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Seu Problema é Nosso

Leitores do DG contam seus sonhos para 2022

Entre os desejos estão investir na saúde, conseguir um trabalho e adquirir  moradia própria

31/12/2021 - 07h50min

Atualizada em: 08/12/2022 - 17h18min


Félix Zucco / Agencia RBS
Vontade de voltar a mastigar sólidos sem sentir dor

Os últimos dias do ano costumam ser aqueles momentos em que se reflete sobre tudo o que passou. Também é a fase em que se realiza um balanço sobre atitudes que devem ser abandonadas ou valorizadas no ano que está por vir. Esses desejos de transformações servem também como motivação para se buscar uma vida melhor, em diferentes aspectos. 

O Diário Gaúcho conversou com três pessoas que estão nesse lugar, de busca da realização de sonhos transformadores de vidas em 2022: uma quer investir na sua saúde, outra deseja conseguir um trabalho e a terceira, adquirir sua própria moradia. 

Em época de resoluções, desejos e criações de metas, a reportagem também terá um desafio: acompanhar as etapas trilhadas por estes leitores para que seus sonhos se concretizem durante o ano de 2022.

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Aline vai em busca de trabalho

Marco Favero / Agencia RBS
Desempregada desde outubro, Aline quer terminar os estudos e atuar na área da saúde

Desde o início da pandemia, muitos brasileiros tiveram que lidar com o desemprego. No segundo trimestre de 2019, período pré-pandemia, a taxa de desocupação no Rio Grande do Sul era de 8,2%. Já no segundo trimestre de 2020, foi de 10,5% , como cita a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo. Este ano, considerando dados do terceiro trimestre, a taxa foi de 8,4%, próxima do período pré-pandemia. E, apesar de representar um momento de retomada da economia, este ano ainda foi desafiador para pessoas como Aline dos Santos Veiga, 31 anos. 

Moradora do bairro Esmeralda, em Viamão, ela perdeu o emprego em outubro. Durante muitos anos, cuidou da tia-avó, que sofria de Alzheimer, a quem considerava uma mãe. Em janeiro, após a morte da idosa, se viu sem renda. Foi quando começou a procurar emprego como cuidadora de idosos, por conta da experiência que adquiriu com a tia-avó.

– Por três meses, cuidei de uma senhora. Mas, em outubro, ela também faleceu e, desde então, eu procuro emprego – conta Aline. 

Mesmo com as duas experiências e interesse em seguir trabalhando na área da saúde, Aline explica que, hoje, já está  procurando vaga também em outras funções, como atendente de caixa, repositora ou algum outro serviço que possibilite que ela cuide dos três filhos, de três, nove e 12 anos. Por ser mãe solo, destaca que é importante que o emprego permita que ela possa conviver com as crianças – o que pode ser mais difícil.

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Atualmente, para tomar conta dos filhos, Aline recebe apoio financeiro da família, que proporciona o mínimo para que não passem necessidades. O pai e o irmão dela são quem mais ajuda. Além disso, uma vez por mês, ela recebe kits com alimentos não perecíveis doados pela escola que os meninos frequentam. Aline não tem contato com o pai das crianças e, por isso, não recebe apoio financeiro dele. 

– Graças a Deus, tem outros conhecidos que me ajudam como podem, até eu conseguir serviço de novo – explica a moradora de Viamão.

Futuro

Apesar de estar constantemente enviando currículos e indo até o Sine de sua cidade, Aline conta que tem enfrentado dificuldades para conseguir uma vaga. Uma das razões, acredita, pode ser por não ter desempenhado tantas funções ao longo de sua trajetória profissional: 

– Como cuidei da “mãe” por muito tempo, eu não tinha como trabalhar fora. 

No entanto, uma das fontes de renda de Aline hoje existe graças a um curso de qualificação que fez aos 15 anos, na área da costura. Ela realiza o reparo básico de roupas que aprendeu durante a formação.

– Claro que, se a gente não pratica, muita coisa esquece. Eu faço reparos simples de roupas, costura de botões, bainha em calças – detalha. 

Para 2022, Aline tem algumas metas profissionais: a primeira é conseguir um emprego que possibilite que ela volte a cuidar dos filhos da maneira como gosta. Ela conta que deseja proporcionar o mínimo de alegria aos meninos, levando-os para passear, por exemplo. A segunda meta é concluir o Ensino Médio. Ela diz que acabou desistindo dos estudos quando estava no primeiro ano. Além disso, sonha em começar um curso técnico de Enfermagem, profissão que passou a admirar durante o período em que cuidou da tia-avó.

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“O currículo é a vida que levamos”, diz recrutadora

De acordo com a coordenadora do curso de Recursos Humanos da Faculdade Senac Porto Alegre e treinadora de lideranças, Nereida Vianna, existem algumas etapas que devem ser seguidas para facilitar o retorno ao mercado de trabalho. 

Primeiramente, a pessoa precisa identificar as atividades por ela exercidas no dia a dia que se encaixam no seu perfil profissional. Para isso, pode se perguntar: que atividades eu exerço bem? No que eu me destaco? O que me faz feliz enquanto profissional?

Em seguida, deve-se encontrar maneiras de aperfeiçoar essas habilidades. Para isso, a internet é uma ótima ferramenta: dispõe de conteúdos gratuitos para buscar qualificação.

– Assistir aulas online, ler sobre essas habilidades, conhecer pessoas que trabalham com isso, buscar boas referências são essenciais para melhorar atividades em que a pessoa já é boa – explica Nereida.

A terceira etapa é observar oportunidades e saber onde procurá-las. Para isso, é importante entender onde está a procura pela área profissional que se busca e fazer contato com esses locais por e-mail, WhatsApp ou de forma presencial. 

Para pessoas que, como Aline, não têm tantos registros profissionais no currículo, Nereida explica que é importante observar o tipo de trabalho que está sendo procurado. Algumas áreas não exigem uma formação específica, e outras, sim. Além disso, as boas referências podem ser tão importantes quanto os registros. Se a pessoa tiver empregadores que possam elogiar seu trabalho, isso torna-se um bom argumento nas entrevistas. Aí, vale tanto o depoimento de um antigo empregador quanto o de professores de cursos de qualificação que tenha feito. 

– O nosso currículo é a vida que levamos. Tudo que fazemos influencia no profissional que somos. Posso não ter registros, mas tenho pessoas que receberam meu trabalho e isso é muito interessante. Se puder pegar os depoimentos de quem trabalhou com você, é possível levar essas falas como provas tangíveis – fala a coordenadora.

CONFIRA DICAS 

/// Identificar quais são as atividades que se encaixam no seu perfil profissional. 

/// Procurar conteúdos que possibilitem o aperfeiçoamento dessas atividades.

/// Localizar oportunidades de colocar essas atividades em prática.

/// Reunir depoimentos de pessoas que já trabalharam com você ou que já foram seus empregadores.

Fonte: Nereida Vianna, coordenadora do curso de Recursos Humanos da Faculdade Senac Porto Alegre e treinadora de lideranças

Produção: Kênia Fialho

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Delene quer a casa própria

Félix Zucco / Agencia RBS
Local onde Delene mora hoje é improvisado

O principal objetivo que a moradora de Porto Alegre Delene Cosconetto, 42 anos, tem para 2022 é a  conquista de sua casa própria. Graduada em Letras, por 12 anos ela trabalhou na biblioteca da universidade em que se formou. Porém, devido a problemas de saúde, há três anos precisou se afastar do emprego. Algo de que ela nunca abriu mão, mesmo diante das dificuldades pessoais, foi atuar como voluntária em ações e projetos sociais. Ao longo dos anos de dedicação ao outro, construiu uma rede de amigos que, agora, é fundamental para a realização do seu sonho.  

Alguns problemas de saúde de Delene vêm da primeira infância. Ela conta que nasceu prematura, aos seis meses e meio de gestação. Em razão disso, teve uma má formação nos pés e problemas de visão. Na época, recebeu cuidados médicos em uma instituição beneficente, o Educandário São João Batista, que realiza um serviço de reabilitação de crianças e jovens com deficiência. Após duas cirurgias, e sendo acompanhada pelos profissionais do local, conseguiu andar, mas seguiu com dificuldades de locomoção. 

Com o tempo, outros problemas de saúde foram surgindo, como o diagnóstico de lúpus, uma doença que faz com que o sistema imunológico ataque outras células de seu corpo. Este foi o motivo que a fez afastar-se do trabalho. Hoje, ela tenta se aposentar por invalidez.  

– Não tenho condições de trabalhar. Sigo vinculada à universidade, mas estou afastada – comenta, ao falar que, sem uma renda fixa, o que a mantém é a ajuda que recebe de familiares e, principalmente, de amigos.  

Hoje, ela mora provisoriamente em um local que não é seu, no bairro Santa Teresa, em Porto Alegre. Mas a residência está à venda, e ela precisa sair de lá. É por isso que tem buscado apoio para adquirir o seu imóvel. 

Foi a gratidão que tem pelo educandário que fez com que Delene, já adulta, passasse a atuar como voluntária. Há sete anos, começou a recolher tampinhas plásticas e doar para a instituição, que vende o material e arrecada verbas para se manter.  

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Amizades 

– Eles me trataram, me ajudaram a caminhar. Quando eu entrei lá, os médicos diziam que a chance de eu andar era nula. É uma dívida que tenho com eles – comenta, ao explicar o motivo de atuar nas ações sociais. 

Depois disso, foi conhecendo outras pessoas e grupos de voluntariado e intensificou suas práticas. A principal é ajudar na arrecadação das mais variadas doações que são entregues para crianças. 

Por conhecer sua história, o bancário Fernando Rodrigues, 34 anos, decidiu ajudá-la. Eles são amigos há mais de 20 anos. Antes do lançamento de uma  vaquinha para ajudar a arrecadar o valor que Delene precisa, durante três meses ele pagou um quarto em uma pousada para ela, quando não tinha onde ficar. O amigo fala que, é por sempre ter acompanhado o trabalho social que ela realiza e conhecer sua condição financeira que tenta apoiá-la.  

– O que eu não quero permitir é que uma pessoa tão perto de mim passe por necessidades, ainda mais sendo tão querida e que está sempre fazendo o bem para os outros. Por isso, ela precisa ter a segurança de conseguir uma moradia – complementa.

Delene chegou a comprar um terreno, mas ele fica em uma área não regularizada. Devido às suas limitações de saúde, não pode morar lá. Chegou a receber a orientação de um médico de que precisa ficar em local com mais acessibilidade, que lhe permitisse melhor qualidade de vida. Assim surgiu a ideia da vaquinha, em maio deste ano, que busca R$ 40 mil como parte do valor necessário para que ela possa, enfim, realizar este grande sonho.

COMO AJUDAR

/// Dalene pretende arrecadar R$ 40 mil para ajudá-la a adquirir sua casa própria. É possível apoiá-la doando na vaquinha online que está disponível no link vakinha.com.br/2076390.

Produção: Émerson Santos

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Gerson deseja voltar a sorrir

Félix Zucco / Agencia RBS
Gerson conseguiu recomeçar

Dizem que um sorriso bonito é um dos principais cartões de visita de alguém. Entretanto, para muitos, realizar um tratamento dentário e voltar a sorrir, sentindo-se bem, é um realidade distante. Ainda assim, o auxiliar de produção Gerson Fabiano Pacheco, 43 anos, não desiste de tentar. 

Ele perdeu os dentes em função do uso de drogas. A dependência se apresentou após graves problemas familiares, com os quais não conseguiu lidar. Em 2007, Gerson tornou-se usuário de crack e passou a viver nas ruas. Após o falecimento de sua mãe, o morador de Cachoeirinha perdeu o contato com seus dois filhos que, na época, eram crianças:

– Foi neste ano que conheci o mundo das drogas e o mundo das ruas. Foi o ano da decadência. Minha filha, que tinha quatro anos, e meu pequeno, com três meses, foram para a adoção.

Em 2013, Gerson notou que precisava sair do mundo das drogas e buscou ajuda em uma clínica de reabilitação. Além disso, procurou ajudar a esposa, Luciana Machado, 44 anos, que também era dependente química.

 – Saí das ruas em 2013, e a parte mais difícil foi ter que deixar minha esposa lá. Mas prometi, em 2009, que íamos sair dessa vida. Tive que tomar uma atitude e, assim que melhorei, tirei ela de lá. Não é fácil sair do crack – admite.

 Tratamento

Devido ao uso da droga, o auxiliar de produção explica que, com o passar do tempo, seus dentes começaram a ficar danificados:

– Quando eu pegava o crack, carregava na boca, e a química dele deve ser muito corrosiva, porque todos os meus dentes se estragaram. Fora também o alcoolismo, durante seis anos.

Gerson tem muita dificuldade para mastigar. Uma das alternativas é se alimentar com sopas e alimentos pastosos:

– Comer alimentos sólidos é bem difícil. Não consigo mastigar pão, carne, maçã ou bolacha por causa da pouca quantidade de dentes que tenho. Fora a dor que sinto.

 Em 2016, Gerson conta que buscou tratamento no posto de saúde perto de casa.

– Lá, disseram que fariam só a extração dos dentes que estavam ruins, mas o restante do procedimento teria que ser custeado por mim em alguma clínica particular, porque o SUS não cobria o tratamento de que preciso. Desanimei um pouco e não fui mais atrás – explica.

Apesar da informação que Gerson recebeu, o SUS fornece tratamento odontológico nos postos que possuem equipes de saúde bucal ou por meio dos hospitais odontológicos universitários.

Para realizar um procedimento odontológico pelo SUS, é necessário que o paciente vá à unidade básica de saúde que tenha equipe de saúde bucal. Em seguida, ele deve realizar o cadastro no posto e agendar a consulta, conforme a disponibilidade.

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 Recomeço

Gerson gosta de tocar violão, cultivar suas plantinhas em casa e estar ao lado de Luciana:

– Ela é minha melhor amiga. Ela só tem a mim e eu só tenho a ela. 

Hoje, uma das expectativas do auxiliar de produção é poder sorrir novamente e voltar a mastigar sem sentir dor:

– Com o tratamento dentário vou poder recomeçar minha vida. Além da minha saúde melhorar, terei de novo minha autoestima. 

Produção: Vitória Fagundes



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