Diário Gaúcho


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