Seu Problema é Nosso
Moradores e veranistas pedem soluções para o Litoral Norte
Buracos em ruas, obras inacabadas e falta de saneamento básico planejado são alguns dos transtornos enfrentados
Com a proximidade do verão, muitos gaúchos recorrem às águas refrescantes do litoral para afastar o calor e aproveitar a estação. No entanto, moradores de cidades litorâneas do Rio Grande do Sul alertam para problemas que se fazem presentes durante todos os meses do ano.
Para entender essas demandas, o Diário Gaúcho visitou as praias de Magistério, Balneário Pinhal e Quintão, após receber pedidos de ajuda de leitores. Entre as principais questões estão ruas esburacadas, falta de saneamento básico planejado, abandono de animais e obras inacabadas.
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Veranista de Quintão há 21 anos, a dona de casa Vaneska Janaina Gouvea Leite, 46 anos, se mudou para cidade no início da pandemia, em 2020. Segundo ela, foi a partir desse momento que passou a observar as necessidades do local, distrito de Palmares do Sul. A situação das ruas de Quintão já foi tema de reportagens do Diário Gaúcho em 2013 e em setembro deste ano. Uma das principais reivindicações da moradora é o fechamento de buracos na Avenida Esparta, principal via da cidade, e em ruas transversais:
– Quintão aumentou por causa da pandemia. As pessoas vieram pra ficar. As ruas não estão preparadas.
Além da preocupação com os prejuízos causados nos veículos em decorrência dos buracos, Vaneska ressalta os riscos no acesso. Na Rua Padre Réus, onde mora, ela conta que, no ano passado, uma vizinha passou mal e precisou de atendimento médico. O Samu, porém, teve dificuldades para sair do local com a idosa:
– Como foi durante o inverno, na temporada de chuva, a ambulância quase atolou.
A moradora, que já fez pedidos de manutenção à prefeitura, alega que as ações que vê são apenas paliativas. Segundo ela, quando chove forte, se há a necessidade de se sair de casa para realizar alguma compra, tudo precisa ser feito a pé, já que os carros tendem a atolar:
– Quando o povo está muito indignado eles passam a máquina. Daí vem a chuva, e essa terra que a prefeitura colocou, a água leva toda embora. E os buracos voltam.
Durante a reportagem, a equipe do Diário Gaúcho pode observar que as crateras estavam por toda a parte, inclusive em frente ao posto da Brigada Militar.
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“A desassistência é muito frustrante”
A pensionista Adelacir Fraga Macedo, 70 anos, de Canoas, tem casa em Quintão há 25 anos. De acordo com a veranista, um dos principais motivos de não ter se tornado uma moradora da cidade foram as condições das ruas. A casa da família foi comprada pela sogra, mas é utilizada apenas no verão.
Há cerca de três anos, após aguardar uma solução da prefeitura, os moradores da Rua República, onde Adelacir tem casa, se uniram para comprar saibro e contrataram uma empresa para colocá-lo. Segundo a pensionista, essa ação foi essencial para que o trecho da rua onde mora ficasse transitável:
– Quando chovia, não tinha como entrar de carro. Um vizinho procurou a prefeitura representando os moradores e não teve qualquer retorno. Então, fizemos e deu certo.
Durante o ano de 2020, uma das filhas de Adelacir tentou morar na cidade. Mas, de acordo com a veranista, ela também não aguentou os custos no automóvel causados pelos buracos.
– A desassistência é muito frustrante. O carro atolava todos os dias, terminou com ele. Não tinha condições – diz.
Prefeitura promete reparos
Em nota, o prefeito de Palmares do Sul, Mauricio Muniz, afirmou que as ruas Padre Réus e República estão recebendo limpeza e arrumações, assim como as demais, conforme cronograma da Secretaria de Obras, Viação e Serviços Urbanos. Diz o texto: “São 101 ruas transversais somente neste distrito, mais a sede e outros cinco distritos. Eventualmente ocorre de não conseguirmos ser mais ágeis em função da grande quantidade de ruas e da demanda constante”.
Além das ações desenvolvidas pela pasta, a prefeitura afirma que uma empresa terceirizada reforçará o trabalho. “Estamos agora contratando, novamente, a empresa que realiza a limpeza das ruas em geral para início de novembro”.
Sobre a Avenida Esparta, o prefeito afirma que a Câmara de Vereadores já aprovou o projeto que autoriza a contratação de crédito junto ao Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa): “Nos próximos 15 dias, será lançado um edital de licitação para contratação da empresa que irá fazer os trabalhos. Serão refeitos os pontos mais críticos de asfaltamento desta via, que há muitos anos não recebe este tipo de manutenção. O prazo de início depende da finalização do processo licitatório”.
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Avenida inacabada em Balneário Pinhal
O consultor industrial Luís Antônio Garcia, 60 anos, de Novo Hamburgo, tem casa em Balneário Pinhal há 10 anos, e há pelo menos três solicita à prefeitura melhorias na Avenida Pampa, uma das vias que dá acesso à praia. Segundo ele, em 2018, moradores, veranistas e outras pessoas que utilizam a avenida pediram providências por meio de um abaixo-assinado, que contava com cerca de 200 assinaturas. Os participantes reivindicavam construção de passeio para pedestres, substituição de tubulações no canal de drenagem e continuidade da pavimentação da pista. Mas, segundo o veranista, nenhuma das solicitações foi atendida. A situação da avenida foi tema de reportagens no DG em 2019 e 2020. Segundo ele, a motivação para mobilizar a vizinhança a assinar o documento era o fato de que algumas pessoas tinham dificuldades para chegar à praia.
– O pessoal vem para o litoral para chegar até a beira da praia, não pra ficar olhando o mar de longe – revolta-se.
Luís afirma sentir falta de um plantão na prefeitura, que funcione nos finais de semana e feriados:
– Pagamos IPTU e gostaríamos de ter retorno. Se tem algo errado, precisamos esperar chegar a segunda-feira para poder fazer uma reclamação.
Outra situação apresentada por Luís são os alagamentos que ocorrem em dias de chuva intensa. Segundo ele, mais de uma vez, foi possível ver a Avenida Pampa se transformar em uma espécie de “rio”, impossibilitando a saída das casas e causando transtornos aos motoristas.
Falta de vazão
A preocupação é compartilhada pela aposentada Denise de Carvalho, 62 anos, moradora de Balneário Pinhal há quatro anos. Segundo ela, um dos pontos críticos quando chove é a esquina das avenidas Itália e Pampa, pois não há vazão da água. Além de uma intervenção do poder público, Denise acredita ser necessário que a população faça o descarte correto de resíduos domésticos:
– A quantidade de sacos de lixo dentro do córrego é enorme. Não dá para aceitar.
A dona de casa Maria Laire Gonçalves Coelho, 59 anos, moradora da região há três anos, conta que decidiu se mudar para a cidade porque sempre gostou de lá veranear. No entanto, observa algumas demandas que não têm tido a atenção da gestão municipal. Uma delas é não haver esgotamento pluvial planejado. Essa seria uma das causas de alagamentos em dias de chuva.
– Em ruas fora do centro é ainda pior. Tem épocas em que a água entra nas casas. Outra questão preocupante é o grande número de cachorros abandonados pela cidade – pontua a moradora.
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Em Magistério, moradora pede saneamento básico
Após um ano convivendo com alagamentos em períodos de chuva, gastos com drenagem e pedidos de manutenção feitos à prefeitura e nunca atendidos, a professora aposentada Martha Fernanda Huffel Campos, 59 anos, recorreu às redes sociais para reclamar da situação. Ela é moradora da Rua Farroupilha, em Magistério, um dos balneários que compõem a orla marítima do município de Balneário Pinhal. Segundo ela, a falta de saneamento básico faz com que água se acumule nas ruas e fique empoçada ao longo de toda a extensão da quadra B. Entre os temores de Martha com o caso, está a propagação de doenças, como a dengue.
– Entre as quadras B e C, tem apenas uma boca de lobo, sem cano – detalha.
Quando a situação estava mais crítica, ela chamou um integrante da equipe da Secretaria de Obras. O funcionário, segundo a moradora, ficou impressionado ao visitar o local. No entanto, nada além de limpeza e capina foi realizado:
– Informaram aos moradores que uma empresa terceirizada viria falar conosco sobre o saneamento básico, mas, até agora, nada.
Desde o início de 2020, Martha conta que precisou fazer drenagem para que a água não invadisse a sua casa. Segundo ela, em dias de chuva, não consegue sair da residência.
Empréstimo de R$ 6 milhões para revitalização da orla
Em nota, a prefeitura de Balneário Pinhal informou que o município está contratando um empréstimo no valor de R$ 6 milhões, que serão investidos na revitalização da Orla de Magistério, Lagoa da Rondinha e Avenida Pampa, dentre outras ruas. “A autorização para a prefeitura contratar o empréstimo da Caixa Econômica já foi dada pela Câmara de Vereadores, no fim do mês de setembro. Em breve, o valor contratado estará à disposição”, afirma o texto.
Além disso, assegura que os projetos já foram feitos. Para a Avenida Pampa, está prevista a pavimentação com bloquetes. Sobre o número de animais abandonados, a prefeitura informou que foi criado um Centro de Zoonoses que também realiza castração e chipagem de animais: “Por mês são disponibilizadas 20 castrações. Além disso, a prefeitura tem incentivado a adoção destes animais e pretende ampliar o número de castrações. Também estamos trabalhando em campanhas de conscientização para que as pessoas não abandonem seus pets”.
Por fim, em relação aos problemas da Rua Farroupilha, em Magistério, a prefeitura de Balneário Pinhal, por meio da Secretaria de Obras, afirmou que “estará, nos próximos dias, realizando a manutenção da via” e alega que esse serviço tem sido feito com regularidade, “não somente nesta via, mas em todas as ruas do município”.
Produção: Kênia Fialho