Notícias



Seu Problema é Nosso

Idosa que depende de fornecimento de remédios via poder público não consegue retirá-los

Moradora de Viamão, Eloá  Wolfat Victoria, 76 anos, necessita de mais de 10 medicamentos que são retirados na rede pública

14/04/2020 - 12h21min


Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Em função de problemas de saúde, Eloá não deve se expor em atendimentos de urgência

Conforme o Estatuto do Idoso, é obrigação do poder público “fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado”. Contudo, a pensionista Eloá Wolfat Victoria, 76 anos, enfrenta, esporadicamente, a ausência desse direito. Pela recorrência na falta dos remédios, Eloá teve sua situação contada pelo Diário Gaúcho quatro vezes nos últimos cinco anos: uma vez em 2016, uma em 2017 e duas vezes em 2018

Há cerca de 15 anos, a idosa convive com problemas cardíacos e respiratórios e, por isso, necessita de mais de 10 medicamentos que são retirados na rede pública de Saúde, em Viamão – cidade onde reside. Todos os meses, a segurança Sandra Guedes César, 53 anos, filha de Eloá, busca os  medicamentos com a receita médica prescrita. Porém, no dia 1º deste mês, última ida às duas farmácias – Farmácia de Medicamentos Especializados e uma conveniada –, Sandra voltou para a casa da mãe com apenas um dos remédios, a insulina. 

LEIA MAIS  
Caso resolvido: cratera na calçada no bairro Auxiliadora recebe conserto
Em desenhos, crianças transmitem mensagens de esperança
Alunos e professores da UFRGS formam núcleo de solidariedade para apoiar comunidades

Segundo a segurança, os medicamentos especializados que não foram retirados são o ticlopidina 250mg, para tratamento da cardiopatia isquêmica, o brometo de tiotrópio 25mcg e o fumarato de formoterol/budesonida 400mcg, ambos para a asma crônica. A surpresa de Sandra é que os medicamentos mais comuns, como losartana 50mg, omeprazol 20mg e furosemida 40mg, entre outros, também estavam em falta. 

– Na farmácia, não me passaram nenhuma explicação ou previsão de quando chegarão os remédios da minha mãe. O problema é que não era somente eu que estava saindo de mãos vazias de lá (farmácia), outras pessoas saiam sem medicamentos. Só o ticlopidina está em falta há cerca de seis meses – conta Sandra. 

Doações

Sem os medicamentos, a preocupação com a saúde de Eloá aumenta. Outro agravante da situação é a tensão causada pela pandemia de coronavírus. Segundo Sandra, quando o quadro da mãe piora, a solução é ir ao hospital para que ela seja medicada e faça uso do oxigênio:

– Só que ela não pode colocar o nariz para fora de casa por causa desse vírus. Minha mãe é do grupo de risco e, se for contaminada, não resiste. Se consta na receita que o tratamento é contínuo, por que deixam faltar? 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Fica clara a necessidade de uso contínuo

Com a falha no fornecimento, Eloá depende de doações e ajuda de familiares e amigos. Sandra conta que, às vezes, organiza vaquinha ou rifa para a arrecadação dos valores destinados à compra. Além disso, a filha destaca que tem obtido contribuições por meio das redes sociais, principalmente em relação aos remédios  mais comuns. 

– Tem uns que não são caros, mas, por exemplo, o tiotrópio pode custar em torno de R$ 400. Dois ou três medicamentos, a gente compra. Mas a somatória de todos é inacessível para nós – lamenta a filha. 

Conforme Sandra, Eloá teve acesso a esse medicamento por via judicial e, em função disso, esperava que não fosse faltar novamente, pois o uso é contínuo. A indisponibilidade do produto ocorreu apenas na última retirada. Diferentemente do ticlopidina, em falta há seis meses, e do fumarato de formoterol/budesonida, há dois meses.

– Sempre está em falta. Nunca consigo pegar todos – afirma a segurança.

Reabastecimento nesta semana

Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) respondeu sobre os produtos retirados na Farmácia de Medicamentos Especializados. Conforme a SES, a paciente está com atendimento regular para o medicamento tiotrópio – demandado judicialmente, não padronizado no SUS –, cuja última retirada foi em março de 2020. Já o fumarato de formoterol/budesonida, padronizado pelo SUS, teve a última retirada em fevereiro de 2020. De acordo com a SES, “ambos os medicamentos tiveram compra finalizada em março”, e a previsão é de que o município seja reabastecido ainda nesta semana.

Sobre o ticlopidina, que segundo Sandra é o que tem maior tempo em falta, a SES confirma a ausência do medicamento, mas não afirmou desde quando. A SES explica que “tem licitação concluída e o fornecedor já recebeu o pedido para efetuar entrega, porém ainda não confirmou a data”.

Demais remédios

A Secretaria de Saúde de Viamão foi questionada sobre os remédios que Sandra não conseguiu retirar na farmácia municipal, entre eles, losartana 50mg, omeprazol 20mg e furosemida 40mg e outros. No entanto, não respondeu até o fechamento desta edição. 

Produção: Caroline Tidra

Leia outras notícias da seção Seu Problema é Nosso   



MAIS SOBRE

Últimas Notícias